A delegação norte-americana de mais alto nível a chegar a Cuba em 35 anos iniciou nesta quarta-feira (21) conversas com autoridades cubanas para restaurar as relações diplomáticas e eventualmente estabelecer laços comerciais e de viagem plenos entre os dois países, adversários desde os tempos da Guerra Fria.
Os dois dias de reuniões são o primeiro contato desde que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e seu colega cubano, Raúl Castro, anunciaram em 17 de dezembro terem obtido um avanço histórico nas retomada das relações depois de 18 meses de negociações secretas.
Obama abriu caminho para a suspensão das sanções econômicas e do embargo comercial de 53 anos contra a ilha comunista. "Estamos pondo fim a uma política que já passou há muito do prazo de validade. Quando aquilo que você está fazendo não funciona há 50 anos, é hora de tentar algo novo", Obama disse ao Congresso em seu discurso anual do Estado da União na noite de terça-feira (20).
Ele também exortou o Congresso a começar a trabalhar para encerrar o embargo, mas críticos afirmam que primeiro Obama precisa obter concessões do governo comunista em relação a presos políticos e direitos democráticos, a apelos de cidadãos norte-americanos cujas propriedades foram nacionalizadas após a revolução cubana de 1959 e a fugitivos norte-americanos que receberam asilo no país vizinho.
"Depois de cinco décadas de governo autoritário e partido único, precisamos reconhecer que os Castro jamais irão relaxar sua mão de ferro sobre Cuba a menos que sejam compelidos a fazê-lo", declarou o senador Robert Menéndez, cubano-americano e democrata pelo Estado de Nova Jersey, em uma carta ao secretário de Estado, John Kerry.
"À medida que o governo busca um maior engajamento com Cuba, exorto o senhor a ligar o ritmo das mudanças na política dos EUA a ações recíprocas do regime dos Castro."
Direitos humanos
As conversas desta quarta-feira irão se concentrar em temas relacionados à imigração, e na quinta-feira as autoridades tratarão do restabelecimento dos laços diplomáticos. Os dois lados também devem delinear metas de mais longo prazo.
Enquanto Cuba irá buscar a suspensão do embargo e pedir para ser retirada da lista norte-americana de Estados patrocinadores do terrorismo, o governo dos EUA irá pressionar o regime de partido único para que conceda mais direitos humanos.
Antevendo que a delegação norte-americana irá tocar nesta questão, uma autoridade do primeiro escalão do Ministério das Relações Exteriores cubano disse a repórteres na terça-feira que Havana tem suas preocupações a respeito dos direitos humanos nos EUA, citando as mortes de negros desarmados por parte de policiais em Nova York e Ferguson, no Missouri.
Cuba ainda afirmou que irá protestar contra as leis norte-americanas que garantem acolhimento a cubanos assim que pisam em seu território, uma política de exceção que Havana diz incentivar o tráfico humano e as perigosas travessas marítimas rumo à Flórida em barcos improvisados.
Obama tem a autoridade executiva para restaurar os laços diplomáticos e suspender sanções, mas precisa do Congresso, controlado pelos republicanos, para revogar o embargo econômico.
A delegação dos EUA é liderada por Roberta Jacobson, diplomata norte-americana para a América Latina e primeira secretário-assistente de Estado a visitar Cuba em 38 anos. Uma autoridade dos EUA de classificação semelhante visitou Cuba há 35 anos.
A equipe de Cuba é liderada por Josefina Vidal, principal diplomata do país para assuntos relacionados aos EUA.
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