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O Departamento de Estado dos Estados Unidos pediu nesta quinta-feira (14) por uma investigação independente para determinar a causa da morte do general aposentado Raúl Baduel, ex-ministro de Defesa da Venezuela e considerado preso político no país. O escritório de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) também defendeu uma investigação sobre o caso e a libertação dos presos que foram detidos arbitrariamente.
Autoridades do regime chavista disseram que Baduel morreu de parada cardiorrespiratória em decorrência de Covid-19, na terça-feira, sem informar se ele estava em um hospital ou no presídio quando morreu. O militar estava preso em uma sede do Sebin, o serviço de inteligência do país.
Os seus familiares, que souberam da morte pelas redes sociais, discordam dessa versão e dizem que ele não estava infectado por coronavírus. A filha dele, Andreina Baduel, afirmou ontem que o pai foi assassinado pelo regime venezuelano. Também na quarta-feira, parentes de Baduel estiveram no necrotério e exigiram que o seu corpo não fosse cremado.
"A morte recente do preso político venezuelano Raúl Baduel lembra ao mundo sobre as condições deploráveis e perigosas enfrentadas por prisioneiros políticos sob custódia do regime [do ditador Nicolás] Maduro", disse Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado americano, à imprensa. Ele acrescentou que o governo americano exige a libertação imediata e incondicional de todos os presos políticos no país sul-americano.
"Estamos profundamente entristecidos pela morte de Raúl Baduel em detenção", disse o escritório de direitos humanos da ONU, chefiado pela alta comissária Michelle Bachelet, em publicação no Twitter.
"Nós pedimos que a Venezuela garanta uma investigação independente, tome todas as medidas necessárias para garantir acesso a serviços de saúde para detentos, considere medidas alternativas à detenção e liberte todos os detidos arbitrariamente".
Baduel era um fiel aliado de Hugo Chávez, mas voltou-se contra ele quando o ex-mandatário propôs uma reforma constitucional autoritária no país. Ele foi preso em 2009 e recebeu liberdade condicional em 2015. Segundo a justiça venezuelana, ele não cumpriu as exigências da condicional, o que o levou novamente à prisão em 2017. Posteriormente, Baduel foi acusado de novos crimes, incluindo contra a integridade e a independência da nação, o que fez com que sua condenação fosse prorrogada indefinidamente.
O advogado da família Baduel, Omar Mora Tosta, garantiu, em entrevista à emissora "VPI", que a causa da morte do militar precisa ser investigada e que já foi feito pedido para a entrega do corpo. "Que não aconteça como em outros casos, em que eles se desfaçam ou cremem as pessoas ao bel-prazer", disse o representante.
Além disso, Mora Tosta garantiu que irá fazer pedido por uma investigação por uma "comissão internacional" para determinar as causas da morte do ex-ministro, garantindo não haver credibilidade na versão do procurador-geral.
Venezuela tem atualmente 260 presos políticos
O diretor-presidente da ONG Foro Penal, Alfredo Romero, divulgou nesta quinta-feira que existem 260 pessoas detidas na Venezuela que são consideradas "presos políticos" - um a menos do que no balanço divulgado na semana passada pela organização, antes da morte de Raúl Baduel.
De acordo com as informações publicadas pelo ativista no Twitter, são 245 homes e 14 mulheres encarcerados. Por ocupação, são 133 militares e 127 civis, indica a fonte. Além disso, a ONG Foro Penal ainda indicou ter registros sobre um adolescente sob custódia das autoridades venezuelanas.
A organização relembrou que, desde 2014, registrou 15.747 prisões por motivações políticas e que prestou assistência para mais de 12 mil cidadãos que hoje já estão em liberdade. Além disso, mais de 9 mil pessoas na Venezuela enfrentam "medidas restritivas da liberdade", segundo a ONG.
No último dia 6 de setembro, no mais recente boletim da ONG, foi informado que 42 dos 262 cidadãos considerados presos políticos na Venezuela estavam "em situação de saúde crítica".
Na última terça-feira, a ONG divulgou que morreram no país 12 presos políticos, que estavam sob a custódia do Estado, desde 2014.