Vinte anos atrás, exatamente num 29 de abril, começaram os protestos em Los Angeles depois da absolvição dos policiais brancos que espancaram Rodney King.
A violência contra o taxista negro havia ocorrido um ano antes, em 1991. Em três dias de protestos, a cidade da Califórnia conhecida por ser o centro da indústria cinematográfica norte-americana se tornou o centro de um inferno feito de depredações e incêndios que causaram mais de US$ 1 bilhão em estragos, 55 mortos e 2.300 feridos.
O economista e professor de ciência política Másimo della Justina, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), estava nos Estados Unidos na época dos conflitos e se lembra da cobertura quase ininterrupta das emissoras de tevê, mostrando a violência nas ruas californianas. Para ele, episódios de racismo ainda são frequentes em um país que tem, pela primeira vez em sua história, um presidente negro o democrata Barack Obama.
Sean Purdy, professor de história dos Estados Unidos da Universidade de São Paulo (USP), afirma que a eleição de Obama foi um avanço limitado contra o racismo. "Ele, por acaso, é negro, mas tem recebido duras críticas da comunidade negra nos últimos anos", diz Purdy.
Della Justina afirma que a cor da pele de Obama não foi decisiva para a eleição. "Pelas condições econômicas em 2008, qualquer candidato teria derrotado o Partido Republicano", explica. O professor observa que o presidente nunca fez uso político de sua raça na Casa Branca e diz que a eleição dele não mudou as "patologias raciais".
Evolução
Apesar das dificuldades, o professor de Direitos Humanos Rui Dissenha defende que os direitos civis evoluíram nos Estados Unidos. "Isso não quer dizer que não existam problemas, não se pode imaginar que a questão dos preconceitos raciais se resolva, pois não se resolverá jamais.
Mas a sociedade americana parece mais apta hoje à convivência plural do que já foi em outras épocas."
Segundo Della Justina, episódios recentes como do jovem negro Trayvon Martin (morto pelo vigilante de origem hispânica George Zimmerman, no início do ano), e muitos outros que acontecem e não ganham visibilidade, mostram que as tensões ainda existem. Mesmo quando o quesito ódio não está evidente no crime caso de Zimmerman, que diz ter reagido em defesa própria.