Depois de quase 30 anos no poder, o líder do Sudão, Omar al-Bashir, foi deposto e preso pelo exército do país.
Nesta quinta-feira (11), o ministro de Defesa, Awad Ibn Ouf, anunciou em cadeia nacional de TV que os militares devem comandar um governo de transição por dois anos.
O anúncio de Awad Ibn Auf, que também é vice-presidente do Sudão, veio depois de quatro meses de protestos da população em todo o país, provocados por aumentos de preços em bens básicos, mas também refletindo um desejo profundamente arraigado pela substituição do regime.
Antecipando o anúncio do exército, multidões reunidas do lado de fora de sua sede em Cartum gritavam: "caiu, vencemos".
A mídia estatal do Sudão também informou que todos os presos políticos, incluindo os líderes dos protestos, estavam em processo de serem libertados das prisões em todo o país.
Divisão nas forças armadas
Em março, Bashir, de 75 anos, anunciou estado de emergência em resposta aos protestos, dando ao poderoso aparato de segurança do país poderes quase ilimitados para dispersar as centenas de milhares de pessoas que se reuniram nas ruas da capital Cartum e outras cidades.
Mas depois que as manifestações começaram, em 6 de abril, as divisões dentro das forças armadas tornaram-se cada vez mais visíveis à medida que oficiais de baixa patente começaram a participar dos protestos. Oficiais de alto escalão seguiram declarando sua intenção de não dispersar os manifestantes.
A luta entre diferentes facções das forças de segurança levou a batalhas de rua, resultando em pelo menos 11 mortes, incluindo seis membros das forças armadas, segundo informou o ministro da Informação, citando um relatório da polícia. Dezenas mais foram mortas desde que os protestos começaram em meados de dezembro, de acordo com grupos de direitos humanos.
Isolamento político
Nos últimos dias, Bashir ficou cada vez mais isolado, pois os parceiros de coalizão de seu partido, o Partido do Congresso Nacional, se recusaram a se juntar aos contra-protestos em seu apoio.
Centenas de milhares de sudaneses se divertiram nas ruas de Cartum nesta semana, cantando, dançando e agitando cartazes impressos com esperançosos slogans pedindo a reconstrução de seu país.
Estes protestos foram inicialmente organizados pela Associação de Profissionais do Sudão, um grupo que atraiu muitos médicos, advogados e estudantes. Nesta semana, um pedaço significativo da população de Cartum, de cerca de 2 milhões, aderiu.
Nos anos finais de seu governo, Bashir desviou grandes quantidades do orçamento nacional para os gastos militares, enquanto a inflação elevou os preços da farinha e de outros produtos básicos.
Novo começo
O Sudão experimentou inúmeros golpes no passado, incluindo o de 1989 que levou Bashir ao poder. O uso da televisão estatal e do rádio pelo militares para anunciar que haviam assumido o poder lembrou muitos sudaneses mais velhos das transições passadas.
"Esta é uma potencial novo começo para o Sudão", disse Rashid Abdi, analista regional do International Crisis Group. "Isso mostra que até mesmo as ditaduras mais arraigadas são vulneráveis. O futuro é incerto, mas agora há uma chance melhor de arquitetar uma transição viável e inclusiva."
Bashir foi indiciado em 2009 pelo Tribunal Penal Internacional por cinco acusações de crimes contra a humanidade, duas acusações de crimes de guerra e três acusações de genocídio por ter dirigido os combates na região sudanesa de Darfur, há mais de uma década. Ele provavelmente permanecerá no Sudão em prisão domiciliar ou buscará refúgio em um dos países, como a Arábia Saudita ou o Egito, que lhe deram asilo no passado sem extraditá-lo.
Esta é uma história em desenvolvimento. Mais informações em breve.