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Nem mesmo a vitória de virada sobre o Japão por 4 x 1 foi motivo de alegria para o torcedor brasileiro em Ramallah, na Cisjordânia. No início da noite de quinta-feira, uma incursão do Exército de Israel provocou troca de tiros, correria e muitas lojas e bares foram obrigados a fechar as portas, cancelando a festa das mais de 200 famílias brasileiras.

O corre-corre começou por volta das 21h (15h em Brasília), quando tropas israelenses à paisana entraram na cidade em busca de um palestino acusado de pertencer às Brigadas dos Mártires de al-Aqsa. Quando isto foi descoberto, teve início um tiroteio que durou mais de dez minutos.

Um oficial do serviço de inteligência palestino, Ayman Khateeb, foi morto e pelo menos três palestinos ficaram feridos. Bombas de gás foram lançadas para afastar curiosos e jovens que desafiavam os soldados atirando pedras. Pedestres buscaram abrigo em lojas até que o Exército deixasse a cidade e o toque de recolher involuntário fosse suspenso. "É assim mesmo. Eles vêm, prendem ou matam quem estão procurando, há os minutos de pânico e depois tudo volta ao normal. Não se pode prever nada. Já estamos acostumados e muitos nem dão importância", contou o brasileiro Ghande Juddeh, morador do vilarejo de Betúnia, ao lado de Ramallah.

Vestindo a camisa da seleção, Juddeh estava na cidade com um grupo de amigos para assistir à partida num tradicional bar de Ramallah, a apenas 50 metros do local do confronto. O dono do bar, Mohamad Handan, contou que esta é a segunda vez em duas semanas que foi forçado a fechar as portas devido à violência. Na hora do tiroteio, o bar estava lotado e os clientes buscaram abrigo no andar de cima. Tão logo a calma foi restabelecida, todos foram para suas casas. "Numa noite como esta meu prejuízo passa dos mil dólares, pois precisei desmarcar todas as reservas", lamentou o comerciante.

Boa parte do comércio optou por permanecer fechado e muitos curiosos foram ao local da incursão militar. Blocos de pedras usados para atingir os soldados espalhavam-se pelo chão e vizinhos já cuidavam da limpeza numa tentativa de esquecer as manchas de sangue na calçada e o episódio. O brasileiro Mohamad Abu Kadus, de 20 anos, disse que após a onda de violência assistir ao jogo seria difícil. Mesmo quando o Brasil fizesse um gol, não haveria gritos ou comemorações. A cidade estava de luto.

Distante dali, um encontro na Jordânia reacendia as esperanças de as negociações de paz serem retomadas. Em Petra, o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, e o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, anunciaram que vão realizar uma reunião de cúpula nas próximas semanas. Mesmo informal, este foi o primeiro encontro entre os dois líderes desde que o premier assumiu plenamente o cargo no mês passado.

Num café da manhã para ganhadores do prêmio Nobel, promovido pelo rei Abdullah II, Olmert e Abbas apertaram-se as mãos e sorriram para as câmeras. Olmert manifestou a Abbas o pesar pela morte de 14 civis palestinos em ataques israelenses, sem, no entanto, pedir desculpas. Após o encontro, que Abbas classificou de caloroso, Olmert disse que a reunião seria "em semanas". Abbas, por sua vez, declarou que havia "intenções de preparar um encontro a partir da próxima semana".

O Hamas, que ocupa o governo palestino, no entanto criticou, em nota, o encontro de Abbas com Olmert, "em meio ao sangue palestino vertido em massacres sionistas". Em Israel, Olmert reafirmou que manterá a "guerra contra o terror, sem hesitação e com força total". "Lamento as vidas dos inocentes, mas os moradores de Sderot (atingida por foguetes) também são importantes".

Os primeiros resultados de uma investigação da Força Aérea sobre a morte de dois civis palestinos na quarta-feira em Khan Yunes revelou que um defeito fez o míssil desviar, atingindo uma casa. Entre os mortos estava uma mulher grávida. Segundo a ANP, 37 civis morreram em duas semanas.

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