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O governo da Suíça pediu uma investigação sobre uma companhia de criptografia com base no país após revelações de que a empresa foi controlada por décadas pelas agências de inteligência dos Estados Unidos e da Alemanha. A agência americana CIA e a alemã BND inseriam falhas de criptografia nos produtos vendidos pela Crypto AG e com isso conseguiam espionar tanto adversários quanto aliados, ao mesmo tempo que lucravam com as vendas dos produtos, segundo reportagem do Washington Post, da emissora pública alemã ZDF e do canal suíço SRF.
Autoridades da CIA e da BND supostamente criaram a empresa, que vendeu seus produtos a mais de 100 países. Irã, Índia, Paquistão, juntas militares da América Latina e o Vaticano são citados pela reportagem como clientes da operação. A União Soviética e a China, dois adversários dos países ocidentais, não compraram os dispositivos criptografados da Crypto AG, por suspeitarem de sua origem.
A agência de inteligência alemã BND teria deixado a operação em 1993, mas a CIA manteve a relação com a empresa até 2018, quando a Crypto AG foi encerrada e seus bens foram vendidos a duas empresas privadas.
O acesso às comunicações dos governos de países aliados e rivais ajudou os EUA e a então Alemanha Ocidental a ter informações privilegiadas sobre eventos globais, como a crise de reféns do Irã em 1979. A inteligência americana também conseguiu ouvir autoridades da Líbia comemorando o atentado contra uma discoteca em Berlim em 1986. A reportagem relata que a empresa forneceu ao Reino Unido informações sobre as operações da Argentina durante a Guerra das Malvinas.
Carolina Bohren, porta-voz do Ministério da Defesa da Suíça, disse ao The Guardian que "os eventos em questão datam de 1945 e são difíceis de reconstruir e interpretar no contexto atual". Bohren disse que o governo suíço nomeou um ex-juiz da suprema corte federal, Niklaus Oberholzer, em janeiro para "investigar e esclarecer os fatos da questão" e apresentar um relatório ao ministério em junho. A Suíça suspendeu as vendas de produtos Crypto para outros países.
A ligação entre a CIA e a Crypto foi revelada pela primeira vez pelo jornal Baltimore Sun em 1995, levando vários países a parar de comprar produtos da empresa. O Irã, no entanto, continuou comprando os equipamentos durante anos.
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