Uma resposta militar dos EUA a supostos ataques com armas químicas na Síria parecia mais provável neste domingo depois de Washington ter desprezado a oferta do governo sírio de permitir a inspeção da ONU nas áreas afetadas, dizendo que ela veio "tarde demais para ter credibilidade."
Um alto funcionário do governo dos EUA disse que não havia dúvidas de que o governo sírio havia usado armas químicas contra civis nos subúrbios de Damasco na semana passada e que o presidente Barack Obama estava avaliando como responder.
Um ano atrás, Obama disse que o uso de armas químicas na guerra na Síria seria uma "linha vermelha" para os Estados Unidos. No entanto, Obama tem se mostrado relutante em intervir na Síria, e funcionários EUA ressaltam que ele ainda tem que tomar uma decisão sobre como responder.
Parlamentares norte-americanos de ambos os partidos pediram uma resposta militar limitada, com mísseis de cruzeiro, por exemplo. Um democrata sênior, o senador Jack Reed, advertiu que qualquer movimento realizado por Washington não deve ser unilateral.
O senador Bob Corker, o principal republicano no Comitê de Relações Exteriores, disse que havia discutido o assunto com o governo na semana passada e acredita que Obama pedirá ao Congresso autorização para a intervenção uma vez que os parlamentares voltem do recesso em 9 de setembro.
"Eu acho que nós vamos responder de forma cirúrgica e espero que o presidente, assim que voltarmos para Washington, peça autorização do Congresso para fazer algo de uma forma muito cirúrgica e proporcional", disse a ele à rede Fox News.
Os americanos se opõem fortemente à intervenção dos EUA na guerra civil da Síria e acreditam que Washington deve ficar fora do conflito, mesmo que sejam verdadeiros os relatos de que o governo do presidente sírio Bashar al-Assad usou armas químicas, segundo mostrou uma pesquisa Reuters/Ipsos.
Cerca de 60 por cento dos entrevistados na pesquisa disseram que os Estados Unidos não devem intervir, ou seja, Obama teria que fazer uma defesa convincente para o público americano em relação a qualquer ação que ele decidisse realizar.
A Rússia advertiu os Estados Unidos neste domingo, pedindo que não repetissem na Síria "erros do passado", dizendo que qualquer ação dos EUA não deve ignorar as Nações Unidas.
O Irã, um aliado chave de Assad, disse que Washington não deve cruzar uma "linha vermelha" ao atacar a Síria, enquanto que o ministro de Informações da Síria disse que qualquer ação militar dos EUA iria "criar uma bola de fogo."
Oferta inadequada
O Ministério das Relações Exteriores da Síria disse neste domingo que concordou em permitir que inspetores da ONU acessem locais nos subúrbios de Damasco onde os supostos ataques químicos teriam ocorrido na semana passada.
Um oficial sênior dos EUA deixou claro o movimento do governo sírio era inadequado, dizendo que se os sírios não tinham nada a esconder deveriam ter deixado os inspetores entrar há cinco dias, após o ataque ter sido relatado pela primeira vez.
"Neste momento, qualquer decisão tardia por parte do regime de Assad para conceder acesso à equipe da ONU seria considerada demasiado tardia para ser digna de crédito, inclusive porque a evidência disponível foi significativamente danificada como resultado de persistentes bombardeios e outras ações intencionais do regime nos últimos cinco dias", disse o funcionário.
"Com base no número relatado de vítimas, nos relatos de sintomas daqueles que foram mortos ou feridos, relatos de testemunhas e outros dados recolhidos por fontes abertas, pela inteligência dos EUA e por parceiros internacionais, há muito poucas dúvidas neste ponto de que uma arma química foi usada pelo regime sírio contra civis neste incidente", disse o oficial à Reuters.
"Continuamos a avaliar os fatos para que o presidente possa tomar uma decisão informada sobre como responder a este uso indiscriminado de armas químicas", disse o funcionário.
Andrew Tabler, especialista em Síria no Instituto Washington para a Política do Oriente Próximo, avaliou que Obama teria que fazer uma forte argumentação para justificar aos americanos qualquer intervenção.
"Ele (Obama) não preparou a opinião pública americana para as questões estratégicas que estão vindo da Síria", disse ele. "Eu acho que alguma coisa vai mudar quando ele fizer isso."
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