Um integrante do alto escalão do antigo regime do Khmer Vermelho no Camboja disse nesta quarta-feira que não vai depor em seu próprio julgamento, impondo um revés a um país que busca encerrar um dos capítulos mais negros do século 20.
O ex-ministro das Relações Exteriores Ieng Sary, um dos quatro antigos líderes do Khmer Vermelho acusados por um tribunal apoiado pela ONU de crimes de guerra e contra a humanidade, disse que vai se recusar a falar durante seu julgamento, previsto para começar em breve, mas não explicou a razão.
"Não vou depor nem responder a nenhuma pergunta que me for feita, em nenhum julgamento", disse Ieng Sary, de 86 anos, em comunicado.
Estão previstas para 21 de novembro as declarações iniciais no julgamento dos quatro membros mais importantes o Khmer Vermelho ainda vivos: Ieng Sary, "o Irmão Número Dois" Nuon Chea, o ex-presidente Khieu Samphan e o ex-ministro dos Assuntos Sociais Ieng Thirith. O grupo ultramaoísta era comandado por Pol Pot.
O voto de silêncio de Ieng Sary vai decepcionar muitos cambojanos que esperavam que o depoimento dos quatro réus trouxesse alguma explicação das motivações e da ideologia de um dos regimes mais herméticos e assassinos do mundo.
Entre 1975 e 1979 cerca de 1,7 milhão de cambojanos morreram devido a torturas, execuções, doenças ou fome sob o regime do Khmer Rouge.
Formado na França, Pol Pot, o arquiteto de uma revolução retratada no filme "Os Gritos do Silêncio", morreu em 1998.
Ieng Sary tentou anular seu julgamento, argumentando que não poderia ser julgado duas vezes pelos mesmos crimes. Em 1979 ele foi julgado à revelia pelos invasores vietnamitas do Camboja e sentenciado à morte, mas em 1996 recebeu perdão do então rei Norodom Sihanouk.
O perdão de Ieng Sary foi parte de um acordo de paz selado depois de ele e seus seguidores terem rompido com o Khmer Vermelho.