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Ucranianos pró-Rússia se manifestam em cima da estátua de Vladimir Lenin, em Donetsk | Konstantin Chernichkin/Reuters
Ucranianos pró-Rússia se manifestam em cima da estátua de Vladimir Lenin, em Donetsk| Foto: Konstantin Chernichkin/Reuters

Entrevista

Conflito com a Rússia teria consequências desastrosas

Tatyana Friedrich, professora de Direito Internacional da UFPR

O ingresso de tropas militares russas na Ucrânia acendeu o sinal de alerta na comunidade internacional, que teme um novo conflito armado no Leste Europeu. Para Tatyana Friedrich, professora de Direito Internacional da UFPR, uma ofensiva armada em território ucraniano pode ter consequências desastrosas, abrindo precedente para novas intervenções.

Na sua avaliação, a possibilidade de uma ofensiva militar russa na Ucrânia é real ou mais uma questão de retórica?

Intervenção militar é o recurso mais extremo, pois viola os valores fundamentais do direito internacional e das relações internacionais, interferindo na soberania política, integridade territorial e autodeterminação do povo. [O presidente russo Vladimir] Putin tem tentado resgatar o protagonismo russo na região e o problema é que o faz de forma autoritária. A Ucrânia lhe é estratégica. Então ainda estamos diante de uma retórica que pode se tornar uma realidade, com consequências desastrosas se não for contida pela comunidade internacional.

Que consequências um con­flito dessa natureza traria para o cenário internacional?

Instabilidade nas relações internacionais, precedentes para novas intervenções, esvaziamento dos princípios e regras relativos à busca pela solução pacífica das controvérsias e não ingerência nos assuntos internos dos países.

O que muda para as duas partes no caso da adesão da Ucrânia à União Europeia?

A Ucrânia fica mais próxima de um processo de integração regional exitoso, ainda que esteja sofrendo com a crise de 2008. A UE tem acesso a mão de obra barata, branca e cristã; mercado de produção agrícola e mais um país que faz fronteira com a Rússia. Passa também a dominar o local estratégico para o transporte do gás russo à UE. Além disso, abre uma porta rumo ao Oriente, por terra.

Um dos desafios do próximo governo ucraniano é administrar um país historicamente dividido. Como lidar com essa divisão?

Esse é o maior desafio, buscar a unidade. Precisa de muito tato político interno, além de muita diplomacia ao conduzir a política externa. Obstáculos econômicos também terão de ser superados.

Anderson Gonçalves

Tensão

Putin diz que busca diplomacia, mas expande ocupação na Crimeia

Agência Estado

O presidente russo, Vladimir Putin, disse ontem em um telefonema ao primeiro-ministro britânico, David Cameron, que desejar encontrar uma "solução diplomática" para a crise na Ucrânia.

A declaração de Putin ocorre depois que a Rússia expandiu neste fim de semana sua presença militar na península da Crimeia. Em Simferopol, na capital da Crimeia, uma multidão de mais de 4 mil pessoas tomaram a praça Lenin ontem para defender uma unificação com a Rússia. A região fará um referendo em 16 de março para decidir se deixa a Ucrânia para se juntar aos russos.

Moscou está disposta a providenciar US$ 1,1 bilhão em ajuda à Crimeia, disse Pavel Dorokhin, vice-presidente do comitê de indústria do Estado de Duma. "O governo russo já reservou muito dinheiro, cerca de 40 bilhões de rublos, para apoiar o desenvolvimento da infraestrutura industrial e econômica da Crimeia", disse.

A Rússia tem profundos interesses econômicos na Crimeia. Como parte de um acordo que expira em 2035, Moscou arrenda o porto de Sevastopol em troca de 30% de redução no preço do gás russo.

Veja também

EUA envia caças à Polônia para exercício de treinamento

Leia matéria completa

  • Cerca de 250 descendentes de ucranianos cercaram a estátua do poeta Taras Chevtchenko com bandeiras, discursos e hinos.
  • Descendente de ucranianos participa da manifestação
  • Vista geral da manifestação dos ucranianos
  • Evento contou com vários discursos sobre a tensão no país
  • Ucranianos também se manifestaram por meio da música
  • O embaixador da Ucrânia, Rostyslav Tronenko
  • O embaixador da Ucrânia, Rostyslav Tronenko, com a esposa Fabiana, que é curitibana
  • Descendentes de ucranianos durante a manifestação desta tarde

Os Estados Unidos estão enviando uma dúzia de aviões de combate F-16 para a Polônia, como parte de um exercício de treinamento, em meio a contínuas tensões entre a Ucrânia e a Rússia, informou ontem o Ministério da Defesa polonês.

Veja fotos da manifestação

Cerca de trezentos soldados também serão enviados para a Polônia, como parte do exercício. O envio das equipes e aeronaves deve ser concluído até quinta-feira.

O secretário de Estado dos EUA para a Defesa, Chuck Hagel, e seu homólogo polaco Tomasz Siemoniak concordaram com o envio durante um telefonema, de acordo com um comunicado do ministério polonês Os soldados teriam sido enviados a pedido da Polônia.

O exercício foi originalmente planejado para ser menor, mas foi ampliado por causa da "situação política tensa" na Ucrânia, disse o porta-voz do ministério da defesa, Jacek Sonta.

O envio das tropas e das aeronaves à Polônia acontece depois de Washington anunciar que também estava enviando quatro aviões F-15 para a Lituânia para reforçar a vigilância no espaço aéreo em torno do Báltico.

De acordo com o Ministério da Defesa da Lituânia, o movimento foi uma resposta à "agressão russa na Ucrânia e ao aumento da atividade militar em Kaliningrado", o enclave russo que faz fronteira com a Polônia e a Lituânia.

Enquanto a Polônia tem 48 de seus próprios F-16, os estados bálticos não têm meios aéreos suficientes e se voltam à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para fornecer proteção para seus espaços aéreos.

Encontro

O presidente dos EUA Barack Obama vai encontrar nesta semana com o primeiro ministro interino da Ucrânia, Arseniy Yatsenyuk, confirmou a Casa Branca ontem. O encontro é uma mostra do apoio dos Estados Unidos ao incipiente novo governo da Ucrânia.

Mais cedo, o próprio Yatsenyuk tinha informado que viajaria aos Estados Unidos nesta semana para discutir a crise na Crimeia.

O vice-presidente norte-americano Joe Biden vai encurtar sua viagem à América Latina para estar presente na reunião, informou um assessor.

A reunião na Casa Branca entre Obama e Yatsenyuk deve ter como foco as opções para resolver pacificamente a invenção militar da Rússia na região da Crimeia, informou a Casa Branca, acrescentando que a solução deve respeitar a soberania e a integridade territorial da Ucrânia.

Ao convidar Yatsenyuk, os EUA também está enviando um sinal claro a Moscou que os EUA o consideram como líder legítimo da Ucrânia, pelo menos por enquanto. O presidente russo, Vladimir Putin, alega que Yatsenyuk tomou o poder por meio de um golpe inconstitucional.

Embaixador quer pronunciamento do Brasil

Helena Carnieri

Em discurso durante evento da comunidade ucraniana em Curitiba, o embaixador Rostyslav Tronenko cobrou do governo brasileiro que se pronuncie contra a ocupação do território da Crimeia pela Rússia – para ele, uma clara violação do capítulo 6 da Carta das Nações Unidas. O diplomata participou ontem de manifestação que reuniu cerca de 250 descendentes do país eslavo na Praça da Ucrânia.

"Não queremos que o Brasil ‘compre a briga’, embora a situação valesse uma. E entendo que o Brasil precisa dos Brics", disse o embaixador à Gazeta do Povo, referindo-se ao bloco econômico que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. "Mas gostaríamos de qualquer gesto de solidariedade do Brasil como membro da ONU. Afinal, o capítulo 6 da Carta das Nações Unidas fala da solução pacífica de controvérsias, e não temos diálogo com a Rússia."

Tronenko afirma estar sendo pressionado pela comunidade ucraniana brasileira a pedir esse posicionamento do governo brasileiro, motivo pelo qual também decidiu, de última hora, participar de uma manifestação de descendentes em Prudentópolis (região central do Paraná), no sábado, e do evento de ontem em Curitiba. A própria comunidade já enviou uma carta ao governo brasileiro pedindo o fim da imparcialidade diplomática.

Também em discurso, a embaixatriz Fabiana Tronenko, que é curitibana, afirmou que o casal tem recebido e-mails de brasileiros prontos a "pegar em armas para ir lutar na Ucrânia".

A manifestação deste domingo marcou o bicentenário de nascimento do herói nacional da Ucrânia, o poeta Taras Chevtchenko, que pregava a independência do país e ao redor de cuja estátua foi realizada a solenidade. Participaram ainda a cônsul Larysa Myronenko, líderes religiosos,o presidente da Câmara Municipal, Paulo Salamuni e o deputado federal Ângelo Vanhoni (PT-PR), responsável pela instituição do 24 de agosto como Dia Nacional da Comunidade Ucraniana. Em seu discurso, Vanhoni comparou a crise do país eslavo com uma inimaginável invasão da Itália ao Brasil para defender a comunidade italiana local.

O Paraná soma 400 mil do meio milhão de descendentes ucranianos no Brasil.

Veja fotos da manifestação

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