O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro foi indiciado por narcoterrorismo nos Estados Unidos nesta quinta-feira (26), após uma investigação de procuradores americanos, anunciou o chefe do Departamento de Justiça dos EUA, William Barr. Mais de dez membros do regime chavista e das Forças Armadas revolucionárias da Colômbia (Farc) também foram indiciados.
Por causa disso, o Departamento de Estado está oferecendo recompensas de até US$ 15 milhões por informações que levem à captura ou condenação de Maduro, disse Geoffrey S. Berman, promotor federal americano, de acordo com o jornal New York Times.
Segundo Barr, a fronteira entre Colômbia e Venezuela foi tomada pela dissidência das Farc sob a proteção de Maduro e que, por isso, o regime está sendo acusado de planejar uma conspiração com as Farc para "inundar os Estados Unidos com drogas". Barr disse ainda que o governo americano estima que entre 200 e 250 toneladas de cocaína sejam despachadas da Venezuela através das rotas da aliança entre o regime e as Farc.
"Anunciamos acusações criminais contra Nicolás Maduro por realizar, juntamente com seus principais tenentes, uma parceria narcoterrorista com as Farc nos últimos 20 anos. O alcance e a magnitude do narcotráfico só foram possíveis porque Maduro e as instituições corruptas da Venezuela forneceram proteção política e militar para crimes de narcotráfico", disse Berman.
Além de oferecer US$ 15 milhões para informações que levem à prisão de Maduro, o Departamento também oferece recompensas de até US$ 10 milhões para informações relacionadas a nomes importantes do regime, como Diosdado Cabello, chefe da Assembleia Nacional Constituinte, e Tareck El Aissami, ministro da Indústria e Produção Nacional.
"Enquanto ocupavam posições-chave no regime de Maduro, esses indivíduos violaram a confiança do público ao facilitar o transporte de narcóticos da Venezuela, incluindo o controle de aeronaves saindo da base aérea venezuelana e o controle de rotas de drogas através dos portos da Venezuela", acusaram os promotores. Maikel Moreno, presidente do Tribunal Supremo de Justiça, e Vladimir Padrino, ministro de Defesa, também foram indiciados.
Os Estados Unidos não reconhecem o governo de Nicolás Maduro e há mais de um ano apoiam a presidência interina de Juan Guaidó, líder da oposição e presidente da Assembleia Nacional.
Cartel dos Sóis
No mês passado o Escritório da ONU sobre Drogas e Crime reconheceu que o narcotráfico se infiltrou nas forças armadas da Venezuela. Em um relatório, o escritório apontou que narcotraficantes transportaram grandes quantidades de drogas para Europa e EUA através de portos venezuelanos, usando aeronaves leves, por meio de voos ilegais.
"Há indícios de que grupos criminosos conseguiram se infiltrar nas forças de segurança e criaram uma rede informal conhecida como 'Cartel dos Sóis', para facilitar a entrada e saída de drogas ilegais", diz o texto.
O Insight Crime, grupo que monitora o crime organizado na América Latina, afirma que o termo "Cartel dos Sóis" foi usado pela primeira vez em 1993, quando dois generais venezuelanos foram investigados por tráfico de drogas. A partir de 2000, a definição passou a ser recorrente diante de diversos casos de envolvimento de militares no narcotráfico.
"Essa infiltração começou entre 2003 e 2004, com alguns generais e coronéis, e foi agravada entre 2008 e 2009, quando a participação dos militares no narcotráfico era muito mais aberta. Uma das primeiras coisas que Hugo Chávez fez ao chegar ao poder foi permitir que algumas regiões se tornassem zonas de proteção para grupos guerrilheiros colombianos", contou ao jornal O Estado de S. Paulo o tenente venezuelano José Colina, que vive há 16 anos exilado nos EUA e era tenente da Guarda Nacional Bolivariana na fronteira com a Colômbia.
Segundo ele, em 2002, os militares recebiam ordens escritas para permitir que a guerrilha operasse na Venezuela. "Estava proibido enfrentá-los. A infiltração do narcotráfico nas Forças Armadas começa com o Cartel dos Sóis, porque vários generais do alto comando integravam o grupo, entre eles Henry Rangel Silva que foi ministro da Defesa, e o general Hugo Carvajal, que facilitavam o tráfico".
O termo "sol" refere-se à insígnia dos oficiais generais - um sol significa general de brigada; dois, um general de divisão; três sóis, um general de Exército; e quatro sóis, um marechal.
De acordo com o Insight Crime, apesar do termo "cartel", os grupos que atuam dentro do corpo militar venezuelano "não possuem hierarquia definida".