O último suspeito de crimes de guerra nazistas a ser deportado dos EUA foi retirado de sua casa na cidade de Nova York nesta terça-feira (21) e será enviado à Alemanha, segundo informações da Casa Branca.
A deportação de Jakiw Palij, de 95 anos, ex-guarda de um campo de concentração, acontece 25 anos depois que os investigadores o confrontaram pela primeira vez sobre suas ações durante a Segunda Guerra Mundial. Na ocasião, ele admitiu que mentiu para conseguir entrar nos EUA, alegando que passou todo o tempo dos conflitos sendo fazendeiro e trabalhando como funcionário de uma fábrica.
Palij viveu tranquilamente nos EUA como desenhista e depois como aposentado até quase 30 anos atrás, quando os investigadores encontraram o nome dele em uma antiga lista nazista. Além disso, um colega dele revelou que Palij "vivia em algum lugar dos EUA".
Aos investigadores do Departamento de Justiça que apareceram em sua porta em 1993, o suspeito disse: "Jamais teria recebido meu visto se tivesse dito a verdade. Todo mundo mente".
Um juiz retirou a cidadania de Palij em 2003 por "participação em atos contra os civis judeus" quando foi guarda armado no campo de Trawniki, na Polônia ocupada pelos nazistas, e emitiu a ordem de deportação no ano seguinte.
Contudo, Alemanha, Polônia, Ucrânia e outros países se recusaram a levá-lo e ele continuou a viver em uma casa no bairro do Queens, em Nova York, com sua mulher, Maria. Sua presença contínua ofendia a comunidade judaica local, desencadeando protestos frequentes ao longo dos anos que contavam com frases como "seu vizinho é um nazista".
De acordo com o Departamento de Justiça, Palij serviu em Trawniki em 1943, o mesmo ano em que 6 mil prisioneiros nos campos e milhões de outros mantidos na Polônia ocupada foram cercados e assassinados. Ele admitiu que trabalhou no local, mas negou qualquer envolvimento em crimes de guerra.
Pressão
Em setembro, todos os 29 membros da delegação do congresso de Nova York assinaram uma carta pressionando o Departamento de Estado a seguir com o processo de deportação. O embaixador dos EUA na Alemanha, Richard Grenell, tornou a decisão uma prioridade após chegar ao país.
A deportação surge após semanas de negociações diplomáticas, as quais a Casa Branca disse que o presidente Donald Trump apoiou. "Por meio de negociações extensivas, o presidente Trump e sua equipe defendem a deportação de Palij para a Alemanha e o avanço dos esforços colaborativos dos EUA com um aliado europeu", informou a Casa Branca.
A deportação de Palij é a primeira de um suspeito de crimes de guerra nazistas desde que a Alemanha concordou, em 2009, em levar John Demjanjuk, um aposentado que morava em Ohio e era acusado de servir como guarda em campos de extermínio. Ele foi condenado em 2011 por participação em mais de 28 mil mortes e morreu dez meses depois, aos 91 anos, com seu recurso pendente.
Palij chegou aos EUA em 1949 sob a Lei de Pessoas Deslocadas, aprovada com o objetivo de ajudar os refugiados da guerra na Europa. Os oficiais dizem que ele participou como um guarda armado no programa nazista para exterminar judeus na Polônia ocupada em Trawniki. De acordo com a denúncia do Departamento de Justiça, ele serviu em uma unidade que "cometia atrocidades contra civis poloneses e outros" e depois na SS em "uma unidade cuja função era reunir e prender milhares de civis poloneses que trabalhavam de forma forçada".
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Depois da guerra, Palij manteve amizade com outros guardas nazistas os quais o governo disse que chegaram aos EUA com falsos pretextos, similares ao dele.
Julgamento
Na Alemanha, Palij será um dentre os mais de 20 suspeitos cujos casos estão sendo investigados pela agência de crimes nazistas do país ou que já foram transferidos para promotores locais.
Todos os suspeitos que teriam trabalhado em campos de extermínio nazistas estão na faixa dos 90 anos. Alguns provavelmente morrerão antes de qualquer sentença e outros podem ser declarados incapazes de ser julgados. Portanto, esta poderia ser a última chance de os criminosos nazistas enfrentarem a justiça por crimes que continuam representando o pior da humanidade.
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"Em 1960, assassinatos e cumplicidade em assassinatos foram os únicos crimes nazistas que os promotores puderam alegar", explica Elizabeth Barry White, historiadora do Museu Memorial do Holocausto em Washington, no ano passado. Os oficiais nazistas de alto escalão eram frequentemente acusados de crimes menores, porque sua responsabilidade direta pelo assassinato de um ou mais indivíduos não podia ser comprovada com base na estreita jurisdição alemã. Guardas ou soldados de baixo escalão, como Palij, nem sempre foram processados.
"À medida que o tempo passou e os perpetradores de alto escalão morreram, o grupo de potenciais réus encolheu para aqueles contra os quais as evidências eram mais difíceis de encontrar", diz White. Uma nova abordagem era necessária e ela veio depois que um tribunal condenou o ex-guarda nazista John Demjanjuk em 2011.
Antes disso, os promotores precisavam fornecer evidências de que os próprios guardas haviam assassinado judeus ou outros oponentes nazistas. Mas o veredicto de Demjanjuk baseou-se em uma abordagem radicalmente diferente: sua mera presença no campo de concentração nazista era suficiente para estabelecer a responsabilidade pelo assassinato.
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Demjanjuk posteriormente recorreu da sentença, mas morreu antes que um tribunal pudesse avaliar suas alegações. A viabilidade do novo quadro legal só foi comprovada há dois anos, quando outro ex-guarda perdeu seu recurso após uma sentença semelhante.
O recente aumento das investigações levou a um novo otimismo entre os promotores da Alemanha, mas outros desafios persistem. Os processos estão atrasados porque a agência de crimes nazistas lida apenas com investigações em estágio inicial que posteriormente são assumidas pelos promotores locais. "Leva tempo para que os promotores revejam e compreendam as evidências [e], dada a idade dos suspeitos, sua capacidade de julgamento pode mudar muito rapidamente, de modo que um caso promissor possa se tornar impossível do dia para a noite", explicou a historiadora White.
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