Helmut Kohl sendo posicionado no palco para sua recepção oficial de aniversário em sua cidade natal Ludwigshafen| Foto: JOHN MACDOUGALLAFP

O ex-chanceler alemão Helmut Kohl, arquiteto do processo de reunificação da Alemanha em 1990, morreu nesta sexta-feira (16), aos 87 anos, em sua casa na cidade de Ludwigshafen, informou o jornal alemão "Bild". 

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Kohl chefiou a Alemanha Ocidental de 1982 a 1990 e, até 1998, governou a Alemanha reunificada, tornando-se o chanceler democraticamente eleito que permaneceu mais tempo no poder. Ele também influenciou a adoção do euro pela Alemanha. 

Kohl é patriarca do partido CDU (União Democrática Cristã) e mentor da atual chanceler, Angela Merkel, que foi sua ministra. 

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A saúde de Kohl estava debilitada desde que ele sofreu uma queda em 2008.

“Estamos de luto. Descanse em paz", escreveu o CDU na rede social Twitter.   

Arquiteto da reunificação 

Um dos bordões da política diz que grandes mudanças são quase sempre operadas por dirigentes conservadores. A reunificação da Alemanha Kohl é dos casos mais típicos.  

É bem verdade que não coube a ele, como chanceler (primeiro-ministro), provocar a implosão do comunismo, castelo de cartas que caiu juntamente com o Muro de Berlim, levando pouco depois à dissolução da União Soviética. Essa sucessão dramática de episódios pôs fim ao chamado "socialismo real" no Leste Europeu.  

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Mas Kohl foi responsável pela delicada operação que reativou o mapa de um Estado alemão unificado. Foi o mapa costurado por Otto Von Bismack, em 1871, e se dividiu em duas Alemanhas, após a derrota de Hitler, em 1945.  

Paradoxalmente, a imagem pública de Helmut Kohl foi manchada um ano depois de sua saída do governo. Foi quando a mídia revelou a existência de um caixa-dois com a qual a CDU, partido aliás da atual chanceler, Angela Merkel, financiou suas campanhas nos anos 80 e 90. 

O partido do ex-chanceler pagou multa pesada, e Kohl teve sua reputação abalada.  

Ele renunciou em 2000 à presidência de honra de seu partido, histórico adversário do SPD (social-democratas, de centro esquerda) e passou os últimos anos de sua vida num programado e discreto anonimato.  

Uma fratura o deixou a uma cadeira de rodas e um AVC limitou seus movimentos.  

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Mas o ponto alto de sua biografia permanecerá a reunificação, desencadeada, ao final de 1989, pelo colapso da Alemanha Oriental (descendente da zona de ocupação soviética, em 1945) e pela queda do Muro de Berlim.  

Em termos internos, Kohl se viu diante de um complicado quebra-cabeças, que era o de reintegrar a Alemanhã Ocidental à República Federal, território economicamente assistencialista e ineficiente, segundo as fórmulas generosas do comunismo.  

Sua principal decisão foi a de reconhecer a paridade entre o marco ocidental e o marco oriental, que no mercado negro valia um terço. Era uma forma de assumir o prejuízo monetário para que os orientais tivessem o mesmo poder de compra no capitalismo reinstituído em seus territórios.  

Em termos externos, a questão era a de gerir a imagem de uma Alemanha que passaria a ser a incontestavelmente maior economia da União Europeia.  

Nesse momento, Kohl recebeu o sinal verde e o estímulo do então presidente da França, o socialista François Mitterrand (1916-1996). A França abria mão da disputa pela hegemonia europeia, em favor de seu grande aliado e ex-inimigo histórico, desde a guerra franco-prussiana de 1871.  

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Perfil

Helmut Kohl nasceu em Ludwigshafen, na Renânia, numa família católica. A religião o levou à juventude da União Cristã Democrata ainda como estudante secundário. 

 Continuou a militar ao entrar para a Universidade de Heidelberg, onde se formou em história e ciências políticas e fez doutorado. Jovem executivo numa indústria química da cidade em que nasceu, elegeu-se vereador em 1960. Foi o início de uma curta carreira que o levaria, em 1969, ao cargo de governador da província da Renânia-Palatinato.  

Indicado por seu partido como candidato a chanceler, em 1976, foi derrotado pela coalizão de centro esquerda de Helmut Schmidt. Tornou-se então líder da oposição no Bundestag (Câmara dos Deputados). O social democrata Schmidt caiu em outubro de 1982 após perder um voto de confiança parlamentar, e Kohl, aliado aos liberais do FDP, torna-se chanceler e inicia sua carreira como chefe de governo.  

As eleições parlamentares do ano seguinte solidificam seu poder, ao lado, também, do CSU, cristãos democratas da Baviera.  

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Já naquele momento a preservação da prosperidade alemã estava condicionada a seu papel na União Europeia, o que levou Kohl a estreitar aliança com a França de Mitterrand. Foi simbólico o encontro de ambos em 1984, em Verdun –solo da batalha que marcou a derrota alemã na Primeira Guerra Mundial.  

Era um novo atestado de reconciliação, iniciado bem antes por De Gaulle e Adenauer. Mas, agora, com um guarda-chuva institucional europeu bem mais sólido. A Europa se uniria por laços institucionais bem mais fortes em 1992, com o Tratado de Maastricht, do qual Mitterrand e Kohl foram os grandes arquitetos.  

Também aliada dos Estados Unidos em razão da Guerra Fria, Kohl preservou e fortaleceu a presença militar americana em solo alemão. Relacionou-se bem com o presidente Ronald Reagan, em companhia de quem –gesto altamente simbólico– visitou cemitérios militares americanos da Segunda Guerra Mundial.  

Mas a Alemanha também mirava na direção do Leste Europeu, fundamental que aliviaria as tensões na Europa. Kohl, no que foi visto como um gesto bastante ousado, convidou o líder da Alemanha Oriental, Erich Honecker, pçara visitá-lo em 1987.

 Esse embrião de degelo se tornaria de grande utilidade quando, em 1990, se efetivaria a reunificação das duas Alemanhas. Ambas se consideravam até então como dois Estados que dividiam uma única nação.  

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Nas Olimpíadas, por exemplo, as duas Alemanhas desfilavam juntas nas cerimônias de abertura. Em lugar de cada uma cantar seu próprio hino, ambas adotavam o último movimento da "Sinfonia no. 9", de Beethoven.  

Kohl tirou proveito desse sentimento de unidade e se dispôs a pagar o alto preço da modernização da ex-RDA (comunista) em praticamente todos os setores: estradas e sistema de transportes, habitação, parque industrial, informatização e tecnologia.  

E, no que foi uma consequência natural da reunificação, foi Kohl que abandonou Bonn, junto ao Reno, e transferiu a capital de seu país para a reunificada Berlim.