O presidente americano, George W. Bush, afirmou neste sábado que os EUA estariam dispostos a cortar substancialmente os subsídios agrícolas se, em troca, tiverem acesso a mercados de bens e serviços. Em entrevista coletiva conjunta com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem se reuniu na residência presidencial de Camp David (Maryland), Bush reiterou seu compromisso em alcançar um acordo na Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) e disse acreditar ser possível trabalhar junto com Lula em um acordo para tratar o Brasil "com justiça".
- O Brasil e os EUA têm um importante desafio pela frente que é destravar a Rodada de Doha. Temos todo o interesse de chegar a um acordo - disse Bush. - O comércio é a a melhor solução para aliviar a pobreza do mundo.
As negociações na OMC, estagnadas desde o ano passado devido às divergências sobre o setor agrícola, dominaram a conversa de quase duas horas dos dois líderes em Camp David.
- Talvez a parte mais convincente das oportunidades para trabalharmos juntos esteja na Rodada de Doha - disse o chefe da Casa Branca.
Mostrando bastante otimismo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que nunca o Brasil e os EUA estiveram tão perto de um acordo. Lula disse também que o fim dos subsídios agrícolas é fundamental para ajudar no desenvolvimento dos países pobres, combater a fome e para tornar o etanol uma commodity.
O presidente brasileiro afirmou que tem ouvido dos líderes mundiais que um acordo sobre Doha é importante não só para o Brasil e os Estados Unidos.
- Nunca estive tão otimista - disse Lula, ao lado do presidente americano, George W. Bush. - [O acordo] é uma garantia de paz para o mundo. Estamos trabalhando para que as nações menos desenvolvidas tenham mais chances.
A promoção do etanol em nível mundial foi outro tema importante da reunião de Bush e Lula, a segunda em menos de um mês. O presidente dos Estados Unidos lembrou sua recente visita a uma unidade da Petrobras onde biocombustível é misturado à gasolina, que descreveu como "impressionante".
Essa visita aconteceu no encontro anterior entre os dois governantes, em 9 de março, em São Paulo, quando Bush estava em viagem pela América Latina.
Bush disse que os Estados Unidos apóiam a iniciativa de Lula para a promoção de biocombustíveis em nível mundial e para ajudar aos países latino-americanos a produzir e usar o etanol. Esse compromisso tomou forma em um "marco de entendimento" assinado em São Paulo com esse objetivo.
A conversa também abordou outros assuntos de política internacional, como a colaboração entre as duas nações em um projeto para erradicar a malária em alguns países da África.
- Não há nenhuma razão para que a malária mate tantas pessoas como mata - disse o presidente americano, que também elogiou o trabalho do Brasil no Haiti, onde brasileiros dirigem a missão de paz da ONU.
Durante a coletiva de imprensa, Bush reconheceu ainda a influência do Brasil sobre a América Latina.
- O Brasil tem muita influência, é um país muito importante - destacou Bush, após sua sétima reunião com Lula e a terceira em solo americano.
O fato de que este encontro tenha ocorrido em Camp David tem grande carga simbólica, já que a última estadia oficial de um latino-americano nessa residência presidencial foi em 1991, quando o então líder mexicano Carlos Salinas de Gortari foi hóspede de George Bush pai.
Em 1998, Bill Clinton também havia recebido Fernando Henrique Cardoso, mas foi uma visita privada, e não "oficial", como a de Lula.