Duas agências federais de saúde dos Estados Unidos recomendaram nesta terça-feira (13) a suspensão temporária da aplicação da vacina da Johnson & Johnson contra Covid-19 no país, depois que seis americanas apresentaram um tipo de coágulo sanguíneo raro e grave após serem imunizadas com o produto. Alegando preocupações semelhantes, a Austrália disse que não vai comprar a vacina.
De acordo com um comunicado conjunto do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e da agência reguladora de medicamentos norte-americana (Food and Drug Administration – FDA), foram reportados seis casos de trombose venosa cerebral em combinação com níveis baixos de plaquetas sanguíneas (trombocitopenia).
Esses sintomas são semelhantes aos mais de 200 casos reportados no Reino Unido, na União Europeia e em outros três países após a imunização com o produto contra Covid-19 da AstraZeneca. As autoridades alertaram que esse tipo de trombose precisa de um tratamento diferente, já que a administração do anticoagulante convencional (heparina) pode ser perigosa.
Os seis casos registrados nos Estados Unidos ocorreram em mulheres entre 18 e 48 anos, depois de 6 a 13 dias da aplicação da vacina da Johnson & Johnson. Uma delas morreu e outra foi internada em condição grave.
Enquanto o CDC, a FDA e o Comitê Consultivo de Práticas de Imunização (Acip) revisam esses casos e avaliam a segurança da vacina de dose única da companhia americana, as agências estão recomendando, por extrema cautela, que a imunização com o produto seja temporariamente interrompida. Essa recomendação vale tanto para centros de vacinação federais, quanto para estados e prestadores de saúde.
"Isso é importante, em parte, para garantir que a comunidade de profissionais de saúde esteja ciente do potencial para esses eventos adversos e possa planejar o reconhecimento e o manejo adequados devido ao tratamento exclusivo necessário com esse tipo de coágulo sanguíneo", dizem as duas agências em nota, recomendando que qualquer pessoa que tenha tido forte dor de cabeça, dor abdominal, dor nas pernas ou falta de ar dentro de três semanas após a vacinação com a Johnson & Johnson entre em contato com seu médico.
Apesar da cautela, o CDC salientou que esses eventos parecem ser extremamente raros. A FDA aprovou a vacina da Johnson & Johnson contra Covid-19 em fevereiro e desde então mais de 6,8 milhões de doses já foram aplicadas nos Estados Unidos.
A FDA informou que a pausa nas aplicações do imunizante deve ser por um curto período – "questão de dias" – e a Casa Branca disse que a recomendação "não terá impacto significativo" no plano de vacinação dos Estados Unidos. No país, as principais vacinas em uso são a da Pfizer/BioNTech e da Moderna. Conforme o governo federal, todas as pessoas que tinham horário agendado para receber a dose única da Johnson & Johnson vão ser imunizadas contra a Covid-19 com a primeira dose de uma dessas outras duas vacinas.
Austrália
Também nesta terça-feira, o governo da Austrália anunciou que não vai comprar vacinas da Johnson & Johnson, citando similaridades com o imunizante da AstraZeneca, que no país, recentemente, foi recomendado somente para maiores de 50 anos devido a preocupações com efeitos colaterais em pessoas mais novas.
Atualmente, somente as vacinas da AstraZeneca e da Pfizer receberam aprovação de uso na Austrália. A Johnson & Johnson fez um pedido de autorização de "registro provisório" do produto e o órgão regulador do país está analisando-o. A Theraputic Goods Administration (TGA) disse que " aprovará qualquer terapia ou vacina para uso quando os benefícios superam os riscos".
Mas o ministro da Saúde, Greg Hunt, disse que o órgão consultivo de vacinas do governo não havia aconselhado que a vacina Johnson & Johnson deveria ser comprada, mesmo sendo uma das únicas do mundo com eficácia comprovada que requer a aplicação de apenas uma dose.
"Não temos nenhum conselho recomendando, neste momento, que o governo adquira qualquer outra vacina de vetor viral", disse ele, referindo-se ao tipo de vacina da Johnson & Johnson e da AstraZeneca.
Especialistas australianos afirmam que esse posicionamento do governo tem a ver com a pressão política sobre os recentes casos de coágulos sanguíneos relatados em vacinados com a AstraZeneca, que é fabricada no país e foi promovida pelo governo. "Imagino que o governo apenas queira evitar qualquer desconforto político futuro promovendo outra vacina com riscos potencialmente semelhante", disse ao jornal australiano ABC Archie Clements, professor de epidemiologia na Curtin University.
O que diz a Johnson & Johnson
Em comunicado à imprensa americana, a Johnson & Johnson afirmou que está ciente de que eventos tromboembólicos, incluindo aqueles com trombocitopenia, foram relatados com as vacinas contra Covid-19. "No momento, nenhuma relação causal clara foi estabelecida entre esses eventos raros e a vacina da Janssen contra a Covid-19", disse a companhia, referindo-se à divisão da Johnson & Johnson que desenvolveu a vacina.
Além dos EUA, o imunizante já foi aprovado por órgãos reguladores na Suíça, Canadá, na União Europeia e pela OMS, o que possibilitou a integração do produto no mecanismo de distribuição global de vacinas anti-Covid, o Covax.
A Johnson & Johnson disse também que vai atrasar de propósito o envio de vacinas para a União Europeia. "Estamos revendo estes casos [que ocorreram nos EUA] com as autoridades de saúde europeias. Decidimos proativamente adiar o envio de nossa vacina na Europa", disse a companhia. "Temos trabalhado em estreita colaboração com especialistas médicos e autoridades de saúde e apoiamos fortemente a comunicação aberta desta informação aos profissionais de saúde e ao público".