Os Estados Unidos e a Turquia trabalham na criação de uma zona de segurança, na fronteira entre o país turco e a Síria, com o objetivo de afastar a facção radical Estado Islâmico (EI) da região. Os dois países já teriam entrado em acordo sobre os principais pontos do plano.
A campanha envolveria forças turcas, grupos sírios insurgentes e aviões militares americanos para estabelecer uma faixa com cerca de 100 quilômetros de extensão, da margem oeste do rio Eufrates à província síria de Aleppo, sem a presença dos radicais islâmicos.
Um dos efeitos colaterais do plano seria o estabelecimento de uma zona de exclusão aérea, objetivo há muito tempo almejado pelos turcos e pelas forças sírias de oposição ao ditador Bashar al-Assad — mas que não estaria incluído formalmente no acordo. Os alvos do EI que ficam na área estão entre os que mais sofrem ataques aéreos das forças militares pró-Assad.
Jornais da Turquia informaram que a zona de segurança deve se estender por cerca de 40 km em direção ao território sírio, incluindo lugares de importância simbólica para o EI, como as cidades de Dabiq e Manbij. Na semana passada, após muitas críticas internacionais e um atentado suicida que deixou 32 mortos, a Turquia aceitou ceder bases aéreas para a coalizão liderada pelos EUA que combate o EI. Na sexta-feira, a aviação turca bombardeou postos do EI em território sírio.
“Não queremos ver o EI em nossa fronteira. Queremos substituí-lo pela oposição moderada”, afirmou o primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, dando a entender que o país poderá dar apoio aos grupos que enfrentam as forças leais ao presidente sírio, Bashar al-Assad. O grupo mais cotado é o Exército Livre da Síria (ELS), que enfrenta as forças de Assad, segundo fontes ligadas ao governo turco. O apoio ficará limitado a ataques aéreos: Davutoglu disse ontem que o país não enviará tropas por terra.
O grupo que assumir o controle da faixa de segurança projetada por Ancara e Washington também deverá garantir a segurança da população civil, já que a Turquia prevê transformar esta área em local de refúgio para os deslocados sírios. O governo turco sugere ainda que os refugiados que atualmente estão na Turquia, cerca de 1,7 milhão de pessoas, retornem a essa faixa, mas não forçará isso, de acordo com as fontes.
Segundo Hefiz Abdulrahman, analista sírio refugiado na Alemanha e cofundador da organização de direitos humanos curda Maf, a campanha turca contra o EI não vem de um repentino desejo de enfrentar a milícia jihadista após dois anos compartilhando trechos de fronteira, mas da necessidade de conter a expansão curda na Síria rumo ao oeste.