Paul Rusesabagina (em imagem de 2007) havia sido condenado em 2021 a 25 anos de prisão por terrorismo, em processo criticado pelos Estados Unidos e pela Anistia Internacional| Foto: EFE/Toni Albir
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O presidente de Ruanda, Paul Kagame, indultou o ex-gerente de hotel que inspirou o famoso filme “Hotel Ruanda”, sobre o genocídio no país em 1994, Paul Rusesabagina, condenado em 2021 a 25 anos de prisão por crimes de terrorismo, segundo confirmou nesta sexta-feira (24) à EFE a porta-voz do governo, Yolande Makolo.

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“[Rusesabagina] teve sua pena de prisão comutada por uma ordem presidencial após levar-se em consideração seus pedidos de clemência”, disse Makolo à EFE, lembrando que o indulto também incluiu outros 19 membros do grupo rebelde Frente de Libertação Nacional (FLN).

“Ele deve ser libertado amanhã”, acrescentou Makolo sobre o destino de Rusesabagina, considerado culpado em 2021 de criar e financiar a FLN em um julgamento criticado pelos Estados Unidos, o Parlamento Europeu e grupos de direitos humanos, entre outros, por sua suposta parcialidade.

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“Ruanda destaca o papel construtivo do governo dos EUA em criar as condições para um diálogo sobre esta questão, bem como a mediação oferecida pelo Estado do Catar”, acrescentou a porta-voz do governo.

Segundo explicou à EFE uma fonte do Ministério da Justiça, o ex-gerente, de 68 anos, será levado após sua libertação para a embaixada catari em Kigali, “antes de ser transferido para o Catar, onde se encontrará com a família e depois regressará aos EUA”.

O presidente ruandês respondeu assim a uma carta de Rusesabagina datada de 14 de outubro e à qual a EFE teve acesso, na qual o preso pediu “humildemente um indulto para poder regressar com a minha família aos EUA”.

“Gostaria de expressar meu pesar por qualquer conexão que meu trabalho com o [partido político] Movimento de Ruanda para a Mudança Democrática (MRCD) possa ter tido com as ações violentas da FLN. (...) A violência nunca é aceitável, inclusive quando usada para atingir objetivos políticos”, acrescentou.

“Vou passar o resto dos meus dias nos Estados Unidos refletindo silenciosamente”, prometeu Rusesabagina na carta.

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As autoridades ruandesas detiveram Rusesabagina, cidadão belga e residente permanente nos EUA, em agosto de 2020, depois que um avião que deveria tê-lo levado ao vizinho Burundi pousou em Kigali, o que sua família e advogados descreveram como um “sequestro”.

Em 20 de setembro de 2021, a Câmara do Tribunal Superior para Crimes Internacionais e Transfronteiriços de Kigali o considerou culpado de criar e financiar a FLN, o braço armado do MRCD.

O tribunal proferiu uma pena de 25 anos de prisão em um processo judicial criticado por ONGs, como a Anistia Internacional (AI), e pelo secretário de Estado americano, Antony Blinken, que no último mês de agosto, durante uma visita oficial a Ruanda, assegurou ter “convicção de que o julgamento não foi justo”.

Rusesabagina é conhecido mundialmente por ter sido o gerente do Hotel Thousand Hills em Kigali, que abrigou mais de mil tutsis e hutus moderados para salvá-los da morte durante o genocídio de 1994, eventos que inspiraram o filme “Hotel Ruanda”, de 2004.

Mais tarde, o ex-gerente tornou-se um adversário altamente crítico de Kagame, que governa Ruanda com mão de ferro desde 2000.

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Em um vídeo postado no YouTube em 2018, cinco meses depois que a FLN assumiu a responsabilidade por um ataque que matou dois civis no sudoeste de Ruanda, Rusesabagina disse que “o povo de Ruanda não aguenta mais a crueldade e os maus-tratos [do regime de Kagame]” e pediu “apoio incondicional” a essa organização armada.

Desde que chegou ao poder em 2000, o presidente ruandês ganhou reconhecimento internacional por seus sucessos econômicos e pela reconstrução do país após o genocídio de 1994.

No entanto, organizações de direitos humanos denunciaram em várias ocasiões prisões arbitrárias e desaparecimentos de dissidentes nas mãos de seu governo.

O relatório Liberdade no Mundo 2022 da Freedom House constatou que, embora o regime ruandês tenha mantido a estabilidade e o crescimento econômico no país, também suprimiu a dissidência política por meio de vigilância generalizada, intimidação, tortura e supostos assassinatos de dissidentes exilados.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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