O Exército da Tailândia deu ontem um golpe de Estado, dois dias após declarar lei marcial sob o pretexto de solucionar a crise política no país depois mais de oito meses de protestos antigovernamentais. "Em nome da lei e a ordem, assumimos os poderes. Por favor, permaneçam em calma e continuem com seus afazeres diários", disse o comandante do Exército tailandês, Prayuth Chan-Ocha, em um anúncio transmitido pela televisão pouco antes das 17h (7h de Brasília).
O chefe do Exército, Prayuth Chan-Ocha, tomou o poder após declarar fracassada uma reunião entre membros do Executivo interino e opositores para buscar uma solução para a crise. A Constituição do país, redigida pelos militares em 2007, um ano após o golpe de Estado contra Thaksin Shinawatra foi suspensa.
Na terça-feira (20), o Exército tailandês decretou lei marcial no país, após vários meses de crise política e de manifestações contra o governo, ocupando as ruas de Bancoc e censurando a imprensa. Pela manhã, soldados e veículos blindados guarneciam diversas posições no centro da capital, principalmente no bairro comercial, no setor dos hotéis e na zona das estações de televisão.
Durante a madrugada de terça, ao declarar a lei marcial, o Exército destacou que a medida "não constituía um golpe de Estado, e teria por objetivo restaurar a paz e a ordem pública".
O governo da Tailândia reagiu ao anúncio afirmando que não foi consultado pelos militares sobre a lei marcial e que o primeiro-ministro interino, Niwattumrong Boonsongpaisan, permanece no poder.
Crise
A Tailândia vive uma grave crise desde o golpe de Estado que derrubou em 2006 o ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, acusado pelos opositores de comandar o governo do exílio.
Com a lei marcial, o Exército assumiu o papel de mediador da crise após oito meses de protestos antigovernamentais que deixaram 28 mortos e centenas de feridos.
Os manifestantes exigiam uma reforma do sistema político, que consideram corrupto, e propunham a criação de um conselho não eleito para implementar mudanças antes da realização de uma votação.
Estados Unidos criticam ação do exército
Agência Estado
O governo norte-americano criticou os líderes militares da Tailândia por terem tomado o poder por meio de um golpe de Estado, expressando desapontamento e alerta com relação às implicações negativas nas relações entre os dois países. O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, em viagem ao México, disse que não havia motivos para a queda do governo tailandês, que ocorreu depois de meses de turbulência interna.
"O episódio terá implicações negativas para a relação entre os Estados Unidos e a Tailândia, especialmente pelo nosso relacionamento com as suas Forças Armadas", disse Kerry.
A declaração do chanceler norte-americano pode desencadear uma série de medidas nos EUA que tenham o objetivo de restringir vários programas de cooperação e de ajuda ao território tailandês.
"Estou desapontado com a decisão dos militares tailandeses de suspender a Constituição e tomar o controle do governo depois de um longo período de tumultos políticos. Não há justificativa para esse golpe militar", condenou Kerry.
O Pentágono informou, ontem, que está revendo os laços militares com a Tailândia.