Teve início ontem, no Vaticano, o julgamento de um ex-mordomo do papa e um técnico em informática acusados de terem usado o acesso privilegiado a Bento 16 para furtar documentos confidenciais e vazá-los à mídia. A ação teria sido uma tentativa de revelar a corrupção na Igreja.
Nesta primeira audiência, o painel de três juízes decidiu adiar os trabalhos para a próxima terça-feira, na expectativa de concluir depoimentos no final da semana que vem.
O ex-mordomo, Paolo Gabriele, 46, esteve presente na primeira audiência. Ele servia ao papa suas refeições e o ajudava a se vestir. Gabriele pode ser condenado a até quatro anos de prisão e o técnico Claudio Sciarpelletti, acusado de acobertamento, pode ser condenado a um máximo de um ano. Embora o ex-mordomo já tenha se declarado culpado, isso não influenciará os juízes, já que ele pode estar fazendo isso para acobertar outras pessoas, disseram fontes judiciais do Vaticano.
O júri começou com muitas dúvidas, já que é a primeira vez que o Estado da Cidade do Vaticano enfrenta um processo penal desta envergadura. O presidente do Tribunal é Giuseppe della Torre, que atua ao lado de mais dois juízes, Paolo Papanti Pelletier e Venerando Marano. O promotor é Nicola Piccardi e Gabriele, chamado Paoletto, será defendido pela advogada Cristiana Arru, e Sciarpelletti por Gianluca Benedetti. O julgamento foi assistido ainda por 20 pessoas do público e oito jornalistas.
Escândalo
O escândalo do vazamento de documentos do papa e da Santa Sé, conhecido como "VatiLeak", veio à tona no início desse ano, quando uma tevê italiana revelou cartas enviadas a Bento 16 pelo núncio nos EUA, o arcebispo Carlo Maria Viganó, nas quais ele denunciava a "corrupção, prevaricação e má gestão" no Vaticano.
Em 19 de maio foi publicado um livro com uma centena de novos documentos secretos do Vaticano que revelam supostas tramas e intrigas no pequeno Estado. Cinco dias depois, Gabriele foi detido. Quase dois meses mais tarde, foi colocado em prisão domiciliar.
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