Os Estados Unidos e o Brasil divergem sobre como tratar as crises da Síria e do Irã, mas concordam que não é possível aceitar a "brutalidade" do Governo sírio e a ideia de que o Irã desenvolva armas nucleares, afirmou nesta quinta-feira (1º) o subsecretário de Estado dos EUA, William Burns.

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"Temos os mesmos interesses fundamentais quanto à busca da paz, a estabilidade e a prosperidade no mundo todo. Podemos e temos que fazer mais em conjunto para alcançar essas metas", afirmou Burns em uma conferência no Rio de Janeiro.

O funcionário esclareceu que "interesses compartilhados não significam concordância automática".

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"Para fazer avançar esses interesses não necessitamos estar sempre de acordo. O que necessitamos é ouvir, consultar e aceitar responsabilidades", acrescentou o diplomata.

O Brasil se opõe às sanções impostas pelos Estados Unidos contra a Síria pelos ataques a civis e contra o Irã por seu suposto programa para desenvolver armas nucleares, e considera necessário buscar uma saída negociada ou concordar sanções apenas no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

"Nossa relação de associação global não significa que temos que estar de acordo em tudo", ressaltou Burns, que iniciou nesta quinta-feira uma visita de dois dias ao Brasil para preparar a visita que a presidente brasileira, Dilma Rousseff, realizará no dia 9 de abril em Washington.

Segundo o subsecretário americano, apesar de suas divergências, o Brasil e os Estados Unidos têm a mesma visão em torno de não permitir a proliferação de armas nucleares.

"O Brasil já demonstrou que tem responsabilidade nisso, algo que o Irã não mostrou. Esperamos que o Irã se envolva em negociações. É impossível que continue dizendo que não está desenvolvendo armas nucleares", afirmou o funcionário em entrevista coletiva posterior à conferência.

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Burns afirmou que, além de responder a todas as dúvidas sobre seu programa nuclear, o Irã tem que respeitar as decisões já adotadas pelo Conselho de Segurança da ONU.

"Com relação à Síria, Brasil e Estados Unidos compartilham a posição de que não se pode aceitar a brutalidade do Governo sírio contra seu próprio povo", afirmou.

O número dois da Secretaria de Estado disse que os EUA, como já afirmou o presidente Barack Obama, defendem uma maior participação do Brasil como ator global e sua presença como membro permanente no Conselho de Segurança da ONU.

"Na medida em que o Brasil crescer como potência global, sua presença permanente no Conselho de Segurança será cada vez mais iminente. Apoiamos e estamos trabalhando com o Brasil nisso", afirmou.

Segundo Burns, o Brasil, por suas próprias características, pode contribuir na resolução de conflitos em nível mundial.

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"Vejamos hoje o Oriente Médio, uma região sobre a qual, como todos sabem, tivemos divergências. Os EUA reconhecem a vantagem de contar com um Brasil atuante na busca por um objetivo comum: apoio às soluções regionais que promovam dignidade, progresso e oportunidades para todos, seja no Egito, Tunísia, Líbia ou Síria", disse.

Segundo o subsecretário, tanto por seu processo de transição democrática quanto por seus imigrantes e seus laços com países da região, o Brasil pode ajudar as "novas e emergentes democracias" do Oriente Médio a encontrar seu próprio caminho.

"O Brasil tem voz e deve ser ouvido. O Brasil tem interesses no Oriente Médio e pode oferecer uma contribuição bastante prática para os problemas da região", disse.

"Para sociedades de todos os lugares que querem ter mais voz no Governo e na economia, é muito bom que o Brasil assuma responsabilidades maiores no cenário global", acrescentou.