Em mais um episódio da crise gerada por supostos ataques sônicos contra diplomatas americanos em Havana, o Departamento de Estado anunciou nesta terça (3) que ordenou pela manhã a expulsão de 15 funcionários da embaixada de Cuba em Washington. Eles terão sete dias para deixar o país.
Em uma teleconferência com jornalistas, um alto funcionário do Departamento de Estado disse que a decisão "não representa uma mudança de política" em relação à ilha e que os dois países manterão suas relações diplomáticas.
O movimento, segundo ele, serviria para igualar, nas embaixadas dos dois países, o impacto pela retirada de 60% dos funcionários americanos da representação dos EUA em Havana, anunciada na última sexta (29).
"A decisão de expulsão foi tomada diante da inabilidade de Cuba em proteger os nossos diplomatas em Havana e também para assegurar uma equivalência nos impactos sobre as nossas respectivas operações", disse o funcionário.
As duas embaixadas foram oficialmente reabertas em agosto de 2015 depois de 54 anos fechadas. Apesar das declarações sobre a manutenção das relações diplomáticas, as decisões tomadas nos últimos dias representarão um golpe no processo de reaproximação entre os dois países acordado por Barack Obama e Raúl Castro.
Em junho, o presidente Donald Trump anunciou que estava "cancelando" o acordo de aproximação feito entre os dois países em 2014. Na prática, ele restabeleceu restrições para viagens de americanos e determinou a proibição de transações comerciais entre empresas americanas e entidades militares cubanas.
"Esse movimento não sinaliza uma mudança de política ou a determinação de responsabilidade pelos ataques a funcionários do governo americano em Cuba. Estamos mantendo as relações diplomáticas com Havana, disse o funcionário do Departamento de Estado nesta terça (3).
Ele não quis revelar quanto os 15 funcionários representam do total do quadro da embaixada cubana em Washington, mas especula-se que seja equivalente aos 60% retirados da embaixada americana na ilha.
Ataques
O funcionário afirmou que agora já chegam a 22 as vítimas americanas dos ataques misteriosos. Diplomatas, servidores da embaixada e familiares apresentaram, nos últimos sete meses, sintomas como perda de audição permanente, lesão cerebral leve, problemas de visão, fortes dores de cabeça, tontura e dificuldade de dormir.
Na teleconferência, o representante do Departamento de Estado disse que as investigações na ilha prosseguem. Cuba nega envolvimento com os ataques, e os EUA têm evitado culpar Havana, já que o regime de Raúl Castro tem colaborado com as investigações e permitiu a atuação do FBI (polícia federal americana) na capital.
Segundo funcionários do governo ouvidos pela imprensa americana, os EUA consideram que um terceiro país, como a Rússia, poderia ser responsável pelos ataques.
Em Havana, a embaixada americana seguirá prestando apenas apoio de emergência a americanos em Cuba. A emissão de vistos foi suspensa por tempo indeterminado.
Apesar de não acusar o regime de Castro, o governo dos EUA tem ressaltado a responsabilidade que os cubanos têm sobre a segurança dos americanos em seu território.
Os EUA também divulgaram um alerta para que cidadãos americanos evitem viajar para Cuba agora. "Não temos informações de que cidadãos dos EUA foram afetados, mas os ataques ocorreram em residências diplomáticas dos EUA e em hotéis frequentados por cidadãos americanos", disse o secretário de Estado, Rex Tillerson, na última sexta.
Todas as reuniões entre os dois governos também serão realizadas, a partir de agora, nos EUA, e futuras viagens de trabalho serão adiadas.
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