Militares americanos divulgaram nesta segunda-feira o que disseram ser um documento capturado da Al Qaeda segundo o qual guerrilheiros sunitas reconhecem ser fracos e impopulares em Bagdá. O documento, aparentemente uma análise da estratégia do grupo na capital iraquiana, foi apreendido junto com vídeos em 16 de abril perto de Yusufiya, na periferia sudeste de Bagdá, segundo nota dos militares.
O documento tem três páginas e não foi datado. Sua tradução, cuja autenticidade não pôde ser avaliada de forma independente, sugere que a Al Qaeda está revendo suas táticas na cidade, atualmente voltadas para carros-bomba e outras táticas de guerrilha.
O texto propõe a captura de territórios como forma de melhorar sua capacidade militar, no que parece ser a preparação para uma eventual guerra civil.
O documento foi mencionado numa entrevista na semana passada, em que os militares também divulgaram trechos de um vídeo do líder da Al Qaeda iraquiana, Abu Musab Al Zarqawi, que já havia aparecido na Internet.
Um porta-voz zombou da competência do militante jordaniano com uma arma e do fato de ele usar um tênis de marca norte-americana, que aparece na versão bruta do vídeo.
Em nota que acompanha a tradução da "Estratégia de Bagdá", o general Rudy Wright, porta-voz do Pentágono, diz que o texto confirma o que o governo do Iraque, as forças da coalizão e o povo do Iraque já sabiam - que a função da AQIZ (Al Qaeda no Iraque; Zarqawi, no jargão militar dos EUA) é apenas tentar impedir que os iraquianos sigam o caminho da prosperidade, segurança e unidade nacional".
"A Al Qaeda no Iraque ataca mesquitas e outros lugares públicos para atrair a atenção da imprensa, e está tendo dificuldades em recrutar membros porque o povo do Iraque não apóia sua causa", diz o documento da Al Qaeda, segundo a tradução.
A versão original que acompanhava o texto em inglês não contém essa frase.
De acordo com a versão dos militares, a Al Qaeda diz ter cerca de 110 "mujahideen" em Bagdá - 40 na zona noroeste, 40 na sudoeste e 30 na zona leste.
"São números muito pequenos em comparação com dezenas de milhares de tropas inimigas. Como podemos melhorar esses números?"
O texto fornecido pelos EUA diz ainda que, do ponto de vista da Al Qaeda, "cada ano é pior do que o anterior" em termos de controle dentro de Bagdá, em comparação com as forças dos EUA e as locais, qualificadas como "dos xiitas".
O documento faz críticas a carros-bomba e outros "ataques-surpresa", que são "a principal força dos irmãos de Bagdá". Um elemento do original que não foi destacado na nota dos EUA foi a necessidade de a Al Qaeda se preparar para controlar territórios, possivelmente numa guerra civil plena.
"A política seguida pelos irmãos em Bagdá é voltada para a mídia, sem um plano claro e abrangente para capturar uma área ou um centro do inimigo", diz o autor, conforme a tradução dos EUA.
"Esta orientação tem grandes efeitos positivos. Contudo, preocupar-se só com isso adia operações mais importantes, como assumir o controle de algumas áreas, preservá-las e assumir o poder em Bagdá (por exemplo, assumindo o controle de uma universidade, um hospital ou de um centro religioso sunita)."
O documento também critica o Partido Islâmico Iraquiano, principal grupo sunita do novo governo, e a Associação de Clérigos Muçulmanos Sunitas, por considerá-los rivais na disputa pela influência sobre a minoria sunita. Além disso, o texto também manifesta dúvidas sobre as lealdades dos soldados sunitas do governo.