A onda de endurecimento na política imigratória de países europeus está sendo sentida na pele por curitibanos. Um jovem de 31 anos chegou a ilustrar uma reportagem do jornal francês Sud-Ouest, da região da Dordogne, como vítima das novas leis.
Uma circular do ministro da Imigração daquele país, editada em fevereiro, reforçou normativa criada em 2003 com a ajuda do então ministro do Interior Nicolas Sarkozy que oferece papéis regularizados a imigrantes que denunciarem os empregadores. Na época, o foco eram prostitutas e cafetões, e o documento não surtiu efeito. Poucos trabalhadores de outros ramos delataram patrões fora-da-lei. Um deles foi Carlos Romancini, que preferiu não conversar com a reportagem.
Em 2006, o jovem sofreu um grave acidente de trabalho quando tombou o caminhão que dirigia na cidade de Sarlat. Correndo o risco de ser deportado, recorreu à delação premiada, mas, três anos depois, vive na clandestinidade por medo de retaliações, à espera da recompensa. Em setembro do ano passado, recebeu o contrário: um ofício da prefeitura pedindo que deixasse o país.
Se a circular do ministro Éric Besson parece um convite à permanência no país, bastando colaborar com a polícia, choca-se com a intenção declarada do mesmo ministro de expulsar da França 27 mil imigrantes em 2009. A preferência é por substituir africanos por pessoas do Leste Europeu.
Para quem entra no país como estudante a situação também ficou mais complicada. Além de conseguir um visto ter se tornado uma epopeia, a polícia faz batidas frequentes em escolas de francês. Uma curitibana que está no país como turista, mas sem carimbo no passaporte, tem presenciado incursões seguidas da polícia na escola onde estuda.
Sempre é poupada da revista, talvez por ter pele e olhos claros, passando facilmente por europeia. Em geral, os colegas negros acabam presos.
Na Espanha, vazou à imprensa uma determinação da polícia de que cada oficial prenda 35 imigrantes ilegais por mês. "Eles se postam às sete da manhã na estação de metrô e pedem papéis a todo mundo", reclamou o dominicano Santo Aybar ao jornal El País.
Em Londres, as batidas em fábricas e comércio ficaram mais rigorosas. Fiscalizadores deixaram de fazer vista grossa para os abundantes documentos falsos e aumentaram a multa de 5 mil para 10 mil libras esterlinas (R$ 33,4 mil).
Outro curitibano, de 26 anos, que prefere não se identificar, confirma que as blitzes estão no metrô, na rua, em todo lugar. Mesmo tendo casado com uma portuguesa, ele ainda não recebeu o visto regular. "Todo dia que chego em casa é uma vitória."
Com a "prática" de quem trabalha há seis anos com passaporte e carteira de motorista falsos, explica: "Existem milhões de maneiras de entrar no país. Aqui se faz documento falso igual se compra um doce."
Reportagem publicada pelo jornal Palop News fala da facilidade que têm os brasileiros de comprar identidades europeias. Se questionados, porém, são facilmente desmascarados. Em uma carteira de identidade supostamente portuguesa, o estado civil trazia "Não sou casado".
Outra suposta portuguesa, quando questionada sobre a distância de sua terra natal de Lisboa, chutou: "3 mil quilômetros". Provavelmente acostumada às distâncias continentais do Brasil, não sabia que a extensão máxima em Portugal é de 900 quilômetros.
"In regola"
A Itália se destaca como país mais criativo na repressão à ilegalidade (leia no artigo), e quem acaba preso deve estar preparado para situações vexatórias. A esteticista carioca Ana Camelo, que mora em Parma, na Itália, conta a história de uma amiga brasileira que trabalha de faxineira naquele país. Presa, ela passou três dias presa na cela das prostitutas, com as quais foi confundida, sem receber comida. Foi deportada, mas o apelo da vida no exterior foi tão grande que se arriscou a voltar, tomando a providência de trocar o passaporte para se livrar do carimbo da expulsão. Conseguiu entrar, acabou beneficiada por uma anistia e ficou "in regola": regularizada.
O magnetismo que atrai brasileiros à Itália é multiplicado entre quem tem ascendência do Bel Paese. O pastor antoninense Fernando Pasi, que mora em Milão, se surpreende com a quantidade de profissionais brasileiros que largam tudo para morar no país e insistir na cidadania. "Dois terços dos que vêm estão iludidos com o sonho de ficar rico em dois anos", diz.