Os dois maiores estudos já realizados sobre o mal de Alzheimer levaram à descoberta de cinco genes que dão novas pistas intrigantes sobre por que a doença ataca e como se desenvolve. Pesquisadores dizem que os estudos, que analisaram os genes de mais de 50 mil pessoas nos Estados Unidos e Europa, deixam poucas dúvidas sobre o fato que os cinco genes tornam a doença mais provável na velhice e têm algo importante a revelar sobre seu processo. Eles também podem levar à descoberta de formas de retardar o ataque ou reduzir seu progresso.
"O nível da evidência é muito, muito forte", disse o Dr. Michael Boehnke, professor de bioestatística da Universidade do Michigan e consultor externo da pesquisa. Os dois estudos foram publicados recentemente pelo periódico Nature Genetics.
Durante anos, havia pistas persistentes, mas não comprovadas, de que o colesterol e a inflamação faziam parte do processo da doença. Pessoas com colesterol alto têm maior probabilidade de ter o mal. Derrames e ferimentos na cabeça, que também aumentam a probabilidade do Alzheimer, também causam inflamação no cérebro. Agora, alguns dos genes recém-descobertos parecem reforçar essa linha de pensamento porque alguns deles estão envolvidos com o colesterol e outros estão ligados a inflamação ou ao transporte de moléculas dentro das células.
As descobertas dobram o número de genes conhecidos por estarem envolvidos com o mal de Alzheimer de cinco para dez, dando aos cientistas novos caminhos a explorar. Um dos 155 autores do estudo, o Dr. Richard Mayeux, diretor de neurologia do Centro Médico da Universidade Columbia, afirmou que os achados "abririam o campo".
Um especialista que não participou dos estudos, o Dr. Nelson B. Freimer, que dirige o Centro de Genética Neurocomportamental da Universidade da Califórnia, campus de Los Angeles, disse que agora existem genes ligados à doença de forma inequívoca e que os pesquisadores poderiam alcançar um progresso real definindo sua biologia. "Foi um passo muito importante".
Estima-se que 5,4 milhões de americanos tenham o mal de Alzheimer, a maioria dos quais é idosa. Segundo a Associação de Alzheimer, uma em cada oito pessoas com mais de 65 anos têm o problema. Seu custo anual para a nação é de US$ 183 bilhões. Em si, os genes não são um fator tão importante quando o Apoe, gene descoberto em 1995 que aumenta bastante o risco da doença 400% se a pessoa o herda de um dos pais e mil por cento se for dos dois. Em comparação, cada um dos novos genes aumenta o risco em não mais do que de 10% a 15%. Por esse motivo, não serão usados para decidir se a pessoa tem probabilidade de desenvolver a doença.
O Apoe, envolvido no metabolismo do colesterol, "está numa classe só dele", disse o Dr. Rudolph Tanzi, professor de neurologia da Escola de Medicina de Harvard e um dos autores de um dos estudos. Só que os pesquisadores dizem que mesmo um pequeno acréscimo no risco os ajuda a compreender a doença e a desenvolver novas terapias. E, da mesma forma que o Apoe, alguns dos genes recém-descobertos parecem estar envolvidos com o colesterol.
Dos dez genes que agora se sabem estar associados ao mal de Alzheimer na velhice, quatro foram identificados nos últimos anos e confirmados pelos novos estudos. O Apoe pode ter outros papéis na doença, talvez liberando o cérebro dos amiloides que se acumulam nas plaquetas, partículas com formato de craca (um tipo de crustáceo) que pontilham o cérebro de pacientes com Alzheimer e que são a única característica patológica da doença.
Sabe-se que um dos primeiros sinais do mal de Alzheimer é o acúmulo de beta-amiloide, proteína que forma as plaquetas. E sabe-se que nos estágios avançados da doença, proteínas retorcidas e entrelaçadas tau aparecem em neurônios mortos ou moribundos. O que não se sabe é por que o beta-amiloide começa a se acumular, por que o cérebro das pessoas com Alzheimer não consegue se livrar do seu excesso ou qual é a ligação entre amiloide e tau.
Um dos novos estudos, feito por investigadores americanos, analisou os genes de 54 mil pessoas, algumas com Alzheimer e outras da mesma idade sem o mal. Eles encontraram quatro genes novos. O segundo estudo, levado a cabo por pesquisadores na Grã-Bretanha, França e outros países europeus, teve contribuições dos Estados Unidos. Eles confirmaram os genes encontrados pelo primeiro estudo e acrescentaram mais um gene.
O processo
O estudo americano começou há cerca de três anos quando Gerard D. Schellenberg, professor de patologia da Universidade da Pensilvânia, procurou os Institutos Nacionais de Saúde com uma reclamação e uma proposta.
Grupos individuais de pesquisa faziam estudos com genoma sem alcançar muito sucesso porque nenhum centro tinha pacientes suficientes. Em entrevista, Schellenberg disse que havia contado ao Dr. Richard J. Hodes, diretor do Instituto Nacional do Envelhecimento, que os estudos genômicos pequenos tinham de parar e que Hodes concordara. Dia desses, Hodes falou: "o velho modelo pelo qual os pesquisadores guardavam seus dados com ciúme não é mais aplicável".
Assim, Schellenberg começou a reunir todos os dados possíveis sobre pacientes com Alzheimer e pessoas saudáveis da mesma idade. A ideia era comparar um milhão de posições no genoma de cada pessoa para determinar se alguns genes eram mais comuns naqueles que tinham o mal.
"Eu passei muito tempo sendo gentil com as pessoas pelo telefone", disse Schellenberg. Ele conseguiu o que queria: quase todos os centros e geneticistas que investigam o Alzheimer no país cooperaram. Schellenberg e seus colegas usam os dados genéticos para fazer uma análise, descobrir os genes e, então, usando duas populações diferentes, confirmam se os mesmos genes conferiam o risco. Para os pesquisadores, isso ajudou a garantir que não estavam olhando uma associação casual.
Foi um esforço enorme, diz Mayeux. Muitos centros médicos tinham tecido de doentes com Alzheimer armazenado nos freezers. Eles tinham de extrair o DNA e examinar o genoma. "Uma de minhas funções era garantir que os casos de Alzheimer estavam corretos e que haviam sido usados critérios razoáveis para o diagnóstico", falou Mayeux. "Quando o projeto começou, todos nós percebemos que ele precisava ser feito. Todos queriam colaborar".
Europa
Enquanto isso, o grupo europeu, comandado pelo Dra. Julie Williams da Escola de Medicina da Universidade de Cardiff, participava de uma empreitada similar. De acordo com Schellenberg, os dois grupos compararam os resultados e ficaram reconfortados por, no geral, terem encontrado os mesmos genes. "Caso houvesse enganos, não veríamos as mesmas coisas".
Agora, os grupos americano e europeu estão juntando os dados para conduzir um estudo enorme, buscando genes nas amostras combinadas. "Estamos aumentando o tamanho da amostra", declarou Schellenberg. "Temos certeza de que mais coisas vão surgir".
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