"Quando o projeto começou, todos nós percebemos que ele precisava ser feito. Todos queriam colaborar." Dr. Richard Mayeux, da Universidade de Columbia, um dos coordenadores de um projeto para analisar o DNA de doentes de Alzheimer| Foto: Chang W. Lee/The New York

Os dois maiores estudos já realizados sobre o mal de Alzheimer levaram à descoberta de cinco genes que dão novas pistas intrigantes sobre por que a doença ataca e como se desenvolve. Pesquisadores dizem que os estudos, que analisaram os genes de mais de 50 mil pessoas nos Estados Unidos e Europa, deixam poucas dúvidas sobre o fato que os cinco genes tornam a doença mais provável na velhice e têm algo importante a revelar sobre seu processo. Eles também podem levar à descoberta de formas de retardar o ataque ou reduzir seu progresso.

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"O nível da evidência é muito, muito forte", disse o Dr. Michael Boehnke, professor de bioestatística da Universidade do Michigan e consultor externo da pesquisa. Os dois estudos foram publicados recentemente pelo periódico Nature Genetics.

Durante anos, havia pistas persistentes, mas não comprovadas, de que o colesterol e a inflamação faziam parte do processo da doença. Pessoas com colesterol alto têm maior probabilidade de ter o mal. Derrames e ferimentos na cabeça, que também aumentam a probabilidade do Alzheimer, também causam inflamação no cérebro. Agora, alguns dos genes recém-descobertos parecem reforçar essa linha de pensamento porque alguns deles estão envolvidos com o colesterol e outros estão ligados a inflamação ou ao transporte de moléculas dentro das células.

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As descobertas dobram o número de genes conhecidos por estarem envolvidos com o mal de Alzheimer de cinco para dez, dando aos cientistas novos caminhos a explorar. Um dos 155 autores do estudo, o Dr. Richard Mayeux, diretor de neurologia do Centro Mé­­dico da Universidade Columbia, afirmou que os achados "abririam o campo".

Um especialista que não participou dos estudos, o Dr. Nelson B. Freimer, que dirige o Centro de Genética Neurocomportamental da Universidade da Califórnia, campus de Los Angeles, disse que agora existem genes ligados à doença de forma inequívoca e que os pesquisadores poderiam alcançar um progresso real definindo sua biologia. "Foi um passo muito importante".

Estima-se que 5,4 milhões de americanos tenham o mal de Alzheimer, a maioria dos quais é idosa. Segundo a Associação de Alzheimer, uma em cada oito pessoas com mais de 65 anos têm o problema. Seu custo anual para a nação é de US$ 183 bilhões. Em si, os genes não são um fator tão importante quando o Apoe, gene descoberto em 1995 que aumenta bastante o risco da doença – 400% se a pessoa o herda de um dos pais e mil por cento se for dos dois. Em comparação, cada um dos novos genes aumenta o risco em não mais do que de 10% a 15%. Por esse motivo, não serão usados para decidir se a pessoa tem probabilidade de desenvolver a doença.

O Apoe, envolvido no metabolismo do colesterol, "está numa classe só dele", disse o Dr. Rudolph Tanzi, professor de neurologia da Escola de Medicina de Harvard e um dos autores de um dos estudos. Só que os pesquisadores dizem que mesmo um pequeno acréscimo no risco os ajuda a compreender a doença e a desenvolver novas terapias. E, da mesma forma que o Apoe, alguns dos genes recém-descobertos parecem estar envolvidos com o colesterol.

Dos dez genes que agora se sabem estar associados ao mal de Alzheimer na velhice, quatro foram identificados nos últimos anos e confirmados pelos novos estudos. O Apoe pode ter outros papéis na doença, talvez liberando o cérebro dos amiloides que se acumulam nas plaquetas, partículas com formato de craca (um tipo de crustáceo) que pontilham o cérebro de pacientes com Alzheimer e que são a única característica patológica da doença.

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Sabe-se que um dos primeiros sinais do mal de Alzheimer é o acúmulo de beta-amiloide, proteína que forma as plaquetas. E sabe-se que nos estágios avançados da doença, proteínas retorcidas e entrelaçadas – tau – aparecem em neurônios mortos ou moribundos. O que não se sabe é por que o beta-amiloide começa a se acumular, por que o cérebro das pessoas com Alzheimer não consegue se livrar do seu excesso ou qual é a ligação entre amiloide e tau.

Um dos novos estudos, feito por investigadores americanos, analisou os genes de 54 mil pessoas, algumas com Alzheimer e outras da mesma idade sem o mal. Eles encontraram quatro genes novos. O segundo estudo, levado a cabo por pesquisadores na Grã-Breta­nha, França e outros países europeus, teve contribuições dos Esta­dos Unidos. Eles confirmaram os genes encontrados pelo primeiro estudo e acrescentaram mais um gene.

O processo

O estudo americano começou há cerca de três anos quando Gerard D. Schellenberg, professor de patologia da Universidade da Pensil­vânia, procurou os Institutos Nacionais de Saúde com uma reclamação e uma proposta.

Grupos individuais de pesquisa faziam estudos com genoma sem alcançar muito sucesso porque nenhum centro tinha pacientes suficientes. Em entrevista, Schel­lenberg disse que havia contado ao Dr. Richard J. Hodes, diretor do Instituto Nacional do En­­velhe­cimento, que os estudos genômicos pequenos tinham de parar e que Hodes concordara. Dia desses, Hodes falou: "o velho modelo pelo qual os pesquisadores guardavam seus dados com ciúme não é mais aplicável".

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Assim, Schellenberg começou a reunir todos os dados possíveis sobre pacientes com Alzheimer e pessoas saudáveis da mesma idade. A ideia era comparar um milhão de posições no genoma de cada pessoa para determinar se alguns genes eram mais comuns naqueles que tinham o mal.

"Eu passei muito tempo sendo gentil com as pessoas pelo telefone", disse Schellenberg. Ele conseguiu o que queria: quase todos os centros e geneticistas que investigam o Alzheimer no país cooperaram. Schellenberg e seus colegas usam os dados genéticos para fazer uma análise, descobrir os genes e, então, usando duas populações diferentes, confirmam se os mesmos genes conferiam o risco. Para os pesquisadores, isso ajudou a garantir que não estavam olhando uma associação casual.

Foi um esforço enorme, diz Mayeux. Muitos centros médicos tinham tecido de doentes com Alzheimer armazenado nos freezers. Eles tinham de extrair o DNA e examinar o genoma. "Uma de minhas funções era garantir que os casos de Alzheimer estavam corretos e que haviam sido usados critérios razoáveis para o diagnóstico", falou Mayeux. "Quando o projeto começou, todos nós percebemos que ele precisava ser feito. Todos queriam colaborar".

Europa

Enquanto isso, o grupo europeu, comandado pelo Dra. Julie Wil­liams da Escola de Medicina da Universidade de Cardiff, participava de uma empreitada similar. De acordo com Schellenberg, os dois grupos compararam os resultados e ficaram reconfortados por, no geral, terem encontrado os mesmos genes. "Caso houvesse enganos, não veríamos as mesmas coisas".

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Agora, os grupos americano e europeu estão juntando os dados para conduzir um estudo enorme, buscando genes nas amostras combinadas. "Estamos aumentando o tamanho da amostra", declarou Schellenberg. "Temos certeza de que mais coisas vão surgir".