Censura ou falha técnica? A queda do vídeo durante uma apresentação realizada por uma ministra de Taiwan na cúpula virtual sobre democracia convocada pelo presidente americano Joe Biden, realizada na semana passada, está gerando constrangimento entre os dois governos. O vídeo caiu após um mapa na tela mostrar a ilha em cor diferente da China.
Fontes ouvidas pela agência Reuters, que não quiseram se identificar, disseram que o vídeo da apresentação da ministra Audrey Tang, que cuida de assuntos relacionados à tecnologia digital no governo taiwanês, foi cortado durante um painel de discussão após ordem da Casa Branca e foi mantido apenas o áudio.
Quando o moderador deu novamente a palavra a Tang alguns minutos depois, sua imagem não aparecia no vídeo, apesar do áudio continuar disponível, e embaixo de uma captura de tela havia uma legenda com o nome da ministra. Depois, uma mensagem foi colocada na tela: “Quaisquer opiniões expressas por indivíduos neste painel são do próprio indivíduo e não refletem necessariamente as opiniões do governo dos Estados Unidos”.
“Foi claramente uma preocupação política”, disse uma das fontes ouvidas pela Reuters. “Foi uma reação interna totalmente exagerada.”
Washington não reconhece Taiwan diplomaticamente desde 1979 devido à política de “uma China só”, apesar de um tratado estipular ajuda americana à ilha. Desde 1949, quando teve fim a guerra civil chinesa e foi fundada a República Popular da China, Taiwan é administrada separadamente da China continental, mas é considerada por Pequim uma província do país a ser reincorporada até 2049.
Na semana passada, o governo da Nicarágua, que era um aliado de Taiwan, passou a reconhecer a China como um só país e rompeu relações com Taipei. Dessa forma, agora apenas 14 estados reconhecem o país: Essuatíni, Vaticano, Ilhas Marshall, Nauru, Palau, Tuvalu, Belize, Guatemala, Haiti, Honduras, São Cristóvão e Neves, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas e Paraguai.
Curiosamente, Biden havia feito questão de não convidar China e Rússia para a cúpula da democracia e de chamar Taiwan, a quem tem manifestado apoio diante das crescentes ameaças militares de Pequim. Outra ironia: o painel em que teria ocorrido a censura era sobre combate ao autoritarismo digital.
O mapa mostrava os países com cores diferentes conforme seu grau de abertura em direitos civis – Taiwan apareceu em verde, representando ser um país “aberto” nessas questões, enquanto China, Coreia do Norte e outras ditaduras apareceram em vermelho, representando regimes “fechados”. Aliados americanos na Ásia também apareceram com a cor vermelha no mapa, que foi produzido por uma ong sul-africana.
Apesar de a Reuters ter apontado que Taipei e Washington trocaram reclamações (o governo americano teria se queixado de que o mapa não havia aparecido em versões simuladas da apresentação antes da cúpula, o que o Ministério das Relações Exteriores taiwanês negou), oficialmente, os dois governos negaram qualquer ato de censura.
O Departamento de Estado americano disse que uma “confusão” sobre compartilhamento de tela resultou na queda do vídeo de Tang, classificando-a como “um erro involuntário”. Um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca (NSC, na sigla em inglês) afirmou que Washington não pediu que o vídeo fosse cortado.
Em e-mail à Reuters, Tang disse não acreditar que a queda do vídeo foi um ato de censura. O Ministério das Relações Exteriores de Taiwan corroborou a versão oficial americana de “problemas técnicos” e apontou que os dois países “têm uma sólida confiança mútua e uma relação sólida e amigável”.
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