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Corrida presidencial

Ex-guerrilheiro lidera pesquisas na Colômbia. Outra vitória da esquerda na América do Sul?

Gustavo Petro em debate em março: senador e ex-prefeito de Bogotá foi amigo de Hugo Chávez e teve propostas questionadas por banco americano (Foto: EFE/Mauricio Dueñas Castañeda)

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A esquerda venceu duas das três eleições presidenciais realizadas na América do Sul em 2021: Pedro Castillo foi eleito no Peru e Gabriel Boric, no Chile – a exceção foi Guillermo Lasso, no Equador.

Na primeira eleição para presidente na região em 2022, outro esquerdista aparece como favorito: o senador Gustavo Petro, ex-integrante da guerrilha M-19 e ex-prefeito de Bogotá, está em primeiro lugar nas pesquisas para o pleito na Colômbia, cujo primeiro turno será em 29 de maio.

O levantamento mais recente, realizado pelo Centro Nacional de Consultoria (CNC) na semana passada, mostrou Petro com 38% das intenções de voto, com seu adversário mais próximo, o centro-direitista Federico Gutiérrez, aparecendo com 23,8%. O senador de 62 anos lidera também as simulações para o segundo turno.

É a terceira vez que Petro disputa a eleição presidencial. Em 2010, ele ficou em quarto lugar, e em 2018, chegou ao segundo turno e perdeu para Iván Duque, que não tentará um novo mandato porque a legislação colombiana não permite a reeleição.

As eleições legislativas, realizadas na Colômbia em março, reiteraram o momento favorável ao ex-guerrilheiro, já que o seu partido, o Pacto Histórico, foi o que obteve mais cadeiras: 22 dos 108 assentos no Senado e 34 dos 188 na Câmara dos Representantes. Os ganhos da legenda nas duas casas foram de respectivamente 11 e 27 cadeiras.

Entre as propostas de Petro, estão aumentar impostos para os donos das 4 mil maiores fortunas da Colômbia e para propriedades improdutivas de mais de 500 hectares, custear a formação universitária de todos os servidores da segurança pública, fazer com que mulheres ocupem pelo menos 50% dos cargos públicos e incentivar o uso de energias limpas.

Entretanto, um relatório divulgado pelo banco americano JPMorgan Chase expressou preocupações sobre as propostas do senador colombiano.

O banco ponderou que o plano de governo de Petro “combina metas louváveis ​​de proteção ambiental, igualdade de gênero e equidade social com uma abordagem econômica muito mais centrada no Estado do que a Colômbia tentou em gerações (se é que já o fez)”.

“O plano de Petro projeta levar a cabo um aumento significativo de 5,5% do PIB nas receitas para custear um amplo conjunto de programas sociais, embora os custos específicos destes últimos não estejam definidos”, acrescentou. “Se os desembolsos ultrapassarem as projeções de novas receitas, a Regra Fiscal da Colômbia poderá ser comprometida”, alertou o JPMorgan Chase.

O banco americano destacou também que o aumento do imposto sobre propriedades rurais improdutivas “busca forçar a fragmentação de grandes propriedades agrícolas em parcelas menores”, mas “os críticos apontam para a provável falta de compradores de terras altamente tributadas e o provável papel do Estado na aquisição e reapropriação de terras”.

Amigo de Chávez, desafeto de Maduro

Gustavo Petro tem relações ambíguas com o chavismo. Em 2013, quando era prefeito de Bogotá, esteve em Caracas para o velório de Hugo Chávez e disse ao canal estatal venezuelano Telesur que conhecia o ditador há 19 anos.

“Ambos falávamos a mesma língua sobre [Simón] Bolívar e sobre as possibilidades de justiça social que naquele tempo eram sonhos”, disse Petro, que destacou que os dois se comprometeram com um projeto de “integração bolivariana” para a América Latina.

“Prometemos lutar por isso. Ele não sabia que ia ser presidente da Venezuela, nem eu [que seria] prefeito de Bogotá. Faço parte da transformação pacífica da América Latina vivida na Venezuela, fui eleito presidente do povo de Bogotá por eleição popular”, afirmou o hoje senador e candidato à presidência.

Entretanto, Petro se distanciou do sucessor de Chávez, Nicolás Maduro, e hoje ele e o ditador venezuelano são desafetos. Em fevereiro, Maduro criticou em um programa de televisão os novos líderes de esquerda latino-americanos.

“É uma esquerda covarde contra o imperialismo, contra as oligarquias. Querem passar verniz para que as oligarquias os perdoem e o pior de tudo é que não vão perdoá-los, nenhum deles”, criticou.

No Twitter, Petro rebateu: “Sugiro que Maduro pare com seus insultos. Covardes são aqueles que não abraçam a democracia. Tire a Venezuela [da dependência] do petróleo, leve-a à democracia mais profunda, se tiver que se afastar, faça-o”, escreveu.

Em outra polêmica, Petro foi destituído do cargo de prefeito de Bogotá em dezembro de 2013 e teve seus direitos políticos cassados por 15 anos pela Procuradoria-Geral da Colômbia por mudanças no sistema de coleta de lixo na capital, mas reassumiu o posto após decisão judicial.

Em fevereiro deste ano, foi criticado por aparecer supostamente bêbado num comício. Ele se desculpou depois e disse que “um trago” que havia tomado antes do evento “caiu mal”.

Este mês, houve mais polêmica quando Petro falou em “perdão social” para justificar um encontro na prisão entre seu irmão e o ex-senador Iván Moreno, condenado por corrupção.

Segundo informações da agência Efe, após muitas críticas, o candidato à presidência afirmou que o conceito não significa “que os corruptos saiam da cadeia ou suas penas sejam reduzidas” e que seu irmão visitou a prisão como parte de seu trabalho na ONG Comissão Intereclesial Justiça e Paz.

“Na conversa entre a comissão intereclesial e os presos, não houve oferta de redução de penas nem pedidos de votos. Quem alega que o perdão social é um pacto para reduzir penas de corruptos, que estaríamos combinando em troca de votos, está simplesmente nos caluniando e nós recorreremos ao caminho judicial para nos defendermos”, argumentou.

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