Opinião
Ucrânia perderá mais territórios se ignorar a realidade geopolítica
Gutenberg Teixeira, professor de Direito Internacional e doutorando em Responsabilidade Jurídica pela Universidade de León, na Espanha
A guinada pró-Ocidente da Ucrânia e o caso da Crimeia acabaram gerando mais instabilidade dentro do território ucraniano. Agora, outras regiões buscam mudanças. Em Donetsk, Lugansk, Járkov e Carcóvia, onde existe uma maioria de russos e russófonos, manifestantes exigiam um referendo sobre o status político para poderem eleger seus governantes de forma direta, sem a ingerência de Kiev; ampliação de direitos econômicos e introdução do russo como segundo idioma. As regiões de Zaporozhye e Odessa, de maioria russa, mas que não fazem fronteira com a Rússia, também desejam o mesmo.
Apesar das manifestações, não se pode afirmar ainda que a Ucrânia marche para a perda de mais regiões russófonas para a Rússia. Provavelmente o caso da Crimeia não será o modelo para essas regiões desde que Kiev as escute, seja menos omissa em relação aos grupos neonazistas e antissemitas que têm atuado impunemente, aceite eleições democráticas diretas de autoridades provinciais e assegure o russo como segundo idioma. É do interesse russo que essas regiões permaneçam ligadas à Ucrânia. Tal fato permite certa influência interna na tomada de decisão. Em seu discurso de terça-feira, Vladimir Putin confirma isso ao afirmar que milhões de russos e russófonos vivem e viverão na Ucrânia, com a Rússia sempre defendendo seus interesses pelos meios políticos, diplomáticos e legais. Putin negou a possibilidade de que, depois da Crimeia, outras regiões seguirão para a Rússia. De fato, a Ucrânia só caminhará para a perda de mais territórios caso insista em se impor sem considerar a realidade geopolítica e a vontade das pessoas destas regiões que desejam a federalização da Ucrânia. Caso trilhe caminho contrário, enfrentando a vontade local e Moscou, Kiev pode abrir caminho para a guerra civil e aí sim, pode perder mais territórios. A Crimeia não é a regra do que pode acontecer, mas serve de aviso.
Alemanha
A chanceler alemã, Angela Merkel, também ameaçou aumentar a lista de russos sujeitos a sanções, após o anúncio de Barack Obama.
França
O presidente francês, François Hollande, disse que pedirá o cancelamento da cúpula entre o bloco e a Rússia, prevista para junho.
Reino Unido
O premiê britânico, David Cameron, afirmou que pode aumentar a lista de pessoas sujeitas ao congelamento de bens e à cassação de vistos.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou ontem sanções a mais 20 pessoas, inclusive amigos do presidente russo, Vladimir Putin, em mais um passo contra a anexação da península da Crimeia pela Rússia.
A medida congela os bens dessas pessoas nos EUA e as impede de entrarem no país.
Entre elas, está o empresário bilionário Arkady Rotenberg, que treinava judô com Putin. Amigo de infância de Putin, Rotenberg enriqueceu durante seu governo, em grande parte por seu posto à frente da empresa produtora de vodca Rosspirtprom, para o qual foi indicado pelo presidente.
Moscou respondeu os EUA replicando as punições contra nove americanos. Entre eles estão o senador republicano John McCain e o presidente da Câmara dos Representantes (deputados), John Boehner.
A nova lista dos EUA representa uma ameaça maior a Putin, já que inclui aliados como o chefe de gabinete dele, Sergei Ivanov, e amigos de longa data como Vladimir Yakunin e Arkady Rotenberg.
Na segunda-feira, os EUA já haviam imposto restrições a 11 indivíduos, uma medida considerada leve no contexto da crise ucraniana, vista como o episódio de maior tensão entre os dois países desde a Guerra Fria.
O banco russo Rossiya também foi sancionado pelo governo americano.
Obama assinou ainda um decreto-lei que lhe permitirá ampliar a punição econômica a setores importantes da economia russa.
Sobre a sanção que lhe foi imposta, Boehner disse estar "orgulhoso por ter sido incluído em uma lista daqueles que se opõem à agressão de Putin". Já o senador McCain respondeu com ironia dizendo que suspendeu as férias na Sibéria.
Apesar das sanções, a Câmara baixa do Parlamento da Rússia aprovou ontem a anexação da Crimeia, uma província autônoma da Ucrânia, ao território do país. O Senado vota hoje para completar o processo.
Na última terça, Putin assinou o tratado que anexa a Crimeia, em resposta a um referendo em que 97% da população decidiu pala anexação, considerada ilegítima pelos EUA e pela União Europeia.
Forças pró-Putin capturam dois navios de guerra ucranianos
Agência Estado
Forças pró-Rússia assumiram o controle de dois navios de guerra ucranianos ontem na Crimeia, após a Ucrânia ter reiterado que suas tropas estão sendo ameaçadas na região. As tensões permanecem elevadas na península apesar da libertação de um comandante naval ucraniano que havia sido detido. A tomada da corveta ucraniana Khmelnitsky em Sebastopol teve disparos de tiros, mas nenhum ferido, relatou um fotógrafo da Associated Press que estava no local. Outro navio, o Lutsk, também foi cercado por forças pró-Rússia. O Ministério da Defesa da Ucrânia ainda não havia se manifestado sobre os incidentes. Mais cedo, o vice-ministro da Defesa da Ucrânia, Leonid Polyakov, acusou tropas russas de ameaçar constantemente invadir bases militares onde soldados ucranianos estavam instalados, de acordo com a agência de notícias Interfax. Em Genebra, o embaixador da Ucrânia nas Nações Unidas, Yuri Klymenko, alertou sobre a deterioração das relações com a Rússia.
Ministro da Defesa russo diz que tropas não cruzarão fronteira
Agência Estado
O ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, assegurou ontem ao secretário de Defesa norte-americano, Chuck Hagel, que as forças russas ao longo da fronteira leste entre Rússia e Ucrânia não têm intenção de cruzar a linha para o território ucraniano, disse o porta-voz do Pentágono, o contra-almirante da Marinha John Kirby. Segundo ele, Hagel e Shoigu discutiram a situação na Ucrânia em um telefonema de uma hora. "O secretário Hagel apreciou o tempo de Shoigu e a garantia do ministro de que as tropas por ele dispostas ao longo da fronteira estão lá para realizar exercícios apenas", salientou Kirby.
Opinião
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