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Carreata pede a libertação do ex-vice-presidente do Paraguai Óscar Denis, sequestrado pelo EPP. Imagem de 13 de setembro de 2020.
Carreata pede a libertação do ex-vice-presidente do Paraguai Óscar Denis, sequestrado pelo EPP. Imagem de 13 de setembro de 2020.| Foto: AFP

No último dia 9, o ex-vice-presidente do Paraguai Óscar Denis, 74, foi sequestrado junto do funcionário de uma de suas fazendas, Adelio Mendoza, 21, a cerca de 470 quilômetros da capital, Assunção. O sequestro foi orquestrado pelo Exército do Povo Paraguaio (EPP), grupo guerrilheiro que, não é exagero afirmar, controla o Norte do país.

Denis ocupou a vice-presidência paraguaia entre junho de 2012 e agosto de 2013, após a destituição de Fernando Lugo. Ele também já exerceu no país os cargos de ministro da Agricultura e Agropecuária, deputado federal, senador e governador do Departamento de Concepción.

A motivação para o sequestro teria sido a morte de duas crianças de 11 anos em um confronto entre integrantes do EPP e as Forças Armadas do Paraguai, que anos atrás criou um braço especial para combater o grupo. A informação é de que as meninas eram filhas de guerrilheiros.

Apesar de Mendoza ter sido libertado na segunda-feira (14), o político permanece em domínio do EPP. A guerrilha exigiu a distribuição de aproximadamente US$ 2 milhões em alimentos, em 40 localidades diferentes, para entregar Denis vivo, o que está sendo cumprido pela família.

Mas o grupo também pretende utilizá-lo como moeda de troca. Os planos do EPP consistem na libertação de Denis em troca de Carmen Villalba e Alcides Oviedo, líderes do movimento condenados pelo governo do Paraguai no início de 2020. O motivo? A tentativa de assassinato de três policiais em 2004.

O que é o EPP?

Ainda que esteja em atuação há mais de duas décadas, o EPP, que é definido como um grupo marxista-leninista, foi fundado formalmente em 2008, sob a justificativa de lutar por uma distribuição de terras mais igualitária no Paraguai, por meio de uma ampla reforma agrária.

O objetivo do EPP pode ser resumido como a substituição do que o grupo chama de “burguesia imperial” por um “governo popular”, que seria instituído via “revolução” – isto é, à força.

Nos anos 1990, o EPP atuava como uma espécie de “braço armado clandestino” do Patria Libre, partido paraguaio de extrema esquerda. De acordo com o governo do país, o EPP não só se inspirou nas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) como foi treinado pela guerrilha colombiana.

A guerrilha também tinha ligações com a Frente Patriótica Manuel Rodríguez, organização armada chilena que atuou como braço armado do Partido Comunista do Chile. Há, ainda, suspeitas de que os guerrilheiros do EPP se dedicam ao narcotráfico e recrutam crianças e adolescentes para o grupo. Os rebeldes são habilidosos com explosivos e possuem amplo arsenal de armas automáticas.

Sequestros

O EPP chamou a atenção do governo do Paraguai na primeira metade da década de 2000, após uma série de sequestros de “alto nível”, como o de Cecilia Cubas, em 2004, filha do ex-presidente Raúl Cubas, que acabou assassinada pelo grupo.

Entre os sequestros perpetrados pelo EPP está também o de Arlan Fick. Então com 16 anos, o jovem, filho de um casal de fazendeiros brasileiros instalados na região de Concepción, foi sequestrado pela guerrilha em 2014. Ele passou 267 dias em cativeiro, onde foi mantido amarrado e com os olhos vendados. Apesar de todo o terror sofrido, o adolescente foi libertado perto do Natal daquele ano, em boa saúde.

Há líderes do EPP que já estão atrás das grades. Segundo a Justiça paraguaia, os crimes incluem, além dos famigerados sequestros, assaltos a bancos e atentados contra delegacias de polícia do país.

Como conseguem apoio?

A InSight Crime, organização sem fins lucrativos de jornalismo investigativo que tem como foco a América Latina e o Caribe, revelou como o grupo busca obter apoio: o EPP realiza sequestros, que têm como alvo, principalmente, proprietários de terras de ascendência europeia, e exige como recompensa a distribuição de alimentos a comunidades empobrecidas, rurais e indígenas. Assim, conseguem apoio comunitário.

“Eles dizem que são como Robin Hood, roubando dos ricos para dar aos pobres, mas também somos pessoas que trabalham duro”, já afirmou um fazendeiro ao jornal britânico The Guardian, sob condição de anonimato.

Outra fonte de renda importante para o grupo é o tráfico de maconha. Nos últimos anos, várias famílias Menonitas que viviam na área rural do Departamento de San Pedro foram ameaçadas e expulsas pelo EPP, que busca aumentar sua presença em uma região de fronteira com o Brasil que é fundamental para o tráfico de maconha no Paraguai, segundo a InSight Crime.

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