Reação
Líderes de vários países atingidos por vazamento condenam WikiLeaks
Líderes de todo o mundo foram a público ontem para condenar o WikiLeaks. O site, que já causou outras saias-justas para os EUA com a revelação de documentos secretos das guerras no Afeganistão e Iraque, tornou público um mundo secreto dos bastidores da diplomacia internacional.
O ministro da Defesa da Itália, Ignazio La Russa, pediu que não seja dada excessiva importância aos documentos diplomáticos americanos publicados pelo site WikiLeaks, em entrevista publicada ontem pelo jornal Corriere della Sera.
"São informações que tinham de permanecer secretas. Provavelmente sua publicação é ilegal, mas, ao fim, parecem sair de uma revista de fofocas", disse La Russa.
Os documentos publicados pelo WikiLeaks definem o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, como "porta-voz" na Europa de seu homólogo russo, Vladimir Putin.
Para La Russa, o WikiLeaks não deveria se pronunciar sobre a aproximação entre os governos italiano e o russo, até porque, segundo ele, Berlusconi defende o "direito da Rússia de ser ouvida".
França
O porta-voz do governo francês, François Baroin, expressou ontem solidariedade com Washington, criticando o perigo que as publicações podem desencadear.
"Nos solidarizamos com a administração americana e com sua vontade de evitar algo que atenta não somente contra a autoridade dos Estados Unidos, mas põe em perigo homens e mulheres que trabalharam a serviço do país", afirmou Baroin à rádio Europe 1.
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Washington - Os EUA entraram ontem abertamente em esforço frenético de contenção de danos após o vazamento de dados diplomáticos sigilosos na internet. A secretária de Estado, Hillary Clinton, se desculpou e classificou o episódio como um "ataque ao mundo".
O site WikiLeaks, dedicado a publicar informações confidenciais, divulgou no final de semana mais de 250 mil comunicações entre embaixadas americanas ao redor do mundo e Washington, expondo vários governos a situações que vão do ridículo e ao risco real. "Essa divulgação não é só um ataque aos interesses de política externa americanos. É um ataque contra a comunidade internacional", disse Hillary. "Sentimos muito pela divulgação do que deveria ser sigiloso."
A secretária afirmou que o governo está adotando "passos agressivos" para punir os responsáveis e que estão sendo tomadas medidas nos departamentos de Estado e da Defesa para evitar vazamentos futuros. Ela se disse confiante de que os relacionamentos dos EUA com parceiros internacionais sobreviverão à crise.
O secretário da Justiça, Eric Holder, reiterou que há uma investigação criminal em curso nos EUA sobre o WikiLeaks, mas não disse se e como os EUA tentarão prender seus representantes, que estão fora da jurisdição americana.
Sala de guerra
De toda forma, a previsão é que as revelações prejudicarão por tempo indeterminado algumas relações dos EUA com diplomatas estrangeiros, que perderam a expectativa de confidencialidade das conversas.
O Departamento de Estado montou uma força tarefa já apelidada de "sala de guerra" para lidar com a crise 24 horas por dia. Além de Hillary, vários diplomatas de alto escalão foram destacados para falar com governos estrangeiros e tentar manter os laços atuais.
"O esforço não vai funcionar", disse à Folha James Lindsay, vice-presidente sênior do think tank Council on Foreign Relations.
"Vai haver uma sombra sobre a diplomacia americana daqui para frente. Em boa parte do mundo, as conversas não serão mais francas."
Após vazamento de dados sigilosos, ONU diz ser "inviolável"
Após o vazamento de dados secretos dos EUA, que indicam que Washington ordenou que seus diplomatas espionassem a ONU, incluindo o secretário-geral Ban Ki-moon, a organização reagiu dizendo que é "inviolável" e "transparente", mas não criticou diretamente o governo americano. Entre os 251.288 documentos enviados por 274 embaixadas americanas estão ordens do governo americano para que seus agentes obtivessem dados confidencias das Nações Unidas.
De acordo com o jornal espanhol El País, os EUA queriam conhecer a rotina dos funcionários da ONU, seus cartões de crédito, e-mails e telefones. Em resposta, ainda na noite de ontem, a organização disse que confia que os Estados membros respeitem as imunidades garantidas à organização.
"A ONU não se encontra em posição de comentar sobre a autenticidade do documento que solicita informações sobre seus funcionários e suas atividades", disse um diplomata ligado à entidade.
Hoje, em comunicado divulgado pelo El País, a organização evitou criticar diretamente os EUA e buscando minimizar os vazamentos, afirmou que é transparente e já publica boa parte dos dados sobre suas operações.
Transparência
"A ONU é por natureza uma organização transparente que torna pública grande parte das informações sobre suas atividades e membros. Funcionários da ONU se reúnem regularmente com representantes dos Estados membros para informá-los de suas atividades", disse Farhan Haq, porta-voz da entidade.
Espionagem
Os documentos revelados pelo WikiLeaks durante o fim de semana indicam que o Departamento de Estado americano pediu no ano passado aos funcionários de 38 embaixadas e missões diplomáticas uma relação detalhada de dados pessoais e de outra natureza sobre as Nações Unidas.
A equipe diplomática e consular credenciada na ONU e nos países afetados pelas instruções foram encarregados de realizar a "espionagem branda".