Antes da Conferência de Revisão do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), em maio, os Estados Unidos pretendem firmar um compromisso com a Rússia de redução dos seus estoques de ogivas nucleares e, no âmbito doméstico, ratificar o acordo que proíbe totalmente os testes atômicos. Essas iniciativas foram antecipadas nesta sexta-feira ao governo brasileiro pelo subsecretário de Assuntos Políticos do Departamento de Estado americano, William Burns. O gesto, entretanto, trouxe implícita a demanda de uma contrapartida sensível ao Brasil, que é o interesse dos EUA em que o Brasil assine o protocolo adicional do TNP.

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A pressão para que mais países assumam os compromissos do protocolo adicional, que permite inspeções mais intrusivas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) nas usinas nucleares, é um dos objetivos da Conferência de Revisão do TNP. Com o cuidado de não mencionar esse tópico nem a resistência do Brasil a assiná-lo, Burns conseguiu introduzir de forma velada o tema no Itamaraty ao tocar na efetiva redução de arsenais nucleares das grandes potências, um ponto caro ao governo brasileiro.

Em preparação da visita da secretária de Estado, Hillary Clinton, na próxima quarta-feira, Burns encontrou-se na tarde desta sexta-feira com os ministros das Relações Exteriores, Celso Amorim, e da Defesa, Nelson Jobim. Pouco antes, tivera um almoço de trabalho com a embaixadora Vera Machado, subsecretária de Assuntos Políticos do Itamaraty.

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O ponto central da visita de Hillary Clinton, as posições divergentes do Brasil e dos EUA sobre a questão nuclear iraniana, foi abordado pelo próprio Amorim. Colaboradores do chanceler afirmaram que ele reafirmou a Burns o interesse do Brasil em que o Irã não desenvolva armas nucleares e em uma saída negociada para essa crise.

A conversa de William Burns com Celso Amorim, foi dominada pela questão do programa nuclear do Irã. Amorim reiterou que a intenção do governo brasileiro é buscar um acordo para evitar o isolamento na comunidade internacional do governo do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, segundo autoridades que acompanharam a reunião.

Burns e Amorim conversaram por cerca de uma hora. No encontro, o chanceler brasileiro reafirmou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva defende a aproximação com o Irã e o direito de Ahmadinejad de desenvolver um programa nuclear desde que para fins pacíficos. Mais uma vez Amorim indicou a disposição brasileira em atuar na interlocução do Irã com o restante da comunidade internacional.

Nas conversas desta sexta-feira, Burns destacou as ações dos EUA em prol do sucesso da Conferência de Revisão do TNP. Em linha com a posição brasileira, defendeu um maior equilíbrio entre os compromissos e resultados efetivos nos três pilares do TNP - desarmamento, não-proliferação e uso pacífico da energia nuclear Informou ainda que seu país deverá publicar uma nova Revisão da Postura Nuclear (NPR), na qual será diminuída sensivelmente a ênfase das armas atômicas na doutrina de segurança americana.

Burns destacou a empreitada da Casa Branca para selar, com Moscou, um novo acordo de redução dos arsenais e o seu empenho para aprovar o Tratado de Interdição Completa de Testes Nucleares (CTBT), de 1996. Em 2000, o então presidente Bill Clinton esforçou-se pela aprovação do texto no Congresso americano. Mas acabou perdendo, na votação final, com placar de 51 a 49 votos.

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Conforme destacou em pelo menos uma das conversa que teve em Brasília, o presidente dos EUA, Barack Obama, quer reforçar a postura de sua administração em favor do desarmamento nuclear.

A iniciativa agradou muito ao Itamaraty, segundo um diplomata. Mas deixou implícita uma nova onda de pressão americana para que o Brasil assine o protocolo adicional. A resistência brasileira a esse compromisso está relacionada ao fato de que permitira uma inspeção mais minuciosa na planta de enriquecimento de urânio em Resende (RJ), onde esse processo se dá com base em tecnologia nacional.