Cartaz da campanha contra a construção de minaretes na Suíça| Foto: Divulgação

Zurique, suíça - É difícil imaginar que seria diferente. Depois de um passado de conquistas e colonizações, os países europeus trouxeram junto à bagagem de seus navios exploradores novas tradições e crenças. Séculos depois, cada dia fica mais nítida a presença dessa multiculturalidade na Europa. Além disso, imigrantes de países pobres ou que foram devastados por guerras civis co­­mo Argélia, Turquia, Marrocos e Sérvia buscam uma vida melhor nos lugares onde a economia tem se mostrado mais pujante e promissora. Infelizmente, nem sempre a convivência e a aceitação desses novos imigrantes têm sido fácil.

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Recentemente, França e Itália se viram envolvidas em debates nacionais sobre a proibição de alguns símbolos religiosos. Uma determinação da Corte Europeia dos Direitos Humanos, sediada na França, proibiu as escolas italianas de manterem crucifixos nas paredes das salas de aula. A alegação é que o símbolo pode perturbar e intimidar alunos que não sejam cristãos. Houve contestação na Itália. O Vaticano divulgou nota em que lamentava a decisão com choque e tristeza. Desde a década de 20, havia uma lei nacional obrigando as escolas italianas a usarem o crucifixo. Uma pesquisa realizada pelo jornal Corriere della Sera revelou que 84% dos italianos são contra a decisão da Corte Eu­­­ropeia.

Mas, na Itália, berço do catolicismo, essa não é a única religião da população. O número de mu­­çulmanos no país se torna cada vez maior, assim como no resto da Europa. Na França, em 2004, o então presidente Jacques Chi­­rac assinou uma lei que proibia o uso de símbolos religiosos em escolas e centros públicos. A de­­cisão foi em prol do Estado laico francês. As vestimentas religiosas também não ficaram de fora da normativa. Véus islâmicos e solidéus judeus foram proibidos em escolas e repartições públicas. Há alguns meses, o atual presidente francês, Nicolas Sarkozy, condenou o uso da burca no país.

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Neste domingo, é a Suíça que se encontra envolvida numa discussão polêmica. A população vai votar em plebiscito sobre a proibição da construção de no­­vos minaretes no país. Na Suíça, basta que um abaixo-assinado consiga um número mínimo de nomes para que o povo possa levar determinado tema às urnas. A Iniciativa Federal contra a Construção de Minaretes reuniu mais de 100 mil assinaturas. Os minaretes são aquelas torres altas das mesquitas, de on­­de os muezins conclamam os muçulmanos às orações.

Segundo a iniciativa popular suíça, os minaretes não são um símbolo religioso, já que não são mencionados pelo Corão nem pelas escrituras sagradas islâmicas. Para a Iniciativa Fe­­deral contra a Construção de Mi­­naretes, as construções são propaganda de um imperialismo político-religioso que passa por cima dos direitos fundamentais dos cidadãos, como, por exemplo, a igualdade entre homens e mulheres.

O plebiscito causou uma gran­­de comoção nacional. Algumas prefeituras, como a da Basileia, consideram o cartaz da campanha contra os minaretes racista e ofensivo e proibiram sua publicação na cidade. O pôster mostra uma mulher vestindo uma burca preta e, ao fundo, a bandeira da Suíça sendo perfurada por minaretes, também negros. Outras cidades como Zurique e Sankt Gallen autorizaram a propaganda nas ruas e locais públicos.

O governo federal e a maioria dos integrantes do Parlamento suíço são contra a proposta e es­­peram que a população diga "não" nas urnas. Uma pesquisa realizada nas últimas semanas indicou que 53% da população é contra a iniciativa e 37% é a fa­­vor. A Anistia Internacional di­­vulgou uma nota em que condena a possível proibição à construção de minaretes na Suíça. "Os suíços devem rejeitar essa proposta. Dessa maneira vão afirmar o apoio à igualdade de direitos para todos que moram no país", afirmou Tim Hancock, di­­retor de campanhas da Anistia Internacional na Inglaterra.

A iniciativa contra as construções islâmicas tem o apoio do Partido Popular da Suíça – SVP, de extrema direita, que tem a maior bancada no Parlamento. O SVP tem feito diversas propagandas xenófobas nos últimos anos, incitando o preconceito contra estrangeiros. No começo de 2009, um outdoor nas ruas mostrava diversas mãos coloridas tentando agarrar o passaporte suíço.

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Assim como na Itália, o islamismo é a segunda religião mais praticada na Suíça, depois do cristianismo. Estima-se que os muçulmanos representem 4% da população do país e sejam aproximadamente 15 milhões vivendo na Comunidade Euro­­peia.