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Afonsín na posse, em 1983: primeiro presidente eleito após a ditadura militar | Víctor Bugge/AFP
Afonsín na posse, em 1983: primeiro presidente eleito após a ditadura militar| Foto: Víctor Bugge/AFP
  • Multidão dá o adeus ao ex-presidente: espera de até 5 horas na fila

Buenos Aires - No maior funeral de Estado na Argentina desde o enterro de Juan Domingo Perón, em 1974, centenas de milhares de pessoas se despediram ontem, em Buenos Aires, do presidente Raúl Alfonsín (1983–1989). Alfonsín morreu na noite de terça-feira, vítima de câncer, aos 82 anos. Símbolo da democracia argentina, foi o primeiro mandatário eleito após a última ditadura militar no país vizinho (1976–1983).

Filas que superavam 20 quarteirões de extensão se formaram nas imediações do Congresso argentino, onde o corpo de Alfonsín será velado até a manhã de hoje. A estimativa às 16 h era que 300 mil pessoas já haviam passado pelo local. Como o estudante de direito Gaston Colazo, 21 anos. Abraçado a uma bandeira da União Cívica Radical (UCR), o partido de Alfonsín, viajou 710 km desde Córdoba para a cerimônia. "Somos filhos da democracia e temos de lutar para mantê-la.’’

As homenagens começaram na noite anterior, com centenas de pessoas concentradas em frente do apartamento de classe média em que Alfonsín já vivia antes da Presidência. Não faltaram velas no asfalto, bandeiras alvirrubras – as cores da UCR – e críticas ao governo peronista de Cristina Kirchner.

Stela Aguero, 41 anos, segurava um cartaz original da campanha de 1983. Tinha apenas 16 anos à época, mas já militava no radicalismo. "Os discursos de Alfonsín me arrepiavam."

Pelo velório passaram políticos argentinos de todas as correntes, como os ex-presidentes peronistas Carlos Menem (1989–1999), Eduardo Duhalde (2002-2003) e Néstor Kirchner (2003–2007), e o radical Fernando de la Rúa (1999–2001). Os ex-presidentes brasileiros Fernando Henrique Cardoso (1995–2002) e José Sarney (1985–1990) também estiveram no local.

Sarney, presidente do Senado e contemporâneo de Alfonsín na Presidência, foi o representante oficial brasileiro nas cerimônias, que terminam hoje, com enterro no cemitério da Recoleta. De Londres, onde participa da reunião do G20, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que Alfonsín foi um "interlocutor e amigo". "Artesão da aliança Argentina–Brasil, Alfonsín deixa a lembrança de um homem de diálogo com profundas concepções democráticas", afirmou.

A presidente Cristina Kirchner, que também está em Londres, antecipou sua volta de sábado para amanhã, para se encontrar com a família de Alfonsín.

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