Bagdá – Saddam Hussein passou a maior parte de seus 69 anos acalentando o sonho de tornar-se o maior líder do mundo árabe desde Nabucodonosor – o rei da Babilônia que, em 598 a.C., invadiu a Israel bíblica e escravizou os judeus. Jamais chegou perto disso. O máximo que Saddam conseguiu foi inscrever seu nome na história como o ditador árabe mais truculento de seu tempo.

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Saddam criou no Iraque um aparato repressivo sofisticado, que foi aperfeiçoando ao longo dos 23 anos em que permaneceu no poder. Na época mais dura do regime, após a Guerra do Golfo, a repressão empregava 10% da população.

Saddam já demonstrava essa obsessão de vigiar de perto os adversários 15 anos antes de tomar o poder, em 1964, quando foi nomeado chefe dos órgãos de inteligência do Baath. Sua ascensão no governo foi rápida. Saddam ainda aproveitou os nove anos que ocupou a vice-presidência para moldar o Estado policial que instalaria no Iraque.

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A nova era começou oficialmente em 16 de julho de 1979, quando Saddam comandou uma reunião de emergência do gabinete que ele próprio havia convocado. Nela, denunciou a descoberta de um complô envolvendo parte da liderança do partido, com apoio da Síria, para derrubar o governo. A lista trazia 60 "traidores", incluindo cinco ministros. Guardas retiraram do auditório, algemados, cada um dos citados. A platéia, atônita, levou alguns minutos antes de perceber que um golpe havia ocorrido.

O regime de terror institucionalizado em seguida baseava-se no binômio vigilância-repressão. Ele mobilizou parte da máquina estatal para bisbilhotar a vida dos iraquianos nos locais de trabalho, nas escolas e até em festas de família.

Depois da invasão americana, em 2003, milhares de iraquianos puderam denunciar como funcionavam os aparatos de segurança. Os métodos mais comuns incluíam choques elétricos, espancamentos e queimaduras. ONGs calculam que até 300 mil iraquianos possam ter morrido nos porões do regime.

Como estadista ou estrategista militar, Saddam foi um desastre. Mergulhou o Iraque em duas guerras inúteis, contra Irã e Kuwait, que deixaram meio milhão de iraquianos mortos e arrasaram a economia de um país rico e moderno. Megalômano, sua intenção era abocanhar poços de petróleo dos vizinhos.

Fracassou nos dois objetivos, e ainda amargou 12 anos de sanções econômicas impostas pela ONU após a Guerra do Golfo, em 1991, por recusar-se a entregar seu arsenal de armas de destruição de massa que, no fim, não serviu para nada – nem para mantê-lo no poder e tampouco para torná-lo popular em seu próprio país.

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