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Lobo-guará também está entre os bichos observados pelos biólogos na pesquisa | Divulgação
Lobo-guará também está entre os bichos observados pelos biólogos na pesquisa| Foto: Divulgação

Uma pesquisa de biólogos do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) mostra que as plantações de eucalipto no interior de São Paulo podem servir de passagem entre áreas de preservação e ajudar na sobrevivência de algumas espécies de carnívoros. Entre elas, o lobo-guará, a onça-parda, a irara e a jaguatirica.

Apesar de defenderem que os eucaliptais não oferecem recursos necessários à fauna nativa, os biólogos descobriram que eles são o que chamam de matrizes permeáveis – um meio para os bichos chegarem a locais onde podem encontrar esses recursos. Funcionam como um tipo de corredor entre diferentes regiões de mata. As conclusões estão em uma tese de doutorado apresentada pela bióloga Maria Carolina Lyra-Jorge, de 37 anos.

"Os animais conseguem passar por ali, coisa que em outras matrizes não conseguem. Aquela situação é positiva porque existem fragmentos de vegetação nativa, que são a fonte que garante aquela biodiversidade, e os eucaliptais conectam esses fragmentos", defende a bióloga, autora do estudo em companhia do biólogo Giordano Ciocheti e da professora Vânia Regina Pivello.

Os biólogos do Laboratório de Ecologia da Paisagem e Conservação (Lepac) registraram durante 18 meses, entre 2005 e 2007, imagens desses animais. Eles estudaram uma área de 50 km² nos municípios de Santa Rita do Passa Quatro, a 248 km de São Paulo, e Luís Antônio, a 273 km da capital paulista. O local foi escolhido por causa das características das áreas de preservação.

Nesses municípios estão localizados o Parque Estadual de Vassununga e a Estação Ecológica de Jataí. Maria Carolina explicou que as reservas eram áreas de usinas que foram desativadas, por isso tinham essa característica fragmentada – áreas de preservação mescladas com espaços preenchidos com eucaliptais ou plantações de cana-de-açúcar. "É um parque de fragmento, que a gente chama de glebas. Ele tinha o formato que a gente queria", disse.

Para registrar os animais no local, eles usaram câmeras fotográficas que disparam ao detectar movimentos de corpos quentes. De acordo com a pesquisadora, havia 21 pontos de coletas, onde as máquinas ficaram penduradas em troncos de árvores. A tecnologia, segundo a bióloga, é usada há muitos anos pelos ecologistas.

O estudo mostra que os eucaliptais são melhores para esses animais como áreas de passagem do que as plantações de cana-de-açúcar, por exemplo. "O eucalipto é protegido pelas empresas contra os incêndios. Ainda que seja uma monocultura, existe uma situação de proteção ali. Mas, se só tivesse eucalipto, não ia adiantar nada, porque nossos animais não vivem apenas no eucaliptal", afirmou a bióloga.

Para a pesquisadora, isso pode mostrar uma melhor condição de sobrevivência desses animais no atual cenário econômico. "A gente mora aqui em São Paulo, quer comer, quer ter carne, e, dentro dessa situação, que é a real, é uma abordagem interessante", disse. "[É importante] os agricultores terem um olhar de conservação e os conservacionistas terem um olhar diferente para a agricultura. Essa é a situação ideal dentro da realidade."

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