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LA PAZ - O líder dos plantadores de folha de coca e candidato do Movimento ao Socialismo (MAS), Evo Morales, venceu as eleições presidenciais na Bolívia com mais de 50% dos votos, segundo dados preliminares. Os bolivianos foram protagonistas de uma eleição histórica que abriu as portas do Palácio Quemado ao primeiro presidente de origem indígena do país. Depois de as pesquisas de boca-de-urna apontarem a vitória de Morales, mas sem garantir que ele teria mais de 50% dos votos, um sistema de contagem rápida (com base numa mostra representativa de 70% das mesas de votação de todo o país) realizado pela "Apoio, Mercado e Opinião", mostrou que ele venceu com 51% dos votos.

Seu principal adversário, o candidato da aliança de centro-direita Poder Democrático e Social (Podemos), o ex-presidente Jorge Quiroga, ficou em segundo, com 31,3% dos votos. Ele reconheceu a derrota. O empresário Samuel Doria Medida, da Unidade Nacional (UN), alcançou apenas 8,1% e também parabenizou Morales pela vitória.

Com este resultado, Evo é o novo presidente da Bolívia, já que o candidato que conseguir 50% mais um dos votos emitidos passa a ser automaticamente o vencedor da eleição, sem ter de submeter-se a uma votação no Congresso (não existe segundo turno nas urnas no país).

- Este é um triunfo do povo boliviano. A mudança é importante e aqui não se trata apenas de Evo Morales, temos a enorme responsabilidade de mudar nossa História. Com este resultado estou convencido de que esta mudança que buscamos será respeitada - comemorou Morales.

O novo presidente boliviano, de 46 anos, deverá ser empossado no dia 22 de janeiro.

Na Bolívia, se o candidato não consegue os 50% dos votos mais um, a eleição é decidida de maneira indireta pelo Congresso. Assim, se não for confirmado que Morales conseguiu a maioria absoluta - o que parece difícil - ele deverá submeter-se em janeiro a uma votação dos parlamentares eleitos agora. No entanto, analistas locais afirmam que, com uma vantagem tão clara, seria um ato suicida do novo Congresso boliviano não confirmar o resultado das urnas.

O mais provável é que a aliança liderada por Quiroga passe a ter maioria no Senado e a maior bancada na Câmara, porém a eventual nomeação do segundo colocado colocaria o país à beira de uma nova crise política.

- O importante é que teremos um governo legitimamente eleito pelo povo, esperemos que todos aceitem os resultados - afirmou o analista Carlos Toranzo. - Ainda faltam dados definitivos, mas a tendência está surgindo com muita força. Este seria um triunfo histórico, poucas vezes um presidente obteve tantos votos no primeiro turno.

O líder cocalero Morales é um indígena da etnia ayamara, que com um discurso anti-americano e a favor da nacionalização dos combustíveis ganhou a simpatia dos setores mais pobres da Bolívia

Morales se considera "um pesadelo para os EUA" e a recíproca é verdadeira. Washington o considera inimigo de sua cruzada contra as drogas na América do Sul. A Bolívia é o terceiro maior produtor de folhas de coca na região, depois do Peru e da Colômbia, e o governo Bush poderá usar a arma econômica se Morales for eleito, cortando a ajuda ao país.

Os cerca de 3,6 milhões de bolivianos votaram num clima de muita tranqüilidade para eleger presidente, deputados, senadores e governadores de nove departamentos.

Nas ladeiras da região sul de La Paz, as cholas (mulheres com roupas tradicionais, com saias compridas e chapéu) mais idosas caminhavam até os centros de votação, muitas delas com a ajuda de parentes e amigos. Todos faziam questão de votar. Nos bairros mais humildes, a preferência por Morales era expressiva.

- Votei no Evo, ele vai fazer um bom governo. Não gosto do Tuto, é igual a todos os que já fracassaram - disse Luis Poma, de 71 anos, que votou no bairro de Chasquipampa.

Alguns metros mais abaixo, no bairro de Calacoto, o advogado Roberto Rivera Villalba, de 45 anos, admitiu ter votado no candidato do Mas, "porque temos de dar uma oportunidade a uma boa pessoa, uma pessoa que vai ajudar os setores mais oprimidos":

- Não temo uma eventual influência de (Hugo) Chávez em nosso país. A Bolívia encontrará seu próprio caminho.

- Morales nos enlouqueceu, bloqueou o país, derrubou dois governos (Gonzalo Sánchez de Lozada e Carlos Mesa), chega. Se ele queria tanto o governo, toma, vamos ver o que vai fazer. Pelo menos não vai mais bloquear nossas ruas e estradas - afirmou o motorista de táxi Tomás Nacho, que reconheceu ser um eleitor da direita boliviana, mas que terminou optando "pelo candidato que pode nos dar um pouco de paz."

No paupérrimo município de El Alto, cenário das mais violentas manifestações contra os governos de Sánchez de Lozada e Mesa, o voto pelo candidato do Mas também foi maioria.

- Se Evo vencer será bom para os pobres, para os que mais sofrem, como eu. Tenho 68 anos e não tenho direito a uma aposentadoria, vendo roupa para sobreviver - lamentou Juana Elvira Aguilar de Bautista.

No bairro de San Jorge, zona nobre de La Paz, o favorito era Tuto Quiroga. Para alguns eleitores do candidato da aliança Podemos, a eventual vitória de Morales desperta verdadeiro pavor.

- Vou esperar os resultados, mas se Evo vencer vou ao banco e retiro todo meu dinheiro. Tenho muito medo, ele poderia confiscar os depósitos bancários como fizeram na Argentina - comentou a professora Elba Urquizo, de 55 anos.

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