Atualizado em 24/11/2006 às 20h32
O ex-espião russo Alexander Litvinenko, morto na noite de quinta-feira, deixou um testamento acusando o presidente da Rússia, Vladimir Putin, de ter tramado a sua morte. Litvinenko, que estava internado num hospital de Londres, na Inglaterra, teria sido envenenado durante um almoço com um contato. No texto, lido por seu porta-voz, Alex Goldfarb, o ex-espião afirma que Putin enfrentará protestos mundo afora.
"Você pode ser bem-sucedido ao me silenciar, mas esse silêncio tem um preço. Você se mostrou tão bárbaro e cruel quanto seus críticos alegam que você é", diz o testamento.
Alex Goldfarb informou que o texto foi ditado no último dia 21, quando o ex-espião estava internado em Londres. "Você pode ser bem-sucedido ao silenciar um homem. Mas um uivo de protesto de todo o mundo vai reverberar, sr. Putin, em seus ouvidos pelo resto da sua vida. Que Deus perdoe o que você fez", acrescenta Litvinenko.
Autoridades disseram que um elemento radioativo, o polônio 210, foi encontrado em amostra da urina do ex-espião. Pat Troop, da Agência de Proteção à Saúde, disse que o nível encontrado no corpo indica inalação, ingestão ou injeção, e não tratamento hospitalar. Ela não informou a causa da morte, que ainda será determinada por legistas. Mas de fato o ex-espião foi envenenado.
O secretário do Interior da Grã-Bretanha, John Reid, informou que a investigação da morte envolve buscas por material radioativo em vários lugares. Radiação foi detectada no restaurante em que ele esteve ao ser envenenado.
Alexander, que tinha 41 anos, era um crítico de Putin. Ele estava investigando o assassinato da jornalista Anna Politkovskaya, que também fazia críticas ao governo russo.
Os amigos do ex-espião dizem que "forças malignas" russas são as responsáveis pela morte dele.
Em Helsinque, onde Putin participa de reunião de cúpula com a União Européia, um porta-voz disse que a alegação "é tão tola e inacreditável que não merece comentário". O próprio Putin, em seu primeiro comentário sobre o caso, disse que os registros médicos não mostram que a morte "foi resultado de violência, isto não é uma morte violente, então não há lugar para especulações deste tipo".
Os chefes de segurança da Rússia negam que seus agentes tenham tentado matar Litvinenko, pois dizem não haver mais a necessidade de liquidar ex-espiões e críticos do país no exterior.
Em 1978, o dissidente búlgaro Gerogi Markov foi atingido na coxa pela ponta de um guarda-chuva, num ponto de ônibus em Londres. Três dias depois, Markov morreu, vítima de um dardo envenenado injetado pelo guarda-chuva. Ninguém jamais foi punido pelo crime, mas sempre se considerou que o homicídio foi obra do serviço secreto da Bulgária - que na época era um satélite da União Soviética - com ajuda da KGB.
Na Ucrânia, o presidente Viktor Yushchenko teve o rosto desfigurado por uma suposta intoxicação por dioxina, depois de um jantar com chefes dos serviços de segurança, durante a campanha eleitoral de 2004, contra um candidato apoiado pela Rússia.
O diretor-geral do Centro de Informação Política de Moscou, Alexei Mukhin, disse que o Kremlin não teria motivos para assassinar ex-espiões. Um porta-voz disse que o caso deve ser investigado pela polícia britânica.
- A posição [do presidente Vladimir] Putin é forte o bastante, e ele não precisa resolver os problemas dessa forma - afirmou.
O Serviço de Inteligência Externa da Rússia também garante não assassinar pessoas.
- Desde 1959, quando o nacionalista ucraniano Bandera foi eliminado, o serviço de inteligência soviético e o sucessor do Primeiro Diretório da KGB, o Serviço de Inteligência Externa, não realizam trabalhos para liquidar fisicamente pessoas desagradáveis à Rússia - disse Sergei Ivanov, porta-voz da agência, a uma rádio moscovita.
Stepan Bandera foi encontrado sangrando e agonizando na porta de sua casa, em Munique. Ele morreu em conseqüência do ataque, e um agente soviético foi detido por envenená-lo.
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