A Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos teve acesso a registros telefônicos de milhões de clientes da empresa de telefonia Verizon Communications sob a autorização de uma ordem judicial secreta, conforme publicado pelo site do jornal britânico "The Guardian". A ordem, classificada de "top secret" e emitida pelo Tribunal de Inteligência e Vigilância Exterior, exige à Verizon a apresentação de dados eletrônicos, incluindo registros de chamadas, de forma contínua e todos os dias até que se expire em 19 de julho.
Assinada pelo juiz Roger Vinson, a pedido do FBI, a ordem inclui os números de telefone discados pelos clientes, a localização das chamadas, a duração e frequência, mas não o conteúdo das ligações.
A revelação chega no momento em que o governo de Obama é alvo de críticas por assuntos que afetam a privacidade, como as práticas de espionagem de repórteres da agência AP e os e-mails de um jornalista da Fox.
Casa Branca reconhece grampos
A Casa Branca reconheceu hoje que grampeou milhões de clientes de telefonia fixa e móvel da operadora Verizon, a segunda maior do país. O governo justifica a ação dizendo que é "uma ferramenta muito importante para proteger o país de ameaças terroristas".
A revelação deverá ser motivo para novas críticas ao presidente Barack Obama, que em maio reconheceu que grampeou telefones da agência de notícias Associated Press. Na época, ele afirmou que a intenção era evitar que soldados americanos morressem em um ataque terrorista no Iêmen.
O governo também é acusado de ordenar que a Receita Federal monitorasse as movimentações financeiras dos membros do chamado Tea Party, grupo ultraconservador do Partido Republicano. A revelação terminou com licença administrativa do chefe do órgão fiscal, Lois Lerner.
Ainda não se sabe o que a Agência Nacional de Segurança e o Birô Federal de Investigações (FBI, em inglês) fizeram com os registros. A operadora ainda não comentou sobre o incidente.
Invasão
A ordem de interceptar telefones faz parte do chamado Ato Patriótico (Patriot Act, em inglês), aprovado em 2001 durante o governo de George W. Bush. O documento inclui uma série de medidas para evitar o avanço de terroristas no país e é uma resposta aos atentados de 11 de setembro.A medida gerou forte controvérsia por permitir a violação do sigilo telefônico, direito garantido pela primeira emenda da Constituição dos Estados Unidos. Em 2005, o jornal "The New York Times" revelou que o governo de Bush teve acesso às gravações de ligações internacionais de clientes da AT&T.
Após as denúncias, diversos cidadãos entraram com ações judiciais contra as operadoras. Os processos foram arquivados em 2008, após o Congresso americano aprovar uma lei que imunizava as companhias telefônicas que revelaram os dados a pedido do governo.
A medida foi motivo de fortes críticas de Obama durante sua primeira campanha eleitoral, no mesmo ano. No entanto, a informação sobre os grampos aos clientes da Verizon e aos jornalistas da Associated Press são prova de que a prática continua durante os cinco anos de sua administração.