A poucos dias do início do contestado segundo mandato do ditador Nicolás Maduro, o Departamento do Tesouro americano anunciou nesta terça-feira (8) sanções contra cidadãos e empresas da Venezuela que estariam envolvidos em um esquema de corrupção baseado em operações cambiais irregulares.
Segundo o escritório de controle de ativos estrangeiros do Tesouro dos EUA, o esquema, que operava desde 2008, buscava tirar vantagem das práticas cambiais do governo venezuelano. Com o mecanismo, foram gerados cerca de US$ 2,4 bilhões (R$ 9 bilhões) em rendimentos considerados fruto de corrupção.
As sanções serão aplicadas contra sete pessoas, entre elas a ex-secretária do Tesouro venezuelana Claudia Díaz Guillén - que atuou entre 2011 e 2013, ainda no governo de Hugo Chávez - e o empresário Raúl Gorrín, presidente do canal privado de televisão Globovisión. Eles teriam subornado o Tesouro venezuelano para conduzir operações cambiais irregulares na Venezuela.
Foram ainda acionadas 23 entidades pelo papel no esquema de corrupção, e uma aeronave foi confiscada. O Tesouro congelou propriedades sob a jurisdição americana e os cidadãos do país foram proibidos de fazer negócios com os sancionados.
"Pessoas de dentro do regime venezuelano pilharam bilhões de dólares da Venezuela enquanto o povo venezuelano sofre. O Tesouro está mirando a rede de conversão cambial que era outro esquema ilícito que o regime venezuelano usou por muito tempo para roubar sua população", afirmou, em comunicado, o secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin.
Ele afirmou ainda que as ações contra o esquema corrupto de conversão de moedas expõem "práticas deploráveis" que infiltrados no regime venezuelano usaram para se beneficiar às custas da população do país.
Mnuchin acrescentou que o governo americano vai continuar comprometido a responsabilizar os culpados pelo que chamou de trágico declínio venezuelano, e a usar meios econômicos e diplomáticos para apoiar os esforços da população do país "a restaurar sua democracia."
Também nesta terça, foi divulgado que a Venezuela entrou com uma queixa na OMC (Organização Mundial do Comércio) para questionar as sanções americanas, afirmando que as restrições de viagem impostas a indivíduos e as limitações comerciais ferem as regras do organismo multilateral.
A reclamação foi protocolada em 28 de dezembro. No documento, a Venezuela também menciona as regras americanas sobre vendas de ouro e tratamento discriminatório contra dívida do país e transações em moedas digitais.
O esquema denunciado pelo Tesouro americano ocorreu sob a gestão de Guillén e de Alejandro Cedeno, ex-secretário do Tesouro venezuelano. Ele foi condenado nos EUA em novembro de 2018 a dez anos de prisão por aceitar US$ 1 bilhão (R$ 3,7 bilhões) em propinas pelo papel na estrutura de corrupção.
O Tesouro é responsável por gerenciar as finanças do governo da Venezuela usando os bolívares, moeda do país. Para isso, mantém ativos em libra, dólares e bolívares, que somam o valor que o órgão tem para gastar nas operações do regime.
Quando não havia bolívares suficientes para financiar projetos do governo, disse o Tesouro americano, Andrade usava uma série de casas de câmbio para trocar dólares pela moeda venezuelana. As casas de câmbio trocavam dólares por bolívares no mercado paralelo a um valor maior do que o câmbio oficial estipulado pelo governo.
Essas casas, então, ficavam com a diferença, gerando lucros para elas na conversão de bolívares para o Tesouro venezuelano. Somente casas autorizadas pelo governo poderiam participar das operações de conversão com o regime. Cedeno, e depois Guillén, eram responsáveis pela decisão.
Os lucros eram escondidos em contas bancárias e investimentos na Europa e nos EUA. Os dois ex-secretários do Tesouro também deram a Raúl Gorrín acesso às taxas de câmbio preferenciais usadas pelo governo para ampliar o lucro do empresário, dono de casas de câmbio que tinham contratos com o regime chavista.
Em troca, Gorrín e outro empresário, Leonardo González Dellan, pagavam propinas a Cedeno. Mais tarde, ele deixou Guillén como sucessora no esquema.
A parte que Cedeno tinha a receber nas transações irregulares era enviada sob a forma de ativos comprados por outros indivíduos em nome do ex-secretário do Tesouro, mas sob comando dele. Foram pagamentos relacionados a aeronaves e iates, propriedades nos EUA, cavalos e relógios caros.