Alejandro Andrade, ex-secretário do Tesouro da Venezuela, admitiu ter recebido mais de US$ 1 bilhão (R$ 3,8 bilhões) em propina por facilitar a venda de dólares a preços baixos, segundo a Justiça dos Estados Unidos.
A informação está em documentos oficiais que foram tornados públicos na terça-feira (20).
Andrade, 54, chefiou o Tesouro entre 2007 e 2011, durante o governo de Hugo Chávez (1954-2013). Antes disso, havia sido guarda-costas de Chávez. Ele disse ter recebido propriedades, relógios de ouro e carros de luxo por participar do esquema.
Uma das pessoas que pagaram propina a Andrade é Raúl Gorrín, 50, dono do canal de TV Globovisión, que também está sendo processado.
Andrade e Gorrín acumularam uma grande quantidade de dinheiro ao tirar vantagem dos controles cambiais da Venezuela, de acordo com os documentos.
A acusação
A partir de 2003, o governo venezuelano passou a vender dólares com forte subsídio por meio de agências estatais e leilões. No mercado negro, o dólar tem valor até 30 vezes maior.
Com isso, pessoas com acesso privilegiado ao governo conseguem comprar dólares a preço baixo e revendê-los com grande lucro.
Segundo a investigação, Andrade recebeu propinas por facilitar operações ilegais com dólares. Essas transações lhe geraram ganhos que permitiram comprar itens como 17 cavalos, 35 relógios de luxo, 12 carros e seis casas na Flórida, de acordo com a lista de itens que ele concordou em entregar para as autoridades dos EUA.
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Andrade também possuía nove contas bancárias nos Estados Unidos e na Suíça. Os investigadores suspeitam que o uso do banco na Suíça não é uma coincidência. A partir de 2005, o governo de Chávez fechou um acordo para que a instituição financeira em Genebra fosse a gestora do Tesouro. Em 2007, Andrade passou a ocupar o cargo e a ter autoridade sobre as contas secretamente mantidas na Suíça. Estima-se que essas contas possam ter acumulado US$ 14 bilhões.
No fim de 2017, o ex-secretário concordou em assumir a culpa por ter violado a lei dos EUA contra corrupção no exterior e, neste mês, fez um acordo para entregar suas propriedades. O venezuelano deu informações que levaram os americanos a abrir inquéritos contra pelo menos 20 diretores e ex-dirigentes da PDVSA, a estatal do petróleo da Venezuela.
Propinas da Globovisión
Gorrín esteve envolvido no pagamento de mais de US$ 150 milhões (cerca de R$ 570 milhões) em propina para funcionários do governo venezuelano entre 2008 e 2017 em troca de acesso à compra de dólares, segundo os procuradores americanos. O empresário pode pegar até 45 anos de prisão se for condenado. As sentenças devem sair nas próximas semanas.
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O canal Globovisión fazia forte oposição ao governo chavista, mas reduziu suas críticas após ser comprado por Gorrín, em 2013.
Outro venezuelano, Gabriel Jiménez, 50, também assumiu a culpa por participar do esquema. Ele comprou, junto com Gorrín, o banco Peravia, da República Dominicana, para facilitar o processo de lavagem de dinheiro.
Os casos são parte de um amplo esforço dos procuradores dos EUA para acabar com o uso do sistema financeiro norte-americano para acobertar dinheiro venezuelano de origem corrupta.
Nicolás Maduro, ditador da Venezuela, disse que os EUA estão tentando destruir seu governo por meio de sanções financeiras.
Histórico
Andrade deixou o Tesouro em 2010 e passou a presidir o Bandes, o principal banco estatal venezuelano. O governo lhe fornecia uma unidade da Guarda Nacional Bolivariana para que fizesse a proteção permanente de sua família e de sua casa.
Quando Chávez morreu, em 2013, inimigos de Andrade chegaram a avisar a procuradora-geral, Luisa Ortega, que crimes cometidos por pessoas próximas ao líder custaram mais de US$ 20 bilhões para a economia.
Com o fim do governo Chávez, Andrade se mudou para os EUA. Com um jato de luxo, fazia com frequência viagens para Caracas. O ex-segurança de Chávez passou a frequentar locais exclusivos na Flórida e dedicou seu tempo aos cavalos e aos jogos de polo. No total, teria cerca de 150 animais, sendo que alguns poderiam estar avaliados em US$ 500 mil.
A vida do guarda-costas, entretanto, nem sempre foi de luxo. Ele cresceu em um meio modesto, mas caiu nas graças de Chávez em 1992, ao participar do fracassado golpe militar. Durante a campanha eleitoral de 1998, foi seu segurança privado e, em 1999, elegeu-se deputado.
Muitos creditam à perda de um olho seu momento de sorte. Ele perdeu a vista em um golpe de "chapita", uma espécie de beisebol em que a bola é substituída por tampinhas de refrigerantes.
Em um jogo descontraído dentro próprio palácio do governo, uma das tampinhas acertou o olho de Andrade. Desde então, ele ficou ainda mais próximo de Chávez, que se tornou padrinho de seu filho mais novo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo e Folhapress.