As pressões internacionais não impediram que o Exército de Mianmar voltasse a usar a violência nas reações aos protestos contra o governo militar do país. Mais de 800 monges foram detidos durante batidas realizadas na noite de quarta-feira e na madrugada desta quinta em quatro mosteiros de Rangun. Durante as operações, um monge morreu e sete foram feridos, segundo testemunhas. Em novas manifestações, um cidadão japonês, possivelmente jornalista, também foi morto.
A principal avenida de Rangun foi esvaziada por militares, que circulam em tanques e abriram fogo com armas automáticas. Enquanto o Exército disparava contra a multidão e lançava bombas de gás lacrimogêneo, pessoas corriam pelas ruas da antiga capital do país - tomadas pela fumaça negra das barreiras montadas pelos manifestantes, liderados pelos religiosos.
Fontes do partido de oposição Liga Nacional para a Democracia (LND) informaram que o seu porta-voz, Mynt Thein, também foi detido. Ele é um dos homens de confiança de Aung San Suu Kyi, líder oposicionista e Prêmio Nobel da Paz. Acusada pelas autoridades de incitar os protestos, Suu Kyi, que vivia em prisão domiciliar desde 2003, foi levada na quarta-feira para a prisão de segurança máxima de Insein, nos arredores de Rangun.
Dezenas de estrangeiros foram expulsos de Mianmar nas últimas semanas por observar ou fotografar as grandes manifestações contra a Junta Militar. Nesta quinta-feira, um destacamento militar entrou no Hotel Traders, no centro de Rangun, revistou quarto a quarto em busca de vários jornalistas estrangeiros que entraram no país com visto de turista.Monges e estudantes anunciam novos protestos em todo o país.
Nesta quinta-feira, cerca de 200 monges foram detidos quando os militares atacaram dois templos no centro de Yangun. Os outros 600 presos são dos mosteiros de Maha Bawdi Pariyatti e Ngwe Kyaryan, na periferia da maior cidade de Mianmar.
As manifestações foram reprimidas com violência na quarta-feira, quando cinco pessoas, entre elas três monges, foram mortas a tiros ou por causa dos golpes que receberam das forças de segurança na cidade de Rangun, a maior do país.
Após os incidentes, um comunicado conjunto emitido pela Associação de Todos os Monges Budistas de Mianmar e pela Geração de Estudantes de 88 anunciou novas manifestações em Rangun e outras cidades do país. Nas principais cidades, está em vigor desde terça-feira o toque de recolher noturno. Além disso, assembléias e reuniões de mais de cinco pessoas estão proibidas.
Alguns birmaneses temem a repetição do massacre de 1990, quando militares ocuparam templos budistas na cidade de Mandalay e detiveram milhares que boicotavam as doações do Exército em resposta às tentativas do regime de controlar a religião. Cerca de 3.000 pessoas foram mortas.
Desta vez, os protestos começaram após o aumento dos preços do petróleo, que tiveram impacto sobre o custo de vida. As manifestações tornaram-se mais intensas há 10 dias, depois de forças oficiais reagirem com violência às ações de monges no interior do país.
China evita que ONU imponha sanções à ditadura asiática
Agora, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) pressiona o país a autorizar o envio de um representante. Em reunião do Conselho, a União Européia e os Estados Unidos também tentaram estabelecer novas sanções ao país, conforme anunciado pelo presidente americano George W. Bush na abertura da Assembléia Geral da ONU. Mas a medida foi rejeitada pela China, que tem poder de veto no órgão mais importante das Nações Unidas.
- Pensamos que sanções seriam inúteis - declarou embaixador da China na ONU, Wang Guangya.
A China é o principal parceiro de Mianmar. O país, governado por uma junta militar há 45 anos, desperta atenção dos vizinhos por ser rico em recursos naturais e energéticos, além de ter uma localização estratégica.
Outras das principais potências mundiais também ajudam a impedir a adoção de sanções maiores contra o país. Em janeiro, China e Rússia, que têm relações amistosas com as autoridades birmanesas, bloquearam uma resolução da ONU que exigia o fim da perseguição de minorias e opositores e a adoção de passos rumo à democracia.