Paquistanês exibe cartaz com a foto do líder Bin Laden: Estados Unidos têm informações sobre locais onde o terrorista poderia estar| Foto: Saeed Ali Achakzai/Reuters

"Vazamento de dados pode abalar estratégia norte-americana"

Entrevista com Charles Kupchan, especialista em segurança e relações internacionais da Universidade Georgetown.

Para Charles Kupchan, da Universidade Georgetown, o conflito no Afeganistão não tem uma solução militar, mas sim política, e a condução de Washington ainda parece distante deste caminho.

Como o senhor analisa o vazamento de dados sigilosos?

Há detalhes vazados que são problemáticos, além de informações adicionais sobre o estado ruim das forças de segurança afegãs. Os documentos foram divulgados numa hora em que a elite e a opinião pública têm se mostrado críticas à guerra. Agora, as novas informações apenas confirmam a suspeita de que o conflito não tem sido bem conduzido.

O governo e o futuro da guerra sofrerão algum impacto?

Há a possibilidade de perda contínua do ímpeto e o crescimento do ceticismo sobre se os esforços estão obtendo sucesso e valendo o sangue derramado. É este tipo de informação que pode solapar o impulso e o apoio à guerra. Eu acredito que não há solução militar para o conflito, e que a parte mais importante da estratégia dos Estados Unidos para os próximos meses será a de modelar um tipo de pacto político, o mais sólido possível, que possibilite o início da retirada de tropas.

É uma guerra sem fim?

Os EUA, ao incentivarem a guerra, criam novos inimigos. Muitos dos insurgentes que estão lutando hoje não são extremistas ideológicos com a intenção de atacar os Estados Unidos em território americano. Estão lutando contra soldados americanos, que eles veem como invasores. Quanto mais rápido os EUA reduzirem a sua presença e transferirem mais autoridade aos afegãos, melhor se tornará a situação.

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A Câmara dos EUA aprovou ontem o incremento de US$ 59 bilhões no orçamento destinado à guerra do Afeganistão, mesmo após o vazamento de mais de 90 mil documentos secretos, no domingo, divulgados pelo site WikiLeaks e as publicações The New York Times, Guardian e Der Spiegel.

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A verba, que já passara pelo Senado, foi aprovada por 308 vo­­tos a 114 – 102 democratas se po­­sicionaram contra a medida, decidida em meio a cortes no or­­çamento doméstico. O incremento, enviado ontem mesmo para a assinatura presidencial, será usado no envio de 30 mil soldados ao Afeganistão e em medidas emergenciais.

Obama e Pentágono

Em sua primeira declaração pú­­blica sobre o caso, o presidente americano, Barack Obama, disse ontem que os arquivos não revelam nada novo, apesar de o vazamento ser uma preocupação.

"Embora esteja preocupado com a divulgação de informações que podem colocar em perigo pessoas e operações, os documentos não revelam nada que já não fizesse parte do debate público sobre o Afeganistão."

Os arquivos vão de janeiro de 2004 ao fim de 2009 e revelam diferenças entre a propaganda do governo sobre a guerra do Afe­­ganistão e os relatos em campo. Mostram que o número de civis mortos foi maior do que se sabia e que o Taleban está mais forte do que no início do conflito, em 2001.

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O Pentágono anunciou a abertura de inquérito criminal para encontrar a fonte do vazamento. O Exército trabalha com a possibilidade de os documentos terem sido passados ao WikiLeaks pelo militar Bradley Manning.

Nos documentos estão informações sobre o líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, terrorista mais procurados pelas forças dos EUA desde os atentados de 11 de se­­tembro de 2001 contra Nova York e Washington.

Apesar de o governo dos Esta­­dos Unidos afirmar que não recebe informações de Bin Laden "há vários anos", os documentos de inteligência trazem informações sobre ele desde 2006.