Em vários países da América do Sul pesquisadores encontraram plantas que não existem em outros lugares| Foto: Santiago Madriñán Restrepo

Em 1799, o grande naturalista Alexander von Humboldt e seus companheiros partiram de Caracas, na atual Venezuela, para subir os Andes. Eles enfrentaram uma encosta envolta numa névoa tão espessa que precisaram escalar de mãos dadas pelas rochas.

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Quando a neblina se dissipou, Von Humboldt ficou deslumbrado com a vista. Vastas campinas se estendiam ao seu redor, abrigando uma incrível variedade de árvores, arbustos e flores.

"Talvez em nenhum lugar se possa encontrar, reunidas em um espaço tão pequeno, produções tão lindas e tão notáveis a respeito da geografia das plantas", escreveu ele mais tarde.

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Von Humboldt havia tropeçado em um ecossistema notável, conhecido como páramo. Os páramos recobrem os Andes na Venezuela, no Equador e na Colômbia, desenvolvendo-se em altitudes de 2.800 a 4.500 acima do nível do mar.

"Eles são como ilhas em um mar de floresta", disse Santiago Madriñán, especialista em páramos da Universidade dos Andes, na Colômbia. No entanto, os páramos cobrem apenas cerca de 35 mil km2. Nesse pequeno espaço, Madriñán e outros pesquisadores identificaram 3.431 espécies de plantas vasculares, a maioria não encontrada em nenhum outro lugar do mundo.

Os páramos abrigam variações estranhas de formas familiares, como uma margarida que cresce até a altura de uma árvore.

Mas, segundo um novo estudo, os páramos são ainda mais notáveis do que Von Humboldt poderia perceber. Eles são os lugares com a evolução mais acelerada do planeta.

Os cientistas há muito tempo sabem que, em certos lugares, a evolução é mais rápida do que o normal.

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As ilhas Galápagos, por exemplo, abrigam em torno de 13 espécies de tentilhões de Darwin, todos eles evoluídos a partir de um só grupo de aves que originalmente colonizou o arquipélago. As ilhas têm poucos milhões de anos de idade, o que significa que toda a sua diversidade evoluiu num período geologicamente curto.

Madriñán estuda os páramos há mais de uma década e suspeita que a evolução seja acelerada lá também.

A geologia também ampara sua desconfiança. Os Andes começaram a se formar dezenas de milhões de anos atrás, mas só há 2,5 milhões o norte da cordilheira se ergueu acima da altitude-limite para que árvores sobrevivam. Apenas então toda a diversidade dos páramos pôde surgir.

Para calcular a velocidade da evolução nos páramos, Madriñán e seus colegas investigaram 13 diferentes linhagens de plantas que crescem ali. Eles estimaram a que ritmo as espécies se dividiam umas das outras em cada linhagem e então combinaram essas estimativas em uma só média.

Os cientistas examinaram em seguida dados sobre plantas que crescem em outros lugares de evolução rápida, como o Havaí e a costa do Mediterrâneo.

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Os resultados foram além das suspeitas de Madriñán. Dos oito lugares comparados por ele e seus colegas, os páramos são os que apresentaram a evolução mais acelerada.

Madriñán suspeita que o peculiar clima dos páramos seja responsável pela evolução rápida. Como as campinas ficam próximas da linha do equador, elas são banhadas pelo sol o ano todo. Mas, para aproveitar tanta energia, as plantas também precisam lidar com o frio e com os agressivos raios ultravioleta.

Madriñán e outros estão agora explorando a história das plantas para tentarem explicar sua velocidade notável. "Os páramos são o novo laboratório para estudar a evolução acontecendo em velocidades incríveis", disse ele.