Protesto em frente do Parlamento, em Atenas, contra novo plano de austeridade| Foto: Louisa Gouliamaki/AFP

Referendo

Governo planeja mudar a Constituição

A Grécia realizará um referendo constitucional no segundo semestre deste ano para tentar encerrar a crise política que afeta o país, anunciou o novo porta-voz do governo, Elias Mossialos. "Haverá um referendo no outono (do Hemisfério Norte), precedido em setembro por um amplo diálogo nacional ao qual serão convidados todos os cidadãos preocupados por expressar seu ponto de vista", disse Mossialos.

A reforma constitucional incluirá prioritariamente o sistema político. Segundo várias pesquisas de opinião, os gregos perderam toda a confiança no sistema político e judiciário, que foi incapaz de frear a corrupção no país. Em 19 de junho passado, em um discurso diante do Parlamento, o primeiro-ministro Giorgos Papandreou tinha declarado que a elaboração de uma nova Constituição continuava sendo "prioridade". "Organizaremos um referendo no outono sobre as grandes mudanças que o governo quer para o país", disse Papandreou, que incluiu entre os principais pontos o funcionamento do Parlamento, o sistema eleitoral e uma reforma do sistema judiciário.

Ontem, o primeiro-ministro voltou a implorar ao Parlamento que apoie seu novo governo. Depois de uma semana de turbulência política e social que terminou com mudanças no gabinete do Partido Socialista no poder, Papandreou apelou por apoio de todos os partidos para fazer frente à crise financeira da Grécia, avisando que o país "verá seus recursos se esgotarem rapidamente" se não receber ajuda externa. (AFP)

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Londres - A União Europeia e os gregos es­­tão numa espécie de queda de bra­­ço sobre o futuro econômico do país. Em discussão está a liberação ou não de empréstimo para o país pagar suas dívidas.

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Após dois dias de reunião, os ministros de Finanças da UE de­­ram um ultimato à Grécia: ou o Parlamento aprova um novo pa­­cote de austeridade ou não receberá a parcela de 12 bilhões de eu­­­­ros (R$ 27 bilhões) do empréstimo de 110 bilhões de euros (R$ 249 bi­­lhões) – fechado em maio de 2010.

No pacote estão mais cortes de benefícios, demissões de servidores e privatizações. No total, de­­vem ser cortados mais de 28 bi­­lhões de euros (R$ 63,9 bilhões). O problema é que o governo enfrenta resistência da oposição e também de seu próprio partido (o So­­cialista) para adotar essas medidas.

Hoje, o primeiro-ministro Geor­­ge Papandreou tentará obter um voto de confiança do Parla­­mento. Se falhar, deve renunciar, o que provocará a convocação de eleições antecipadas. O partido de Pa­­pandreou (o Pasok) tem 155 das 300 cadeiras do Par­­la­­mento, mas não está garantido que todos os governistas darão o voto de confiança.

É realmente uma queda de braço. Políticos e os sindicatos gregos (que iniciaram ontem mais uma série de greves) querem que os empréstimos venham sem no­­vas medidas de austeridade. Apos­­tam que a UE irá ceder porque um calote colocaria em risco todo o sistema bancário europeu. Ban­­cos franceses, alemães e britânicos são os maiores detentores de títulos gregos.

Já os ministros das Finanças da UE querem o compromisso da Grécia de que irá ajustar suas contas. Eles temem a reação dos eleitores de seus países, que acreditam que já foi dado muito dinheiro à Grécia, um país onde, segundo eles, as pessoas não trabalham e adoram viver de benefícios.

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Uma nova reunião da UE para discutir o caso foi marcada para 3 de julho. Antes disso, nada de di­­nheiro. A expectativa é que, se a parcela não for liberada, o governo grego não terá como pagar suas contas já em meados do próximo mês.

Problema global

Foi nesse cenário que o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou seu relatório sobre a economia europeia. Para o Fundo, a questão da dívida dos países periféricos da Europa é séria e deve ser resolvida com urgência. Caso contrário, irá reverter a recuperação do continente e colocar seu sistema bancário sob sério risco. Para o FMI, uma nova crise bancária na Europa teria consequências im­­previsíveis.

"A ampla e sólida recuperação prossegue, mas a crise soberana na periferia pode se sobrepor a esse cenário favorável e muito ainda tem de ser feito para garantir uma união monetária dinâmica e resistente", disse o diretor-gerente interino do FMI, John Lipsky.

Segundo Lipsky, o FMI não está atualmente negociando um segundo programa de resgate com a Grécia. Ao contrário, disse Lipsky, o fundo quer ter certeza de que o primeiro programa de austeridade da Grécia está em correto andamento e pode ser totalmente financiado.

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O diretor-gerente do FMI observou ainda que a "posição inicial" da Grécia era "excessivamente difícil", mesmo antes de o país ob­­ter o primeiro pacote de resgate. "Nessas circunstâncias, é compreensível que haja uma correção no meio da trajetória", acrescentou.

De outro lado, o FMI também pediu aos credores oficiais para não abandonarem a periferia, alertando que o "apoio financeiro contínuo de outros países membros da zona do euro é também essencial".