Um novo estudo vincula uma substância usada em diversos utensílios plásticos, inclusive mamadeiras, a diabetes e distúrbios cardíacos, mas a agência reguladora norte-americana disse nesta terça-feira (16) que tais utensílios continuam sendo considerados seguros.
A substância bisfenol A (BPA), muito usada em embalagens de alimentos, latas e garrafas de bebidas e material para obturação dental, já era questionada devido a testes em animais. Mas o novo estudo britânico, publicado na revista da Associação Médica Americana, concluiu que, entre 1.455 adultos examinados nos EUA, aqueles com maiores níveis de BPA tinham mais propensão a diabetes, doenças cardíacas e problemas hepáticos.
A FDA, agência que regula alimentos e drogas nos EUA, prometeu analisar as conclusões, que não foram levadas em consideração quando, em agosto, a agência divulgou um relatório preliminar atestando a segurança do BPA nos seus atuais usos.
"Temos confiança nos dados que examinamos e nos dados em que estamos confiando para dizer que a margem de segurança é adequada", disse Laura Tarantino, funcionária do FDA, a jornalistas.
"Há coisas que podem ser feitas para reduzir o nível de bisfenol A, mas não recomendamos que ninguém mude de hábitos ou mude o uso de qualquer desses produtos, porque neste momento não temos provas que indiquem tal necessidade", afirmou.
O BPA entra na composição do plástico policarbonatado, um material translúcido e que não estilhaça. Dentro do organismo, o BPA pode se comportar como o hormônio estrogênio, segundo os cientistas. A ingestão se dá pelo desprendimento de partículas plásticas em alimentos e bebidas.
Alguns fabricantes estão deixando de usar essa substância. Autoridades canadenses já concluíram que ela é nociva.
Mas Steven Hentges, do Conselho Americano de Química, disse que o estudo é inconclusivo. "O bisfenol A foi muito intensamente estudado em enormes quantidades de pesquisas de laboratório com animais. E o peso das evidências a partir de tais estudos continua a apoiar o uso seguro dos produtos contendo o bisfenol A", disse Hentges por telefone.
Os pesquisadores britânicos admitiram que seu estudo, embora estabeleça uma correlação, não prova os efeitos adversos do BPA. O estudo foi feito com base em exames de urina de adultos de 18 a 74 anos, representativos da população dos EUA.
As pessoas que estavam entre as 25 por cento com maior presença da substância na urina tinham o dobro de propensão a ataques cardíacos e à diabete tipo 2, em comparação com os 25 por cento com a menor presença de BPA.
Numa reunião de uma comissão do FDA sobre o tema, vários cientistas e ativistas disseram que a agência ignorou pesquisas com animais, e alguns pediram que o uso da substância em embalagens de alimentos seja proibida.
O deputado democrata John Dingell, presidente da Comissão de Energia e Comércio da Câmara, disse que o FDA "se foca de forma míope em pesquisas bancadas pelo setor [alimentício e químico]".
Tarantino disse que o FDA não ignorou as pesquisas com animais e que os estudos patrocinados pelas empresas de fato foram importantes ao se chegar à conclusão. A comissão consultiva deve apresentar seu parecer em outubro.
A funcionária disse que há discussões para que o governo faça seus próprios estudos sobre o BPA, mas que isso poderia levar anos.