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Ahmadinejad e o presidente suíço, Hans-Rodulf Merz, que representa a diplomacia dos EUA com a república islâmica | Anja Niedringhaus/AFP
Ahmadinejad e o presidente suíço, Hans-Rodulf Merz, que representa a diplomacia dos EUA com a república islâmica| Foto: Anja Niedringhaus/AFP

As Nações Unidas iniciam hoje sua primeira conferência global sobre racismo em oito anos. O evento será boicotado por pelo menos seis países, entre eles os Estados Unidos, pelo temor de que o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e outros líderes islâmicos exijam uma declaração final que critique Israel e restrinja a liberdade de expressão.

A administração do presidente Barack Obama, primeiro presidente negro dos EUA, anunciou no sábado que ele boicotaria "com pesar" o encontro de uma semana em Genebra. O cenário de divergências políticas e trocas de acusações é semelhante ao ocorrido na conferência de 2001 em Durban, na África do Sul.

O presidente Barack Obama disse ontem, em Trinidad e Tobago, que os organizadores da conferência insistiam em incluir declarações "hipócritas" sobre Israel no texto final. Obama participava da Cúpula das Américas, em Porto-de-Espanha.

A Holanda declarou ontem que não participará do encontro, enquanto Austrália, Canadá, Israel e Itália já haviam dito que faltariam. A Alemanha também confirmou ontem que não irá ao evento. A Grã-Bretanha afirmou que enviará diplomatas, mas há o temor de que o encontro se torne um fórum para a negação do Holocausto e outros ataques antissemitas. No Vaticano, o Papa Bento XVI disse que a conferência é necessária para eliminar a intolerância racial pelo mundo.

"Estou chocado e profundamente desapontado pela decisão dos Estados Unidos de não comparecer", disse a chefe de Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay. Segundo ela, algumas autoridades estão pensando em apenas um ou dois temas, em detrimento da luta contra a intolerância. Navi ressaltou a necessidade de uma solução global para o racismo.

Os grandes pontos de discórdia em relação ao rascunho de declaração final da ONU são suas críticas implícitas a Israel e uma tentativa dos governos muçulmanos de banirem todas as críticas ao Islã, à Sharia (lei religiosa), ao profeta Maomé e a outros alicerces dessa fé – uma medida que limitaria a liberdade de expressão.

Algumas datas históricas coincidem com o período da conferência, que tem como meta declarada o exame das várias manifestações de racismo, intolerância, discriminação e xenofobia pelo mundo. A terça-feira é o dia de se lembrar do Holocausto, enquanto hoje é lembrado o aniversário do líder nazista alemão Adolf Hitler.

Ahmadinejad – que repetidamente diz que Israel deve ser "varrido do mapa" do Oriente Médio e nega o Holocausto – deve falar no primeiro dia. Ele também se encontrou ontem com o presidente suíço, Hans-Rodulf Merz. O país europeu representa os interesses diplomáticos dos EUA com a república islâmica. Ahmadinejad disse que a "ideologia sionista" carrega a "bandeira do racismo".

O rascunho da declaração final não menciona Israel, mas mantém uma referência do comunicado de Durban apontando o sofrimento dos palestinos. O documento de 2001 foi elaborado após EUA e Israel deixarem o encontro, após tentativas de veicular o sionismo e o racismo. Israel fez bastante lobby para esvaziar o encontro, argumentando que a presença de líderes europeus e dos EUA seria uma forma de legitimar um encontro antissemita.

A equipe de Obama, justificando sua ausência, afirmou que não é possível endossar um texto que ataca Israel ou prevê restrições a falar consideradas uma "incitação" ao ódio religioso. Muitas nações muçulmanas pedem restrição na liberdade de expressão para evitar insultos ao Islã. Eles citam os cartuns publicados em 2005, com o profeta Maomé em um jornal muçulmano. As ilustrações geraram uma onda de protestos no mundo muçulmano.

Países europeus também criticaram o encontro, por enfocar muito o Ocidente e ignorar problemas de racismo e intolerância no mundo em desenvolvimento.

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