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"Desafio sistêmico"

EUA e aliados aumentam pressão à China, que acusa Otan de exagerar “teoria da ameaça chinesa”

O presidente dos EUA, Joe Biden, fala à imprensa durante reunião da Otan em Bruxelas, 14 de junho (Foto: EFE/EPA/Francisco Seco / POOL)

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A pressão do governo dos Estados Unidos sobre a China recebeu um reforço na segunda-feira, 14, quando os 30 países que compõem a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) declararam o crescimento do poder militar chinês como um "desafio" à segurança ocidental. No comunicado, divulgado após o encontro do grupo, em Bruxelas, a aliança atlântica subiu o tom sobre os riscos que representam as ambições militares de Pequim.

A China respondeu nesta terça-feira, pedindo "racionalidade" à Otan e que a aliança ocidental deixe de "exagerar a teoria da ameaça chinesa".

A Otan, formada na Guerra Fria, continua a ver no que descreve como "ações agressivas da Rússia" uma ameaça à "segurança atlântica". O tom mais agressivo sobre a China, porém, foi a maior novidade da cúpula, a primeira com a presença de Joe Biden como presidente dos EUA. Nela, os aliados demonstraram preocupação com a "influência crescente" e com os "investimentos" militares chineses.

"As ambições declaradas e o comportamento assertivo da China apresentam desafios sistêmicos à ordem internacional baseada em regras e às áreas relevantes para a segurança da aliança atlântica", afirmaram os países da Otan no comunicado divulgado após o encontro.

Os países-membros destacaram ainda o crescimento do arsenal nuclear da China e o fato de Pequim tratar de maneira "opaca" sua modernização militar, além de mencionar a cooperação entre chineses e russos. O orçamento militar da China é o segundo maior do mundo, atrás apenas do americano, mas tem crescido a um ritmo acelerado.

Antes de viajar ao Reino Unido e à Bélgica, onde se reuniu nos últimos dias com os líderes do G7 e da Otan, Biden deixou claro que buscaria apoio entre velhos aliados para as cobranças feitas pela Casa Branca a Moscou e a Pequim. O democrata faz questão de demonstrar que o grupo de países ricos é capaz de oferecer respostas econômicas, políticas e militares para vencer o que classifica como uma batalha entre democracia e autoritarismo.

Às margens do encontro, Biden aproveitou para agradecer aos líderes de Estônia, Letônia e Lituânia por barrarem a entrada da chinesa Huawei no mercado de tecnologia 5G, uma cruzada empreendida pelos americanos ao redor do mundo sob o argumento de defesa da segurança nacional.

Em um aceno à diplomacia, no entanto, os integrantes da Otan disseram que pretendem continuar a trabalhar com a China e não classificaram o país como uma ameaça, termo usado para tratar da Rússia.

Biden demonstra apreço pela Otan e disse que a aliança é "inabalável". "É um compromisso sagrado", afirmou.

Apesar de Biden ter tentado demonstrar unidade, nem todo mundo da Otan concorda com a pressão sobre a China. Alguns países, como a Hungria, têm relações fortes com Pequim e buscam investimentos chineses. Outros, como a Alemanha, ficam no meio do caminho, entre a necessidade de trabalhar com a China no combate às mudanças climáticas e o dever de controlar suas ambições globais. Outros acreditam que o foco excessivo na China desvia a atenção da missão central da aliança contra a Rússia.

"Teoria de ameaça chinesa"

A China pediu nesta terça-feira que a Otan "pare de exagerar a teoria de ameaça chinesa" após a principal aliança militar do Ocidente acusar Pequim de ser um "desafio sistêmico" para o grupo com suas "políticas coercitivas". Segundo o governo de Xi Jinping, que fez um apelo para que a União Europeia (UE) não se junte à estratégia americana, os Estados Unidos estão "muito doentes" por tentarem criar uma frente unida anti-China.

"Exigimos racionalidade da Otan na hora de avaliar o desenvolvimento da China e que deixem de exagerar a teoria de ameaça chinesa. Eles não devem usar nossos interesses legítimos e direitos como desculpas para manipular e criar enfrentamentos artificiais", disse a missão diplomática chinesa na União Europeia em comunicado. "A China não representa um desafio sistêmico para ninguém, mas se alguém quiser nos impor um, não permaneceremos indiferentes."

Ao contrário de seu antecessor, que apostava no embate direto contra Pequim, a estratégia do presidente dos EUA Joe Biden é juntar seus aliados europeus e asiáticos para tentar impedir que a China desafie a supremacia americana. A Otan é um elemento-chave da estratégia anti-Pequim de Biden.

O comunicado da cúpula de segunda-feira menciona a China dez vezes - na última reunião, em 2019, a potência asiática havia sido mencionada apenas uma.

Na segunda-feira, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, havia dito que todos os 30 países-membros da aliança reconhecem que Pequim "está aumentando suas capacidades militares e continua com seu comportamento coercitivo", buscando neutralizar as acusações de que Washington pauta a agenda monocraticamente. A China, ele disse, está "expandindo rapidamente seu arsenal nuclear" e é "opaca" na hora de prestar contas sobre sua modernização militar.

Em sua nota oficial, a missão chinesa na UE chama as afirmações de "caluniosas" e alegou que a Otan, com sua "mentalidade de Guerra Fria, busca atacar o desenvolvimento pacífico" do país.

As políticas de defesa da China, afirmou, "são legítimas e transparentes", ressaltando que o arsenal da Otan é muito superior ao de Pequim. "As cifras de armas nucleares da China não alcançam a magnitude disponível nos países da Otan. Além disso, a China sempre se comprometeu a não dispará-las primeiro em nenhuma circunstância", afirma a nota. "Se a Otan está tão comprometida com 'a paz, a segurança e a estabilidade', pode chegar em um consenso a respeito disso como a China fez?"

A tentativa de formar uma ofensiva de aliados para conter Pequim já havia sido evidenciada no fim de semana, durante a reunião do G7, quando o grupo adotou sua retórica mais dura diante de Pequim desde o Massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989. Em uma vitória diplomática para Biden, os EUA e seus aliados apoiaram uma nova investigação da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre as origens do coronavírus.

"Os EUA estão doentes e, de fato, muito, muito doentes. É melhor que o G7 meça o seu pulso e prescreva alguma medicação", disse nesta terça-feira o porta-voz da Chancelaria, Zhao Lijian, em seu primeiro briefing à imprensa desde o encontro de ambos os grupos que reúnem os EUA e seus aliados.

O comunicado do G7 também instou Pequim a respeitar os direitos humanos, em especial na província de Xinjiang, além de defender a autonomia de Hong Kong - ambos assuntos que Pequim considera serem domésticos.

Comentando a cúpula do G7, Zhao afirmou que ela "expôs as má intenções dos EUA e de alguns outros para criar confronto, distanciamento e expandir diferenças e discórdias". Buscando minimizar a influência americana, o porta-voz disse que a China e União Europeia são "parceiros estratégicos, e não rivais sistêmicos", acusando Washington de tentar criar barreiras entre Bruxelas e Pequim. No entanto, ele também acusou a Otan de infringir "guerra e caos" ao mundo, referindo-se ao bombardeio da embaixada chinesa em Belgrado, na Sérvia, em 1999.

"É a dívida de sangue da Otan com o povo chinês", disse o porta-voz sobre o incidente, pelo qual Washington posteriormente se desculpou e afirmou ter sido um erro causado por mapas desatualizados.

Defesa mútua

Liderada pelos EUA, a Otan foi criada em abril de 1949, em meio à Guerra Fria, com o objetivo específico de garantir a segurança coletiva dos EUA e da Europa Ocidental frente ao bloco liderado pela antiga União Soviética. Com o fim da Guerra Fria, a Otan perdeu seu propósito inicial e passou a se concentrar em novos desafios de segurança, como o combate ao terrorismo internacional - explicitado na Guerra do Afeganistão, com a invasão de 2001 - a contenção da Rússia e, mais recentemente, a ascensão da China como potência econômica e militar.

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