Pedro Castillo, recém-empossado presidente do Peru, nomeou parte do seu gabinete na quinta-feira (29). Castillo apontou como primeiro-ministro Guido Bellido, um engenheiro de 41 anos e novato na política, considerado de esquerda radical e admirador do regime de Cuba. O novo chefe da diplomacia peruana será Héctor Béjar, sociólogo de 85 anos que na década de 1960 foi um dos fundadores do grupo guerrilheiro comunista Exército de Libertação Nacional (ELN).
Bellido é membro do partido marxista Peru Livre, o mesmo do atual presidente, e não era muito conhecido nos círculos políticos da capital, Lima. Ele é um dos 37 deputados do partido que foram eleitos nas últimas eleições e é considerado próximo do fundador do Peru Livre, Vladimir Cerrón, que foi impedido de concorrer nas eleições presidenciais porque foi condenado por corrupção.
O congressista e agora ministro está sendo investigado pela segunda vez em um caso que envolve terrorismo, dessa vez por supostos delito de terrorismo e filiação a uma organização terrorista, segundo noticiou o jornal La Republica nesta sexta-feira. A primeira investigação é por suposta apologia às ações do grupo terrorista Sendero Luminoso.
Segundo o jornal peruano, a Direção Contra Terrorismo da Polícia Nacional enviou ao Ministério Público, no início de julho, um informe que relaciona Bellido a atividades dos remanescentes senderistas na área peruana conhecida como VRAEM; o político teria visitado um acampamento dos senderistas.
As nomeações do gabinete de Castillo, que ainda não anunciou quem serão os ministros da Economia e da Justiça, geraram reações negativas e incertezas no Peru. Após os anúncios, a bolsa de Lima caiu 6% nesta sexta-feira e o dólar ultrapassou pela primeira vez na história o valor de 4 novos sóis peruanos. Um dos cotados para a pasta da Economia é o moderado Pedro Francke.
A organização não governamental Associação Civil Transparência pediu nesta sexta-feira (30) a Pedro Castillo que volte atrás na nomeação de Guido Bellido como primeiro-ministro, devido a declarações "inaceitáveis" sobre o Sendero Luminoso, além de discurso "homofóbico e machista".
A entidade, que funciona como um observatório político e de defesa da democracia, expressou hoje, em comunicado, a "profunda preocupação" com a decisão de nomear Bellido.
"Esta decisão provoca tensão e incerteza em um momento que são demandados consensos para atender as urgências do país e condições para discutir democraticamente as propostas do governo", indicou a ONG na nota emitida.
A nomeação de Bellido, confirmada apesar das críticas, confirma que o governo de Castillo será composto por uma esquerda tradicional e "arcaica", segundo afirmou à Agência Efe o analista político Sandro Venturo.
A Associação Civil Transparência também lamentou que o gabinete ministerial seja integrado por apenas duas mulheres, por isso, cobrou que o presidente eleito passe a "adotar as necessárias medidas corretivas".
"Da mesma forma, convocamos o Congresso da República a atuar com responsabilidade diante desta situação. Os dois poderes devem levar adiante o bem-estar do país e a governabilidade democrática, no marco da Constituição", indicou a ONG.
A nova equipe de Castillo deve pedir nos próximos dias um voto de confiança no Congresso, onde a oposição de centro e centro-direita tem a maioria.
"O nosso gabinete pertence ao povo e responde ao povo", disse Castillo pelo Twitter. "Nosso compromisso é com o Peru e com nenhum outro interesse além de dedicar todos os nossos esforços para construir um país mais justo, livre e digno. Não vamos decepcionar a sua confiança".
O novo ministro das Relações Exteriores do Peru, Héctor Béjar, é advogado e doutor em Sociologia. Ele fundou em 1962 o Exército de Libertação Nacional, grupo guerrilheiro que, assim como o homônimo da Colômbia, teve inspiração na revolução cubana. O grupo foi derrotado pelas forças armadas do Peru alguns anos depoois.
Béjar foi detido em 1966 e passou cinco anos preso, até receber indulto do governo do general Juan Velasco Alvarado.
Ampla rejeição
Desde que foi anunciada a escolha de Bellido, numerosos grupos contestaram a escolha do primeiro-ministro, inclusive bancadas parlamentares de esquerda e liberais, que apontaram que a nomeação não trará confiança e nem consenso ao Peru.
O Partido Morado, que tem como um dos expoentes o ex-presidente Francisco Sagasti, chegou a exigir que o Congresso não aprove o novo gabinete, por acreditar que o premiê "é uma pessoa que não acredita na democracia, nos direitos humanos e na luta contra a corrupção e o terrorismo".
Bellido, um engenheiro eletrônico de 41 anos, é próximo a Vladimir Cerrón, fundador do Peru Livre, que cumpre condenação de quatro anos, em sentença que está atualmente suspensa, por crimes de corrupção, referentes ao período que era governador de Junín.
Além disso, o novo primeiro-ministro enfrenta uma investigação preliminar do Ministério Público peruano por suposta apologia ao terrorismo, baseado em um vídeo em que relutava em classificar como "terroristas" os membros do grupo Sendero Luminoso.