Washington – As Forças Armadas dos EUA estão investindo bilhões de dólares na pesquisa de neuroarmas e outros armamentos não convencionais. Aparelhos de ressonância magnética para detectar mentiras, medicamentos que mantêm soldados acordados por quatro dias, pílulas anticulpa, bombas sonoras e de fedor, e drogas para conseguir confissões ou confundir o inimigo são algumas das inovações em estudo pelo Pentágono.

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O objetivo é usar biologia e neurologia para "tornar os combatentes mais fortes, mais alertas, mais resistentes e com maior capacidade de curar seus ferimentos" e "controlar a mente a distância", diz em um relatório recente Tony Tether, diretor da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada da Defesa (Darpa, na sigla em inglês).

A Darpa é o posto avançado do Departamento de Defesa para pesquisas de ponta. Foi ela que desenvolveu o radar terrestre, o Stealth Fighter (avião invisível ao radar) e os veículos aéreos sem tripulação que foram usados em missões no Afeganistão. Mais do que isso, a Darpa foi pioneira no desenvolvimento do mouse e da internet – chamada de Darpanet (ou Arpanet) em seus primórdios.

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Desde 2001, a Darpa está focando os seus recursos no desenvolvimento de armamentos não convencionais usando a neurologia. "São armas que usam o sistema nervoso central de alguma maneira", explica Jonathan Moreno, autor do livro Guerra da Mente: Pesquisas Neurológicas e Segurança Nacional, que acaba de ser lançado nos EUA. Jonathan é professor de Ética Médica e História da Ciência da Universidade da Pensilvânia e foi integrante de duas comissões de ética do governo.

Um dos principais campos de pesquisa são as armas não letais. A mais famosa, testada em campo pelo Pentágono desde 2004, é o ADS – Active Denial System (sistema ativo de negação). Esse dispositivo emite ondas de energia eletromagnética que causam dor cortante em humanos, mas não causam danos físicos. Quando atingida pelos raios, a pessoa tem a sensação de estar sendo queimada. A Raytheon entregou ao exército, em 2005, um protótipo de Humvee – modelo de jipe blindado – equipado com ADS.

Segundo o Pentágono, a idéia dessas armas não letais é "incapacitar pessoas ou material, enquanto se minimizam as fatalidades, ferimentos ou danos indesejados à infra-estrutura e ao meio ambiente." Outras armas não letais testadas pelos militares americanos são as balas que se desintegram no ar, espalhando substâncias paralisantes, e uma gosma que imobiliza as pessoas.

Os militares também estão estudando armas sonoras. O exército já programou a instalação dos chamados "equipamentos acústicos de longo alcance" nos tanques Stryker que serão usados no Iraque. Esses equipamentos emitem avisos sonoros que têm alcance de mais de 300 metros e serão usados para manter a ordem em aglomerações em locais de insurgência no Iraque. Já o Hida (equipamento acústico de alta intensidade direcionado) é mais agressivo: produz uma bala sônica que causa uma dor tão intensa a ponto de provocar vômitos. Não deixa seqüelas.

Outra linha de pesquisa são as "bombas de fedor". Os pesquisadores começaram testando bombas com cheiro de fezes. Mas segundo um texto do Exército, essa bomba "não foi eficiente porque pessoas de muitos países não se incomodam com o cheiro de fezes, já que ele é muito presente". Os pesquisadores estão agora em busca de um mau cheiro que seja "ofensivo" para pessoas de qualquer lugar do mundo.

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Para Moreno, é legítimo usar os avanços da ciência para defender o país de uma ameaça tão complexa como o terrorismo. "Precisamos encontrar novas maneiras de agir nessa batalha assimétrica contra células terroristas", diz ele. "Mas os perigos de usar neurociências no desenvolvimento de armas são enormes." Moreno conta que toda semana recebe ligações de pessoas que acreditam que a CIA, agência de inteligência dos EUA está controlando a mente delas. "Não acredito nessas teorias conspiratórias, se isso existisse, já teria vazado. Mas, dado o enorme interesse da Darpa por monitorar cérebro e drogas que alteram comportamento, há motivos para preocupação; daqui a pouco, pode haver razão para paranóia."