Os Estados Unidos emitiram nesta sexta-feira (18) regulamentos que amenizam as restrições para empresas norte-americanas em busca de fazer negócios com Cuba e facilitam as viagens, em mais uma medida para suavizar o embargo comercial em um cenário de reatamento das relações com a ilha comunista.
Opinião: Nem comunista, nem liberal, apenas católico
Um país no qual o Estado leva 55 anos para autorizar a construção de uma nova igreja católica não pode ser considerado exatamente um oásis de liberdade religiosa.
Leia a matéria completaPapa viaja para Cuba neste sábado em meio a expectativas
- HAVANA
O papa Francisco viaja para Cuba neste sábado (19) para uma visita de três dias que é vista como um possível ganho de relações públicas para Havana, mas também traz embutido o risco de que o pontífice possa falar mais abertamente sobre democracia e direitos humanos do que o governo gostaria.
Na primeira visita papal a Cuba, em 1998, João Paulo 2º fez comentários incisivos sobre os chamados “prisioneiros de consciência” – opositores do regime levados à prisão – , dizendo que eles sofrem “um isolamento e uma penalidade” por simplesmente quererem “se manifestar com respeito e tolerância”. O papa Bento 16 fez comentários bem mais amenos sobre os prisioneiros em geral em 2012.
“Esse é um papa que até agora não tem hesitado em falar a verdade aos poderosos em qualquer uma de suas jornadas apostólicas. Ele tem enfatizado os direitos humanos onde quer que vá. Estou confiante de que fará o mesmo em Cuba”, disse Jean-Pierre Ruiz, professor de teologia da Universidade St. John, de Nova York.
O anúncio acontece na véspera da visita do papa Francisco aos dois países ,a partir deste sábado (19). O papa desempenhou um papel crucial nas negociações secretas entre Cuba e Estados Unidos, incluindo o envio de cartas a Raúl Castro e Barack Obama em 2014, que levaram ao restabelecimento das relações diplomáticas neste ano.
As regras afetam viagens, telecomunicações, serviços de Internet, operações comerciais, setor bancário e as remessas de valores, e permitem que companhias dos EUA se estabeleçam em Cuba.
“Uma relação EUA-Cuba mais forte e aberta tem o potencial de criar oportunidades econômicas tanto para norte-americanos quanto para cubanos”, disse o secretário do Tesouro dos EUA, Jacob Lew, em comunicado.
“Ao suavizar ainda mais estas sanções, os Estados Unidos estão ajudando a apoiar o esforço do povo cubano para conquistar a liberdade política e econômica necessária para construir uma Cuba democrática, próspera e estável”, afirmou.
O gesto surge no momento em que Washington e Havana trabalham para normalizar o relacionamento entre os dois ex-inimigos da Guerra Fria pela primeira vez em mais de um século.
Acréscimo
Os regulamentos divulgados nesta sexta-feira são um acréscimo a outros que o presidente norte-americano, Barack Obama, anunciou em janeiro para aliviar o embargo de 53 anos contra Havana.
Segundo as novas regras, as empresas podem abrir escritórios, lojas e armazéns em Cuba. Elas ainda permitem a oferta de serviços de Internet e de telecomunicações entre as duas nações vizinhas.
Embora não alterem o procedimento de seleção para quem viaja a Cuba, os regulamentos facilitam o trânsito de viajantes autorizados graças ao licenciamento de empresas de transporte, e também cancelam o limite das remessas de valores e possibilitam abrir e manter contas bancárias no país.
Presidentes
O presidente de Cuba, Raúl Castro, e o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, conversaram por telefone nesta sexta-feira (18) sobre a visita do papa Francisco aos dois países a partir de sábado (19) e novas regulamentações que aliviam o embargo comercial norte-americano à ilha, informou o governo cubano.
Os dois líderes também falaram sobre as relações diplomáticas recentemente restauradas entre os antigos inimigos da Guerra Fria, segundo o comunicado do governo.
Em outro comunicado, a Casa Branca acrescentou que os dois presidentes “discutiram medidas que os Estados Unidos e Cuba podem tomar juntos e individualmente, para avançar na cooperação bilateral”. Afirmou ainda que os dois países “vão continuar a ter diferenças em questões importantes e vão tratar dessas diferenças francamente”.
O governo cubano disse ainda que os dois líderes falaram ainda sobre a próxima Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), na qual os dois devem falar em 28 de setembro.
“O presidente Raúl Castro destacou a necessidade de aprofundar o alcance (das novas regras) e eliminar definitivamente a política de bloqueio, para benefício de ambos os países”, disse o comunicado cubano, referindo-se às novas regulamentações dos EUA, anunciadas nesta sexta, para facilitar o comércio, viagens e investimento.
“Eles também falaram sobre a visita iminente de Sua Santidade o papa Francisco à Cuba e aos Estados Unidos, reconhecendo a sua contribuição para o início de uma nova etapa nas relações bilaterais.”
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