Michael Cohen, ex-advogado e agente pessoal do presidente dos EUA Donald Trump, sai do tribunal federal em Nova York, 12 de dezembro| Foto: SPENCER PLATT / AFP

Ex-advogado do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Michael Cohen foi sentenciado nesta quarta-feira a três anos de prisão por um juiz federal em Nova York. Cohen havia admitido a culpa por irregularidades como evasão tributária e duas violações das regras de financiamento de campanha. Cohen pediu desculpas por sua conduta, mas também disse que sentia que era sua obrigação encobrir as “ações sujas” de seu antigo chefe.

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Na semana passada, promotores federais em Manhattan disseram que Cohen agiu a mando de Trump para intermediar dois pagamentos ilegais para mulheres que teriam tido relacionamentos sexuais anteriormente com o presidente. Trump afirma que esses pagamentos não têm relação com a campanha e nega ter tido qualquer caso com as mulheres, a atriz de filmes adultos Stormy Daniels e a modelo e ex-coelhinha da Playboy Karen McDougal. 

O presidente tem criticado Cohen pelo fato de que o advogado colaborava com promotores e o acusou de tentar buscar com isso uma sentença mais branda. Os promotores federais pediram uma pena de prisão "substancial" para Cohen, o que poderia levar a uma sentença de até 63 meses na cadeia. 

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Como foi a audiência 

Cohen fez um pedido de desculpas emotivo e com lágrimas ao juiz distrital norte-americano William Pauley, assumindo a responsabilidade pelos crimes. 

“Minha fraqueza pode ser caracterizada como uma lealdade cega a Donald Trump”, disse Cohen ao tribunal lotado. Às vezes ele se emocionava e fazia uma pausa para se recuperar. 

O juiz também ordenou que Cohen pague quase US$ 2 milhões em penalidades financeiras por seus crimes. 

Pauley disse que a sentença de Cohen deve refletir os interesses conflitantes do caso Cohen – punindo aqueles que violam repetidamente a lei e recompensando aqueles que cooperam e fornecem testemunho verdadeiro. 

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“Nossas instituições democráticas dependem da honestidade de nossos cidadãos para lidar com o governo”, disse Pauley, considerando seus crimes sérios, especialmente devido à sua profissão. 

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“Como advogado, o Sr. Cohen deveria saber. A evasão fiscal prejudica a capacidade do governo de fornecer serviços essenciais dos quais todos nós dependemos”, disse o juiz. “Ao mesmo tempo em que Cohen está tomando medidas para mitigar sua conduta criminosa, alegando-se culpado e oferecendo informações úteis aos promotores, isso não limpa a sua ficha”. 

“O Sr. Cohen selecionou as informações que ele divulgou ao governo. Este tribunal não pode concordar com a afirmação do réu de que nenhum tempo de prisão é necessário. Na verdade, este tribunal acredita firmemente que um período significativo de prisão é plenamente justificado neste caso altamente divulgado para mandar uma mensagem”, disse o juiz. 

No início da audiência, Pauley resolveu uma pequena disputa entre os advogados de Cohen e os promotores: como os crimes fiscais de Cohen deveriam ser contados sob as diretrizes federais de sentenciamento. Pauley disse que os cálculos do governo estavam corretos e que as diretrizes do sentenciamento sugeriam uma sentença de prisão de até cinco anos e três meses – mas isso é apenas um intervalo sugerido, e o juiz ouvirá os dois lados antes de decidir a sentença. 

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Os promotores, apesar de defenderem um “período substancial de prisão”, disseram que Cohen merecia menos do que as diretrizes pedem porque ele tem sido um tanto cooperativo, mas eles notaram que Cohen nunca concordou em cooperar plenamente e contar tudo o que sabia. 

O departamento de liberdade condicional dos Estados Unidos recomendou uma sentença de 3 anos e meio. 

Em um processo no tribunal que pediu que ele não recebesse pena de prisão, os advogados de Cohen escreveram que os erros de seu cliente eram um produto de sua “lealdade forte” a Trump e colocaram o delito diretamente aos pés do presidente e de seus conselheiros próximos. 

O advogado de Cohen, Guy Petrillo, instou o juiz a ser leniente à luz do que chamou de a coragem de Cohen e “a notável natureza e importância” de sua decisão de cooperar contra Trump. 

“Ele sabia que o presidente poderia encerrar a investigação... Ele se apresentou para oferecer provas contra a pessoa mais poderosa de nosso país”, disse Petrillo. Ele fez isso sem saber qual seria o resultado, sem saber como a política iria se desenrolar”, ou se a investigação especial sobre a interferência da Rússia na eleição de 2016 “até mesmo sobreviveria”. 

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Como resultado, Petrillo disse que Cohen e sua família enfrentaram indignação e ameaças públicas. 

“Este não é um caso de cooperação padrão”, disse Petrillo, porque a investigação em questão é tão importante quanto a investigação do caso Watergate ao presidente Nixon, há 40 anos. 

Petrillo disse que Cohen está disposto a cooperar mais com o FBI, e disse que é injusto que os promotores afirmem que ele está se recusando a discutir outros possíveis crimes que ele possa conhecer. 

“Ele está pronto para fazer isso”, disse Petrillo. “É fundamentalmente injusto que um promotor peça a um tribunal para sentenciar um réu em fatos e circunstâncias hipotéticos”. 

Petrillo pediu ao juiz para reduzir a sentença de Cohen, dizendo que o caso “exige uma total consideração pela misericórdia”. 

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Os advogados de Cohen disseram que ele estava “em contato próximo e regular com a equipe e assessoria jurídica da Casa Branca” quando preparou seu falso testemunho ao Congresso sobre um possível projeto da Trump Tower em Moscou e que ele agiu sob a direção de Trump ao pagar as mulheres. 

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Jeannie Rhee, integrante da equipe de advogados do procurador Robert Mueller, disse ao juiz que Cohen “esforçou-se por prestar contas de sua conduta criminosa de várias maneiras”, fornecendo “informações confiáveis sobre as principais questões relacionadas à Rússia sob investigação”. 

Rhee disse que não poderia entrar em detalhes sobre a investigação em curso na Rússia, mas disse que Cohen foi “útil” para a investigação. Cohen, disse ela, “teve o cuidado de observar o que sabe e o que não sabe... O Sr. Cohen procurou nos dizer a verdade, e isso é de grande valor para nós”. 

Nicolas Roos, um procurador federal em Nova York, foi muito mais crítico de Cohen, dizendo que ele “roubou milhões de dólares em receita da Receita Federal”. 

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Roos exortou o juiz a dar a Cohen uma quantidade significativa de tempo na prisão, como punição por ter “corroído a fé no processo eleitoral e no estado de direito”. 

O promotor pediu ao juiz para mandar uma mensagem com sua sentença de Cohen, que “mesmo indivíduos poderosos e privilegiados não podem violar essas leis com impunidade”. 

Trump e sua equipe jurídica tentaram minimizar as alegações de Cohen, e o presidente disse que Cohen merece uma sentença completa. Trump negou ter os tido os casos, e esta semana acusou seus adversários políticos de se concentrarem no assunto das finanças de campanha porque, segundo o presidente, eles não conseguiram provar que sua campanha se articulou com a Rússia para influenciar e eleição. 

“Cohen está apenas tentando reduzir a sentença”, escreveu Trump no Twitter. “CAÇA ÀS BRUXAS!” 

Cohen se declarou culpado em dois casos distintos. Um foi trazido por Mueller sobre as mentiras de Cohen para o Congresso. O outro foi trazido por procuradores federais em Nova York por causa de alegações de fraude bancária e fiscal e violações no financiamento de campanha. 

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O escritório do conselho especial, por sua vez, parece ver Cohen como um colaborador valioso. Os promotores de Mueller não recomendaram nenhuma punição em particular no caso deles, mas disseram que ele não deveria cumprir nenhuma pena adicional de prisão além de sua sentença no caso de Nova York. 

Eles deram créditos a Cohen por ter fornecido “informações úteis” sobre a investigação da interferência russa nas eleições de 2016, bem como “informações relevantes” sobre seus contatos com pessoas ligadas à Casa Branca entre 2017 e 2018.

Como as investigações influenciam os eleitores americanos

A investigação sobre a relação entre Trump e a Rússia tem se intensificado, e o presidente Trump parece estar contando com os americanos que em geral não estão se importando com o que está sendo revelado.

Quando os promotores apresentaram recomendações de prisão a Michael Cohen na noite de sexta-feira, Trump respondeu twittando que os documentos efetivamente o exoneram de irregularidades. (Eles não o exoneram).

Então, na manhã de segunda-feira, Trump estava de volta, twittando que o dinheiro que Cohen pagou a Stormy Daniels e Karen McDougal para mantê-las caladas sobre seus supostos casos com Trump não era uma violação das leis de financiamento de campanha, mas sim uma "transação privada simples".

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Os sentimentos dos tweets também estão de acordo com o que um funcionário da Casa Branca disse aos repórteres do Washington Post Philip Rucker e Robert Costa como a mais recente estratégia do governo para as descobertas de Mueller, “calculando que a maioria dos eleitores acreditarão no que o presidente lhes diz para acreditar”. 

Como dois rolos compressores se dirigindo diretamente para a Casa Branca, Trump pode tentar com todas as suas forças, mas ele é efetivamente impotente para impedir que Robert Mueller revele suas descobertas ou que os democratas da Câmara continuem com suas próprias investigações ou mesmo impeachment. 

Assim, as opções de Trump são ofuscar e contar que os eleitores, particularmente os seus eleitores, tratem as descobertas como eles têm tratado todas as outras coisas controversas que Trump disse e fez no cenário político desde junho de 2015. Se Mueller acusa Trump de delito, a teoria de Trump de 2016 de que ele poderia atirar em alguém na Quinta Avenida sem pagar um preço político será colocada à prova. Os eleitores se importariam? 

A pesquisa pública é mista sobre o quanto os eleitores se importam. Em outubro, a investigação sobre a interferência da Rússia nas eleições de 2016 foi a menos votada entre as questões importantes para os americanos nas eleições de meio de mandato, de acordo com uma pesquisa da Gallup. Menos da metade dos eleitores registrados disseram ser uma questão extremamente importante para eles, mas apenas cerca de dois terços dos democratas concordaram, comparado a apenas 19% dos republicanos, ressaltando a esperança de Trump de que seus eleitores não sejam influenciados pelas descobertas de Mueller.