Buenos Aires Três semanas após ter obtido o benefício da liberdade condicional, o ex-general paraguaio Lino César Oviedo, de 64 anos, conseguiu embaralhar ainda mais o já confuso cenário político de seu país. Embora não tenha anunciado oficialmente sua candidatura para as eleições presidenciais de abril de 2008, já que ainda cumpre uma condenação de dez anos por rebelião, Oviedo conseguiu superar o ex-bispo e candidato presidencial Fernando Lugo nas pesquisas. De acordo com o jornal "ABC", de Assunção, se a eleição fosse hoje, Oviedo venceria com 31,5%, contra 27,5% de Lugo. "Eu disse que voltaria, me liberaria e governaria o Paraguai. Falta a terceira", disse por telefone, de Assunção.
O senhor ainda não obteve autorização da Justiça para disputar a Presidência.
Lino Oviedo: Poderia inscrever minha candidatura porque cumpro com as condições de nossa Constituição, mas não quero cometer um erro político porque a Justiça poderia dizer que ainda não posso. Pedi um esclarecimento sobre isso em três instâncias: na Justiça militar, na Corte Suprema de Justiça e no Superior Tribunal de Justiça Eleitoral. Estou esperando uma resposta nos próximos dias.
O senhor protagonizou rebeliões militares e foi condenado pela Justiça militar. Como explica o apoio recebido por muitos setores paraguaios?
(O general se irrita com a pergunta) Sugiro que entre na página do Supremo Tribunal Federal do Brasil, que me julgou. Veja o que disse a Justiça ordinária do Paraguai, que não houve rebelião, nem nada. Tudo foi uma violação da lei do Paraguai, instalaram um tribunal (militar) excepcional para me condenar e terminar com minha carreira política. O povo está pedindo com urgência trabalho e segurança. Lino Oviedo é um homem trabalhador e capaz de dar segurança ao país. Estudei na Europa, fiz cursos de defesa e segurança nos Estados Unidos e na Escola das Américas no Panamá, na China, na Coréia, no Japão e em outros países da região. Tenho um pequeno currículo. Compare com o dos outros candidatos.
Quando o senhor obteve a liberdade condicional, especulou-se sobre um acordo com o presidente Nicanor Duarte Frutos para evitar uma eventual vitória de Lugo em 2008...
O presidente Duarte Frutos tem sua candidata, eles pertencem ao Partido Colorado. Eu pertenço a outro partido.
O senhor esperará alguns meses para definir a estratégia de seu partido para 2008?
Temos tempo até o dia 12 de janeiro do ano que vem. Vou fazer o que fiz na prisão: pensar, ler, escrever e meditar. Por enquanto só observo, vejo que os outros brigam e fico quietinho. A prisão foi minha sala de meditação, já ocorreu com muitas autoridades importantes, que estiveram presas e exiladas.
Quando saiu da prisão o senhor disse que governaria o Paraguai...
Eu disse que voltaria, me liberaria e governaria o Paraguai. Falta a terceira.
Como encaixaria um eventual governo de Oviedo, por exemplo, com o governo de Hugo Chávez, na Venezuela?
Quero me encaixar onde estou encaixado, ou seja, entre os dois países mais importantes da América do Sul, Brasil e Argentina. Sei que Lula é de original sindical, mas tem um vice-presidente que vem do setor privado. Alencar se encarrega de proteger os empresários e Lula os sindicatos, os trabalhadores, buscam melhorar a situação de todos os setores.
Como o senhor avalia o caso venezuelano?
Não é minha prioridade me informar sobre o que acontece fora do Mercosul.
Mas a Venezuela está em processo de integração ao Mercosul...
O que posso dizer é que não concordo com as restrições à imprensa. O povo deve falar e dizer o que pensa. Sem falar no fechamento de um meio de comunicação.
Os congressos do Brasil e do Paraguai ainda não aprovaram a entrada da Venezuela ao Mercosul como membro pleno e ambos congressos foram criticados diversas vezes pelo presidente Hugo Chávez.
Se você quer ser sócio de alguém não pode ofender um virtual sócio que deve aprovar sua entrada ao Mercosul.